Como estão distribuídas as minhas poupanças?
Como sabem, descrevo aqui no blogue as minhas experiências financeiras, boas e más. O meu objectivo é partilhar o que vou aprendendo com o que vou vivendo e com o que fazem o favor de me ensinar.
Muitas vezes aprendo com os vossos comentários, sugestões e críticas. Daí considerar que ao partilhar as minhas circunstâncias estou no fundo também a investir em mim.
Acontece muitas vezes, olhar para um produto, bem ou serviço e imediatamente perceber que há ali qualquer coisa que está mal ou que pode ser melhorada. É o chamado “olhar estrangeiro”. Por isso, decidi mostrar-vos como estão divididas neste momento as minhas poupanças.
Esta divisão, que podem ver no gráfico, está a funcionar comigo. Não quer dizer que funcione consigo. Não são conselhos financeiros. E se é alguém que percebe mais de investimento e poupanças do que eu, as suas críticas e sugestões serão muito bem-vindas.
Para terem um ideia, há 3 anos este gráfico era muito diferente. Era 10% fundo de emergência e 90% Certificados do Tesouro Poupança Crescimento (do Estado). Ganhava umas migalhas e ficava todo contente.
Hoje, mantenho o Fundo de emergência, mas decidi arriscar e tentar ganhar dinheiro com o meu dinheiro. Atenção que, ao contrário de muitos YouTubers e influencers, não estou tentar convencer-vos a comprar isto ou aquilo ou a que invistam ali ou além a troco de comissões. O meu objetivo é apenas partilhar informação e ajudar a aumentar a nossa literacia financeira. Não tenho nenhum interesse escondido.
Como tenho o meu dinheiro distribuído
Para as emergências (Conta à ordem)
O meu Fundo de emergência está numa conta à ordem a render zero. É mesmo assim que o quero. Tem de estar à mão de semear. Se for ao multibanco posso levantar imediatamente o que o multibanco me permitir ou posso transferir e pagar o que precisar sem ter de estar à espera 2 ou 3 dias até que fique disponível na conta. Este valor dá para sustentar a minha família – sem luxos e cortando tudo o que for supérfluo – durante 1 ano. É para manter como conta “sagrada”.
Este dinheiro não é para mais nada a não ser emergências. Não é para férias, nem telemóveis, nem roupa nem jantaradas. E se precisar ir a esta conta, a prioridade passa a ser repôr o que tirei. Se as minhas despesas necessárias aumentarem entretanto, terei de atualizar o meu Fundo de emergência também. Já tem o seu?
PODCAST | #44 – Exemplos reais (os meus) da importância de ter um fundo de emergência
Fundos de investimento
Assim que completei o meu Fundo de emergência, comecei a subscrever as “sobras” em fundos de investimento. Tenho a maior parte dos meus Fundos de investimento em dois bancos (Activobank e Best) porque foram na altura os mais baratos em comissões e os que tinham maior diversidade de fundos disponíveis quando comecei a investir. Mas há mais bancos agora com bastantes fundos e comissões também relativamente baixas, como o BIG, por exemplo.
Subscrevi recentemente um fundo no robôadvisor do Openbank, mas considero que as comissões de gestão são demasiado altas para o meu gosto (1,3% ao ano). Subscrevi mesmo só para testar. Vou lá ficar um ano pelo menos porque ganhei 40 euros por ter aberto a conta (e isso significou 8% de rendimento, face aos 500 euros que lá coloquei e que terei de manter durante 12 meses). Aproveitei e em vez de os deixar lá parados, investi-os. Vamos ver o que acontece. Estive a perder dinheiro durante um mês, mas atualmente está ligeiramente positivo.
Também subscrevi o Smart Invest do Banco Invest que também me pareceu um produto simples. Como já lá tinha o PPR, experimentei (o mínimo é 50 euros). E tem a vantagem de ter a mesma tributação fiscal dos PPR. E posso com um simples click, pelo que percebi, escolher entre 3 tipos de perfil sem qualquer penanização ou custo. Ou seja, escolhi no início o perfil dinâmico (com maior percentagem de acções), mas se entender que não quero correr tanto risco, posoo baixar para o perfil moderado ou conservador e voltar ao perfil mais arriscado, quando entender. Falarei destes dois produtos específicos num artigo à parte, porque são muito interessantes para quem não percebe nada disto. Não tem de fazer quase nada. As comissões são mais altas do que se escolher sozinhos os fundos, mas ganha em simplicidade enquanto aprende sobre os outros.
Os Fundos de investimento são cabazes de ações, mas não são ações. Imagine um bolo em que os ingredientes são 200g de uma marca automóvel, 100g de Tesla, 50g de Amazon, 250g de Apple e assim sucessivamente. Se gostar dos ingredientes desse bolo (o fundo de investimento) compra uma fatia desse bolo. Quem faz o preço dessa fatia do bolo (chama-se unidade de participação) é a corretora ou gestora de fundos (há dezenas de “pasteleiros” e de “bolos”).
Uma unidade de um fundo pode custar 20 euros, 50, 100, 500 ou 1.000 euros. Conforme o dinheiro que tiver para investir, compra o respectivo número de unidades de participação (UP) que quiser. Por exemplo, eu subscrevo duas unidades de participação do mesmo fundo quase todos os meses (quando tenho poupança disponível… nem sempre consigo). Tenho cerca de 10 fundos de investimento diferentes (5 num banco e 5 no outro). Posso resgatar qualquer um deles (parcial ou totalmente) ou todos, quando quiser. Tenho 28% das minhas poupanças em Fundos de investimento.
Devo dizer que esse valor não foi o valor que subscrevi inicialmente. Ele tem crescido bastante. E esta percentagem já inclui esses “lucros”. O que investi já cresceu em média cerca de 20%.
Fora do Fundo de emergência, todos os meus investimentos são sem capital garantido. Portanto, a qualquer momento posso perder todo o crescimento que tive até hoje. Mas só perderei dinheiro se os resgatar. Se isso acontecer, a minha intenção é esperar até que regressem aos lucros novamente.
Os meus fundos de investimento – Balanço da semana #38 (9 de abril)
NOVO VÍDEO NO YOUTUBE | Como se subscreve um fundo de investimento e quanto custa
Ações/ETF
Um amigo ensinou-me a comprar e a vender ações a um custo extremamente baixo. Uso a plataforma Degiro, mas também já me inscrevi na XTB. Não ganho nada por estar a dizer isto, OK? São plataformas com comissões muito, muito baixas. Alguns produtos chegam a ser grátis (são um chamariz para novos clientes).
Por exemplo, costumo pagar cerca de 50 cêntimos cada vez que compro ou vendo uma ação ou conjunto de ações. Nos bancos tradicionais isso custa mais de 10 euros ou até dezenas de euros por ano. Esta parcela já representa também 28% das minhas poupanças.
Também é aqui que tenho 5 ETF’s, ou seja, unidades de participação que seguem os índices das principais bolsas mundiais. Se as bolsas crescerem, eu “ganho” dinheiro, se elas descerem “perco” dinheiro. Mais uma vez, só ganho ou perco dinheiro no momento do resgate das minhas unidades de participação. Paga sempre 28% de imposto sobre as mais valias quando resgata, tal como nos depósitos a prazo.
PPR
“Descobri” os PPR há apenas alguns meses. Para ser exato, subscrevi os nossos primeiros PPR em novembro de 2020. Ainda não fez sequer meio ano. É talvez o maior “arrependimento” que tenho. Quando tinha 20 anos achava convictamente que os PPR eram apenas para os “velhos” e que poderia fazê-lo quando estivesse mais perto da reforma. Que grande erro financeiro da minha parte! Neste momento, os meus dois filhos já têm cada um o seu PPR (um tem 8 anos e o outro 16) com reforços mensais. Se tivesse começado aos 23 anos, com apenas 25 ou 50 euros por mês hoje teria mais de 100 mil euros, só por via do crescimento das bolsas.
Aproveitei e fiz também um para mim e outro para a minha mulher, e não os coloco no IRS para poder usar esse dinheiro já amanhã se precisar, sem qualquer penalização. Assim não tenho de pedir autorização a ninguém para usar o meu dinheiro. 23% das minhas poupanças estão atualmente em Fundos PPR.
Todos os meses faço no blogue a atualização de quanto já ganhei (ou perdi) com os meus 4 PPR. Tem aqui o mais recente.
PPR | Mês #5 – Quanto estou a ganhar (ou a perder) com os meus PPR (março 2021)
PPR | Fiz pela primeira vez na minha vida um PPR como investimento
VÍDEO – Onde posso investir as minhas poupanças para renderem mais?
P2P (Crowdfundind/Crowdlending)
O que é isto? De uma forma simplista, eu sou uma espécie de banco em que empresto dinheiro a outras pessoas ou empresas e elas pagam-me juros em vez de pagarem juros aos bancos.
Empresto 5, 10 ou 15 euros, ou 200, 300 ou 500 e recebo o juro proporcional ao que emprestei. Todos estes meus investimentos/poupanças têm risco. Se eles não pagarem eu perco o dinheiro que lhes emprestei. Tal como o banco perde se você deixar de pagar a prestação.
Tenho 7% das minhas poupanças nestas ferramentas de investiumento.
Tenho uma parte desses investimentos na RAIZE (que recentemente mudou as regras e por isso estou de saída), tive na Housers (neste momento estou a avaliar novos investimentos, mas nesta altura de crise não estou muito comprador) e na Bondora (um valor muito pequeno). Há muitas plataformas deste tipo. Pesquise no google.
RAIZE | Mudaram as regras a meio do jogo. Ainda vale a pena investir na Raize?
VÍDEO – Housers: Comprar ou arrendar uma casa a partir de 50 euros?
Criptomoedas
Comprei um valor relativamente pequeno de bitcoin há cerca de um ano e meio e esse valor subiu 500%. Resgatei a Bitcoin e “reinvesti” esse montante “surpresa” novamente em ferramentas ligadas à blockchain e à DeFI (Decentralized Finance).
É todo um mundo novo e completamente arriscado. Se tiver curiosidade, coloque lá (pouco) dinheiro para perceber como funciona, porque acredito que será um futuro. Bom ou mau, ou diferente, não faço ideia. Mas sempre no pressuposto de que é dinheiro que possa perder sem verter uma lágrima. É um risco absoluto se não domina o que está a fazer.
Tenho atualmente 14% das minhas poupanças em criptomoedas. E o que elas vão rendendo estão a alimentar os PPR.
Tem aqui um episódio do podcast onde explico o que aconteceu comigo e como fiz o meu primeiro investimento em bitcoin.
Para os mais especialistas, quero acrescentar que sim, já comprei uma ledger e estou à espera que chegue a casa :). Continuo a saber muito pouco, mas tenho vontade de aprender. E as criptomoedas são daquelas coisas que só estando lá é que conseguimos perceber como funcionam.
Diversifique as suas poupanças
Em resumo, neste momento tenho as minhas poupanças distribuídas por várias áreas e ferramentas de investimento. Se umas correrem mal, espero que as outras aguentem a “pancada” mantendo uma média de crescimento que estabeleci como alvo de 7% líquido ao ano.
Isso quer dizer que algumas estão a crescer 50 ou 60% e outras 2 ou 3%. E que outras estão a crescer 5%, 10% ou 20’%.
Não caia no erro de escolher pôr tudo na que supostamente lhe vai render 50% ao ano. Isso não vai acontecer ininterruptamente. Para a bitcoin me render 500%, muitos perderam dinheiro ou vão perder. Tive sorte porque comprei barato e vendi caro. Podia ter comprado caro e estar 2 ou 3 anos (ou 10 anos) a ter o meu “investimento” a perder 50 ou 60% ou mesmo a totalidade.
Quanto mais arriscado for um investimento menos dinheiro lá deve colocar. A menos que tenha dinheiro para dar e vender.
A minha experiência ensinou-me que com 10% das minhas poupanças consigo teoricamente (e no meu caso, na prática) um rendimento dezenas de vezes superior a 90% das restantes poupanças em depósitos a prazo ou Certificados do Tesouro.
Espero que o retrato das minhas finanças lhe tenha sido útil para perceber como se pode diversificar uma carteira de investimento. E dentro de cada categoria, deve ter também o mesmo objetivo de diversificação. Por exemplo, tenho cerca de 10 fundos de investimento diferentes. Nas bolsas, tenho 5 ETF e várias ações de empresas diferentes. Nos PPR, tenho 4 diferentes, e assim sucessivamente.
Qualquer um pode começar a investir
Não quero que pense que tenho uma fortuna por ter tantos investimentos diferentes. Os valores que lhe dei são percentagens. Isto quer dizer que tanto se aplica a quem tem 5 mil euros de poupança como a quem tem 50 mil ou 500 mil euros para investir.
Esta diversificação é possível com 1.000 euros. Claro que se só tem 1.000 euros eles devem estar muito quietinhos no fundo de emergência e nem pense em se meter nestas outras coisas que mencionei.
Se já tem um fundo de emergência com pelo menos 5 mil euros, e não sabe o que fazer a seguir, já pode começar a ler com mais atenção estes artigos que vou escrevendo. Alguns dos investimentos que fizer a seguir podem fornecer-lhe dinheiro “de graça” para reforçar o seu fundo de emergência até ter 12 meses de todas as suas despesas mensais. Mas com o máximo cuidado. Tem risco.
De vez em quando, farei uma atualização da distribuição da minha carteira de poupança/investimento, se verificar que vocês têm interesse nisso e querem ler mais sobre este tema.
Seja como for, tem de ficar MUITO CLARO que é apenas a minha experiência. Não é um conselho para fazerem a mesma coisa. Pessoas com muito mais experiência do que eu, até podem considerar que a minha carteira está desiquilibrada. É o que é. Como lhe disse no princípio, para mim tem funcionado.
Posso chegar, daqui a uns anos, à conclusão de que esta minha estratégia foi um fracasso ou que havia outra muito melhor. Você tem uma cabeça para pensar e os seus objetivos podem ser completamente diferentes dos meus.
O que lhe peço é apenas que veja como tem os seus investimentos distribuídos. Dinheiro parado não rende. Não perde, mas não rende. Avalie.