[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Faço de conta que vai sentado ou sentada aqui ao meu lado e juntos vamos falando sobre como podemos ter mais dinheiro ao fim de cada mês.
Quero falar-vos sobre crédito à habitação. São milhões de famílias que têm crédito à habitação e tenho a certeza de que há dezenas, se não centenas de milhares de famílias, que estão a pagar mais do que poderiam estar a pagar, simplesmente porque não se mexem. Porque nunca tentaram baixar o crédito à habitação e acham que têm de pagar aquilo que o banco diz para pagar.
Portanto, eles nem sequer dizem que têm de pagar. Vão à conta, tiram o dinheiro, acham muito, acham pouco, acham o que acharem, mas o banco vai lá e tira o dinheiro e acham que não há nada a fazer. Ora, meus amigos, há imensas coisas que qualquer um de nós pode fazer e não há necessidade de ser doutorado em Finanças ou Economia ou tirar um curso de bancário para perceber aquilo que vou dizer agora.
E, portanto, este episódio vai repetir algumas informações que já dei noutros episódios e vou acrescentar algumas informações que, na minha opinião, são muito importantes e vai servir, este episódio, para fazer uma espécie de resumo para quem está a ouvir pela primeira vez este podcast.
Pode também ser interessante para pessoas que já mexeram no crédito de habitação, mas que já não mexem há algum tempo. Portanto, será que algumas das dicas que vou dar agora podem acumular com aquelas que já fez no passado? Pode ter aqui informações extremamente importantes que podem significar dezenas ou até centenas de euros por mês a mais na sua conta bancária.
Uma breve explicação para dizer que decidi fazer este episódio por causa do famoso episódio da Bruna, que muitos de vocês já ouviram, e que deu origem a outro episódio, dizendo que afinal os portugueses podem contactar o banco e pedir para, fazendo uma amortização, amortizar no prazo e não na prestação. Ou seja, ficam a pagar o mesmo, mas acabam com o crédito cinco anos, 10 anos, 15 anos, 20 anos mais cedo.
Ora, depois de ter feito esse episódio, recebi novamente mensagens de pessoas a dizer que se pode simplesmente mudar de banco e renegociar as condições. Ora, isso é o que ando a dizer há anos. Aliás, foi uma das reportagens marcantes do Contas-poupança na televisão e que catapultou, digamos assim, a rúbrica do Jornal da Noite da SIC para audiências maiores.
Mas o que é que percebi com esta reação de alguns de vocês? Que há muita gente nova por aí que não conhece todas as possibilidades de baixar o crédito à habitação ou todas as despesas que estão relacionadas com o crédito à habitação, incluindo os seguros. E, portanto, neste episódio vou fazer uma listagem exaustiva de todas as alternativas que conheço, mas pode haver mais e vocês se conhecerem mais digam-me por favor para partilharmos aqui com todos.
A forma mais simples, prática e rápida de baixarmos a prestação do crédito de habitação é irmos ao nosso banco, onde temos o nosso crédito, e dizermos que sabemos que a concorrência tem spreads mais baixos e pedir uma renegociação.
Pode chegar lá e dizer que há bancos na concorrência a fazer o spread a 0,7% e que é esse o valor que também quer, mas sem qualquer tipo de penalização por essa alteração. É o que se pratica atualmente no mercado. Portanto, chega lá e apresenta um número. A partir daí a bola está do lado do banco. Claro que ao dizer isto já está a deixar implícito que, caso eles não queiram renegociar, vai levar o seu crédito para outro banco.
Esta é a forma mais rápida e simples. Nem sempre isto funciona, porque eles partem do princípio de que as pessoas têm medo de mudar de banco e de retirar o seu crédito de habitação. A casa é o maior bem, o bem mais valioso de todas as famílias, ou da maior parte das famílias. Portanto, como está a perceber, eles sabem isso e levam isso em conta.
Provavelmente vão dizer-lhe que analisaram o seu caso e que não é possível ou podem dizer-lhe que então apresente essas tais simulações de outros bancos. É por isso que também deve fazer o seu trabalho de casa e ir a outros bancos. Assim quando for ao seu para renegociar já leva consigo as simulações de outros bancos, dando-lhe um poder negocial muito superior. Isto não tem nada de complicado.
Há muitos bancos que também aceitam fazer imediatamente esta negociação, já é algo normal para eles e, portanto, é por aí que deve começar. Desde que a pessoa tenha um bom histórico de pagamento, os bancos estão disponíveis para aceitar esta proposta.
Mas vamos imaginar que o banco diz que não e que, por algum motivo, está até aflito com a prestação e precisa urgentemente de a baixar, mas não pode mudar. Então aí vai ter de abrir o jogo e explicar a sua situação e dizer que tem mesmo de baixar a prestação.
Neste caso, há uma outra coisa que pode fazer ainda dentro do seu banco, que é pedir para alargar o prazo do contrato, partindo do princípio de que não está já no limite. Vou só recordar que para pessoas que têm até 30 anos, o máximo é 40 anos. Portanto, se tem menos de 30 anos pode, por exemplo, pedir para aumentar para 35 ou 40 anos. Pessoas que têm entre 30 e 35 anos, o máximo é até 37 anos. E a partir dos 35 anos, só pode pedir no máximo 35 anos de prazo de crédito.
O que é que acontece se o banco aceitar esta sua proposta e se tecnicamente for possível? Vai baixar a prestação mensal, mas vai pagar mais juros no total do crédito. E isto não nos interessa. Portanto, esta hipótese é só mesmo para o caso de estar aflito e precisar de baixar a sua prestação, porque já sabe que isto o vai prejudicar a longo prazo, mas resolve a sua situação a curto prazo.
Outra situação, também no caso de emergência, é pedir carência de capital. Ou seja, durante X tempo, pode ser um ano ou dois anos, só paga juros e não amortiza o capital. Isto porque a prestação que pagamos de crédito à habitação é composta de duas partes. É composta de uma parte que é o valor que está a devolver ao banco, uma pequenina parte, ou seja, imagine que pediu 300 meses de crédito e pediu 100 mil, 200 mil ou 300 mil. É esse valor a dividir por 300.
Portanto, todos os meses vai ter de pagar um trezentosavos do valor que pediu ao banco. A esse um trezentosavos vai somar os juros, que é o spread mais a Euribor ou a taxa fixa. Portanto, já está a perceber que haverá ali 24 meses ou 48 meses em que não vai estar a amortizar e, portanto, vai aumentar o valor dos juros em todas as outras prestações até ao final do contrato.
Esta medida que acabei de lhe mencionar, de solicitar a carência de capital, foi a que me salvou em 2008 quando me vi aflito porque a Euribor subiu para 5%, a minha prestação duplicou e eu já não conseguia pagá-la. Foi assim, aliás, que nasceu o Contas-poupança. Mas pronto, estas são as estratégias a aplicar dentro do seu banco.
Agora, a outra opção é, nada disto resultando, transferir o crédito à habitação para outro banco. Há bancos, como lhe disse, que estão a fazer 0,7% de spread. Portanto, se houver um banco que tenha um spread de 0,7% ou que faça campanhas promocionais de spread zero durante X anos ou uma prestação fixa durante X anos. Portanto, se encontrar algo melhor do que aquilo que tem, considere seriamente transferir para outro banco.
Isto é vantajoso porquê? Porque, em princípio, não vai pagar rigorosamente nada por fazer isto. Vai simplesmente continuar na sua casa e vai pagar uma prestação menor todos os meses e, eventualmente, até reduzir o prazo.
Isto é fabuloso, porque quem paga a penalização a outro banco e quem oferece as escrituras e as aberturas de dossiês e não sei o quê, é este banco novo para onde vai. E este ano, de 2025, é extraordinário para isso, porque até dezembro a penalização de 0,5% da Comissão de Amortização Antecipada está suspensa. Portanto, tem aqui um poder negocial ainda maior. Não pague nada por mudar de banco. Esta é a condição. Há uma exceção de que lhe vou falar mais à frente.
Outra forma é amortizar antecipadamente o capital. Pode usar as suas poupanças, ficando sempre com o seu fundo de emergência, nunca ficando descalço, mas uma vez que até 31 de dezembro de 2025 não há comissão de reembolso em créditos com taxa variável, atenção a isto, porque com taxa fixa mantém-se a penalização de 2% do valor amortizado.
Ou seja, basicamente estamos a falar de 20 euros por cada mil que amortiza. Também não é assim nada do outro mundo, mas é um custo. Então, mas a cada amortização que fizer vai reduzir o capital em dívida, vai reduzir os juros futuros e reduz de imediato, logo no mês seguinte, a prestação. É outra forma de baixar a prestação do crédito à habitação.
Agora, atenção a um detalhe. Quando falamos do tal episódio da Bruna, o que é que surgiu? A hipótese de poder amortizar no prazo. Várias pessoas tentaram e algumas pessoas até não conseguiram e resolveram mudar de banco, mas têm taxa fixa. E isto é de facto um problema. Este detalhe que vos estou a dizer agora é novo, ok? É uma situação nova.
Seja qual for a razão pela qual queira mudar para um outro banco, e se tiver taxa fixa, se quiser mudar de banco, e uma vez que a Euribor baixou, e queira ir para uma taxa variável, isto pode ser um problema. Porque os bancos não querem suportar essa penalização de 2% por ter taxa fixa. Então, a hipótese que tem é dizer a esse banco que, tudo bem, eles oferecem os tais 0,5%, que oferecem aos outros clientes normais, mas você paga a diferença, paga 1,5% do valor amortizado.
Podem ser 2 mil, 3 mil, 4 mil, 5 mil euros. A questão aqui é que vai ter de fazer contas para ver se compensa abdicar dessa sua poupança para a poupança que espera ter ao longo dos próximos anos. Pode valer a pena ou não, só você é que sabe, tem de fazer as contas. Esta dica é muito relevante.
O facto de esta comissão estar isenta ou suspensa em 2025 quer dizer que ainda tem mais poder negocial. Experimente. Não lhe posso garantir que vai ser aceite, mas pelo menos pode tentar. Isto é uma coisa que nunca disse em lado nenhum. Atenção a este detalhe.
Mas estava eu a dizer que pode então amortizar o capital e qualquer euro que amortize, baixa a sua prestação. Quantos mais euros amortizar, mais baixa a sua prestação. Já sabe que é uma questão de percentagem. Se amortizar 1% do valor total do crédito ainda em dívida, a sua prestação vai baixar 1%. Se amortizar 10%, a sua prestação vai baixar 10%. Se amortizar 20%, a sua prestação vai baixar 20%. E assim sucessivamente.
Atenção também a outra coisa: não se esqueça do seguro de vida. Tendo um seguro de vida associado, ao transferir o seu crédito à habitação, tente mudar para uma seguradora que faça mais barato com melhores coberturas. Há poupanças de 60% no seguro de vida. E também amortizando, não se esqueça de atualizar o valor em dívida na seguradora porque vai baixar também o valor do prémio daí para a frente.
Outra forma de baixar a prestação, ou as prestações todas, é consolidar ou reestruturar créditos. Se tiver vários créditos, vários cartões de crédito em que está a pagar mensalmente essa dívida, se tiver um crédito automóvel, se tiver um crédito pessoal, vai ao seu banco – ou vai a vários bancos –, e pede para consolidar estes créditos, ou seja, juntar todos e associá-los ao crédito à habitação, como hipoteca, isso vai fazer com que baixe o total das prestações que está a pagar e às vezes são poupanças brutais.
Obviamente vai pagar mais em juros ao longo do tempo, porque vai ficar a pagar o crédito pessoal, o crédito automóvel e os cartões de crédito a 20, 30, 40 anos, mas vai ter um alívio muito grande na sua prestação. Também pode ser uma solução muito importante.
Agora uma solução fora da caixa. Se tem dificuldade em pagar o seu crédito de habitação, pense, por exemplo, em arrendar um quarto. Arrendando um quarto gera um rendimento, mas obviamente vai perder privacidade, vai ter chatices, ou não. É algo que muda a sua vida, mas se está a pagar um crédito de habitação com uma prestação de 600, 700 ou 800 euros e alugar um quarto por 400 euros, já tem praticamente a prestação paga através do aluguer do quarto.
Obviamente que deverá fazer isto de todas as formas legais. Legalmente pode fazer isto. Veja se essa situação é uma solução para si, se é prática, mas pode ter a sua casa paga por um quarto.
Portanto, em resumo: renegociar internamente dentro do seu banco, transferir o seu crédito de habitação para outro banco que tenha uma campanha promocional ou que reduza o seu spread para 0.7%, amortizar parcialmente o crédito à habitação e aproveitar para baixar também o prémio do seguro de vida nessa renegociação ou depois de cada amortização.
Tentar ainda amortizar no prazo ou na prestação. Não se esqueça de consultar sempre dois, três ou quatro bancos diferentes do seu e também uma, duas, três ou quatro seguradoras externas e diferentes daquela em que tem o seguro de vida.
Aplicando uma, duas ou três destas medidas de que lhe falei neste episódio, consegue reduzir, eventualmente, a sua prestação mensal do crédito de habitação entre 10%, 15%, 20%, 30%, dependendo do seu perfil e do capital em dívida.
Muito obrigado por me ter acompanhado em mais esta boleia financeira. A ideia é vivermos melhor com o mesmo dinheiro. E isso é possível, desde que tenhamos literacia financeira.
Boas férias, se for o caso. E até ao próximo episódio, boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
Boas poupanças!
Também pode ouvir o episódio nas plataformas:
Não se esqueça de subscrever o podcast e ativar a notificações.
Ouça e partilhe com quem mais precisa de saber disto. Envie este episódio por WhatsApp, Facebook ou email.
**********************
ENVIE A SUA PERGUNTA EM ÁUDIO PELO WHATSAPP 927753737
Ao deixar a sua pergunta está a autorizar que ela seja utilizada publicamente. O objetivo é que a resposta seja útil não apenas para si, mas para todos os outros que nos escutam.
O que é um podcast?
Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.