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Está a pagar demais na eletricidade? Veja esta fatura

Milhões de portugueses estão a desperdiçar milhões de euros sem necessidade nenhuma, simplesmente porque não sabem ler os “sinais de alarme” na sua fatura da eletricidade. Veja se conhece estes "truques" para baixar a conta da luz. Esta é uma das minhas guerras mais longas.

Está a pagar demais na eletricidade? Veja esta fatura
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Este é um exemplo muito prático. Um amigo mostrou-me a fatura dele e perguntou-me se estava a pagar demais. Tal como um médico olha para um “Raio X” e percebe logo se está tudo bem ou mal e onde, qualquer um de nós que saiba “ler” uma fatura de eletricidade percebe logo se está a pagar o melhor preço possível ou se está a deitar dinheiro à rua. 

Não é ciência aeronáutica, ou astrofísica. Basta perdermos 5 minutos para percebermos como funcionam os preços da eletricidade e do gás. Vamos por partes.

O exemplo seguinte é uma fatura da GALP, mas podia ser de qualquer empresa, OK?

A maioria das pessoas só olha para o valor final da fatura, reclama e paga. Vamos olhar para esta fatura com atenção? Digo-lhe já que esta pessoa pode poupar muito dinheiro com algumas decisões simples. Vamos por partes.

Separe a eletricidade do gás

Vamos começar pelo mais óbvio. Esta pessoa tem luz e gás na mesma empresa. No momento em que vos escrevo, isto é provavelmente um erro financeiro. Ter eletricidade e gás na mesma empresa pode parecer prático, mas raramente é a opção mais barata. 

Não conheço nenhuma situação (se houver, digam) em que vale a pena ter os dois serviços juntos, mas pode haver promoções, reembolsos ou cashbacks cruzados que podem justificar a opção. 

Fora essas exceções, tem empresas de eletricidade mais baratas e uma empresa de gás mais barata do que todas as outras (o gás regulado - que é um distribuidor de rede diferente em cada região e que tem o “preço do Estado”).

Neste caso específico, o consumidor pagou 47,30 € de eletricidade e 23,25 € de gás (ainda antes de impostos). 

Saber quanto pagamos não chega para avaliarmos se estamos a pagar demais ou não. Temos de descobrir é os valores que deram origem a este montante: quantos kWh consumimos (podemos comparar a quantos “quilos” de eletricidade gastámos); qual o valor de cada um desses kWh (o tal preço do kg); e o preço da potência contratada (que é o equivalente ao antigo aluguer do contador) que é um “x” fixo por dia, mas que é diferente em todas as empresas.

TRUQUE: Para saber quantos kWh consumiu use o valor que está na linha “Imposto especial de consumo”


O preço da fatura calcula-se da seguinte forma:

Número de kWh  x preço do kWh (está na linha “preço da energia”) + (preço da Potência contratada x nº de dias da fatura)

Os impostos são globalmente uma percentagem do resultado anterior, logo quanto mais baixos forem os preços da empresa onde estiver, menos impostos paga.

Portanto, uma vez que o seu consumo é o que é (e o número de dias do mês é igual para todos), basta que pague menos por kWh e de potência contratada para o valor a pagar ser mais baixo.

No gás, está a pagar 10 cêntimos por kWh. No mercado regulado, paga apenas 6 cêntimos. Mudando para a distribuidora que tem o preço do Estado baixa imediatamente a fatura em 40%.

CONSELHO: Sair desta empresa e ir para o mercado regulado do gás (CUR - Comercializador de Último Recurso). 


Por exemplo, esta pessoa tem bi-horário e paga 13 cêntimos no período mais barato (à noite) e 21 cêntimos durante o dia (que é imenso).

Esta é a primeira lição: neste caso específico, ter bi-horário é uma péssima opção porque consome mais kWh durante o dia do que durante a noite. Ou seja, está a pagar mais durante as horas que consome mais, para ter um preço mais baixo quando consome menos. É como combinasse com um restaurante ir lá jantar todos os dias para ser mais barato, mas afinal só vai almoçar e a um preço mais alto do que o jantar.

Obviamente, há situações em que o bi-horário compensa (por exemplo, se tiver um termoacumulador ou carro elétrico que carrega à noite).

CONSELHO: Sair do bi-horário para o ciclo diário normal.


Atenção aos serviços adicionais

Este consumidor está a pagar 3,98+IVA todos os meses, há vários anos. Ele não faz ideia para que serve este “seguro”. Teoricamente sabe, mas nunca o usou. Não precisa dele.

CONSELHO: Como está fidelizado de certeza, ligue para a sua empresa e pergunte em que data pode terminar esse serviço adicional.


Leia a “linha mágica” na eletricidade

Basta procurar este parágrafo - que é obrigatório em todas as faturas das empresas no mercado liberalizado - e fica imediatamente a saber se está a pagar demais. Basta que diga que pagava menos alguns cêntimos no mercado regulado (SU Eletricidade) para saber que está a pagar demais. É que há várias empresas que fazem ainda mais barato do que a SU Eletricidade. Basta procurar um pouco mais.

CONSELHO: Se a sua linha mágica diz que pagaria menos noutra empresa, é porque está na altura de mudar. Não espere mais. 



Atenção aos benefícios adicionais

Claro que nem tudo são más notícias. Este cliente, embora esteja a pagar “demais” face à concorrência disponível no mercado, tem descontos que podem fazer a diferença. O desconto “externo” pode ser numa gasolineira, hipermercado, seguro, telecomunicações, etc.

Só depois de descontar o valor dos descontos e dos benefícios ao total da sua fatura é que poderá chegar ao valor ideal do kWh.

E se decidir mudar, pergunte sempre primeiro se tem de pagar alguma penalização por algum serviço que tenha fidelização.

Atenção à Potência contratada

Este cliente tem uma potência exagerada em relação às suas necessidade: 5,75 kVA é muito mais do que precisa. É um desperdício de dinheiro. É como estar a alugar uma garagem para 3 carros e só ter um.

CONSELHO: Baixar a potência contratada para 3.45 ou 4.6 kVA.


Calcule o seu “Preço real de eletricidade”

Os gestores profissionais usam um conceito de medição de resultados chamado KPI (Key Performance Indicator). Na prática, serve para medir e comparar resultados.

O que eu lhe sugiro é que adote para seu critério de KPI para a eletricidade o “Preço real da eletricidade”.

Basta pegar no valor total da sua fatura (tem de separar a eletricidade do gás), subtrair os descontos que realmente utiliza, e dividir pelos kWh consumidos na sua fatura.

Exemplos: 

Empresa A

  • Valor total da fatura: 60 €
  • Descontos adicionais em cupão: 8 €
  • Consumo: 200 kWh

Preço real

(A-B)/C= 0,26 €

Empresa B

  • Valor total da fatura: 55 €
  • Descontos adicionais em cupão: 0
  • Consumo: 200 kWh

Preço real

(A-B)/C= 0,27 €

Empresa C

  • Valor total da fatura: 45 €
  • Descontos adicionais em cupão: 0
  • Consumo: 200 kWh

Preço real

(A-B)/C= 0,22 €

Com este KPI pode começar a “brincar” com os seus amigos e familiares para tentar perceber - com um critério mensurável - quem tem realmente a eletricidade mais barata.

E olhe bem para a sua fatura. E mude se encontrar mais barato. Pare de desperdiçar dinheiro.

Disponível online, livrarias e supermercados.