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PodTEXT | Todos os meses ponho 25€ para os meus filhos numa conta à ordem. Estou a organizar bem as minhas poupanças?

Uma mãe coloca todos os meses 25 € na conta à ordem de cada um dos filhos, mas acha que podia estar a fazer mais, ou melhor. Também já tem uma poupança razoável, mas suspeita que está mal distribuída. Será que podia arriscar um pouco mais, quer em relação à poupança dos filhos, quer em relação ao seu próprio património? Respondo no episódio do "Vamos a contas" desta semana.

PodTEXT | Todos os meses ponho 25€ para os meus filhos numa conta à ordem. Estou a organizar bem as minhas poupanças?

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana.

[Ouvinte do podcast]

Olá, Pedro. Desde já agradeço bastante todos os podcasts que ouço diariamente. O património financeiro que tenho está dividido. Diria que 17% do valor está num fundo de emergência à ordem, ou seja, não está a ser rentabilizado, e cerca de 40% coloquei em Certificados de Aforro há dois anos.

Tenho dois valores pequenos em PPR reforma através do meu banco, que representa 14%, e tenho um fundo de pensão através da minha empresa, que também representa cerca de 14%. E depois tenho um mecanismo através da minha empresa em que recebo prémios trimestrais que são alocados a uma plataforma. Essa plataforma está dividida em PPR e que posso tomar a decisão de alocar esse dinheiro a PPR ou de o resgatar.

Estava a correr bem no início, mas com esta alteração para o Governo Trump começou a cair e, neste momento, está negativo. Está a 4%. Ouvi os seus podcasts, não é boa ideia retirar, mas tenho muitas dúvidas se, de facto, o dinheiro lá deve estar. A plataforma é a Optimize.

A minha grande questão é se esta minha forma de distribuição está bem na sua opinião, e considerando a sua experiência, ou se considera que eu podia fazer algumas alterações? O meu feeling diz que sim, ou seja, gostaria de apostar em ETF e ainda não fiz.

Esqueci-me de referir também que tenho um valor todos os meses – e isto sei que não é o mais correto –, que sai da minha conta para uma conta à ordem e que são 25 euros para cada um dos meus filhos. Tenho dois filhos, portanto, 25 euros para casa e esse valor está à ordem. Ou seja, deixo lá como se fosse um mealheiro para mais tarde, só que não está rentabilizado.

Vi no banco que há a opção de fazer ETF, então a minha ideia era colocar estes valores que transfiro dos meus filhos em ETF através do banco. Será esta a melhor opção? Obrigada pela ajuda.

[Pedro Andersson]

Olá! Muito obrigado pelas perguntas e também pelas palavras de incentivo. Vamos então contribuir para mudar um bocadinho a forma de pensar. Pelo que entendi, está a pôr 25 euros mensais numa conta à ordem para cada um dos seus dois filhos, e também mencionou a distribuição do seu património. Vamos começar pelos seus filhos.

Os 25 euros são um valor como outro qualquer, é o dinheiro que tem disponível para isso e isso é o importante. Se puder aumentar um bocadinho esse valor, os resultados também vão duplicar, especialmente se colocar esse dinheiro em produtos que tenham o efeito de juros compostos.

Mas para responder diretamente à questão, à ordem não, porque está a empobrecer os seus filhos. Ou seja, fazer este gesto é excelente, independentemente do valor, mas o facto de estar à ordem faz com que perca para a inflação. O dinheiro que mantemos à ordem deve ser apenas para as contas do mês e para um pequeno fundo de maneio para dar conta de alguma emergência.

Tudo o resto tem de estar, no mínimo, em Certificados de Aforro. Com a inflação como está, o dinheiro que está a pôr lá já perde valor e pela altura que os seus filhos forem resgatar esse dinheiro, terá perdido 20% do valor. Aliás, é pior que isso porque vai perdendo cumulativamente todos os anos. Portanto, dinheiro para crianças, nunca à ordem e nunca em contas poupança júnior, porque não rendem nada. No mínimo, é colocar em Certificados de Aforro.

Para quem já tem uma forma de pensar mais avançada em relação a investimentos, o que é que sugiro? Primeiro, vamos aproveitar o tempo que temos para rentabilizar o dinheiro que queremos dar aos nossos filhos. Temos pelo menos 18 anos para o fazer. Em 18 anos, a história mostra que o dinheiro investido em produtos relacionados com as bolsas, nomeadamente fundos PPR com uma grande percentagem de ações, ou então em ETF, crescem.

Vou dizer-lhe o que fiz para os meus filhos, um desde os oito anos e o outro desde os 16 anos. Quando percebi que estava a prejudicá-los com o meu conservadorismo financeiro, fiz um fundo PPR para cada um, em nome deles, e todos os meses e de forma automática, sai da minha conta à ordem 50 euros para cada um deles. Já lá têm um valor bastante razoável, sendo que esse dinheiro sobre e desce ao longo do tempo, porque é um investimento ligado às bolsas.

Neste momento, eles não estão a perder porque já começaram há muito tempo, mas estão a ganhar menos. Já estiveram a ganhar muito mais em termos percentuais, mas quando há crises nas bolsas, aquilo ressente-se. Quando forem mais velhos e quiserem resgatar o dinheiro, lá avaliarão se é boa altura para isso ou se preferem continuar a investir. Portanto, não estou a dizer-lhe que faça o mesmo que eu, é apenas uma sugestão que deve avaliar tendo em conta o seu perfil.

Depois, relativamente aos ETF, falou em fazer através do seu banco e sim, pode fazer isso através do banco, mas os bancos clássicos cobram muitas comissões, nomeadamente custódias e guardas de títulos e comissões disto e ligações às bolsas, etc. Portanto, para valores tão pequenos, às tantas também está a perder dinheiro, porque eventualmente estará a ganhar para pagar comissões ao banco.

O que sugiro é que abra conta numa corretora low-cost – tem episódios lá mais para trás a falar de várias delas –, faz um ETF para os miúdos e reforça com 25 euros mensais, tendo escolhido as comissões mais baixas possível. Nos bancos também pode fazer isso, mas com comissões mais altas.

Agora, a outra questão: a forma como tem distribuído o seu património e a sua poupança. Diz-me que tem o seu fundo de emergência à ordem e que depois tem Certificados de Aforro. Quero alertar para o seguinte facto: os Certificados de Aforro são uma ferramenta para ter o seu fundo de emergência e, portanto, na prática, tem um fundo de emergência superior a 50% de todas as suas poupanças, provavelmente sem necessidade nenhuma.

Portanto, é verdade que não está a perder dinheiro, mas não está a ganhar. A estratégia ideal, que pode não ser adequada ao seu perfil, porque já percebi que se assustou com a Optimize – que conheço, é uma das que uso e até ao momento é credível –, mas tanto essa como qualquer outra corretora tem vários produtos que pode subscrever. Uns mais arriscados, outros menos.

O que quero dizer é que se se assusta com uma queda de 4%, então é porque tem um perfil conservador. Uma queda de 4% para um perfil como o meu, por exemplo, não é nada. É um dia normal, é uma pequena correção nas bolsas. O meu PPR na Optimize, que tem 90% de ações, deve estar a perder uns 10% ou 15% por causa das tarifas do Trump. O que é que se faz nestas alturas? Em vez de retirar, se puder, ponha mais, ou então faça agora o tal ETF, porque ainda está mais negativo do que eventualmente alguns destes PPR com mais ações.

Em resumo, pela descrição que fez do seu património, é um património que está a ser gerido de uma forma tremendamente conservadora. Tem mais de metade, pelo que percebi, 40% em Certificados de Aforro e mais 17% à ordem do fundo de emergência, o que se a fizer sentir-se confortável, nada contra.

Não estou a dizer que está certo ou errado, mas se quiser fazer crescer o seu património arriscando um pouco mais. então é deixar os Certificados de Aforro – desde que já tenham passado os primeiros três meses para poder resgatar sem penalização –, e colocar antes lá o seu fundo de emergência. Tudo o resto, tudo o que não seja o fundo de emergência, é tirar dos Certificados de Aforro e colocar em fundos PPR e ETF, mas primeiro estude sobre isso e informe-se sobre aqueles que mais se adequam ao seu perfil.

Comece sempre com valores muito pequeninos, de 100 euros, por exemplo, até ganhar confiança e perceber como é que funcionam. E depois é começar. Se sentir que esse produto é para si e que o compreende, pode pôr mais dinheiro, porque a partir daí é incontornável.  

É um facto da vida: se eu quiser ter 600 mil euros na idade da reforma, não é com 25 euros por mês que vou atingir esse objetivo. É matematicamente impossível. Portanto, há uma altura da nossa vida em que depois de descobrirmos as várias ferramentas, temos de começar a colocar valores muito maiores de 100 euros por mês, 200 euros por mês, não quer dizer que seja sempre na mesma ferramenta, mas só depois de atingirmos esses valores, que em situações ideais até seria mais do que isso, é que vamos conseguir mudar a nossa vida.

Acho também que tem demasiados PPR. Veja isso, concentre, depois de analisar bem os rendimentos, as condições e as comissões de cada um dos produtos que tem, concentre-se em um ou dois fundos PPR. Podem ser com diferentes perfis de risco, um mais arriscado e outro mais moderado, e um ou dois ETF, ou seja, um ETF S&P500, por exemplo, que são as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, e outro ligado às bolsas europeias, mercados emergentes ou a um sector ligado a algo que domine, por exemplo.

Estou a dar algumas sugestões, não estou a dizer para fazer nada disto, estou a abrir janelas para ir pensando. Também pode pensar noutro tipo de produtos, igualmente com capital garantido, mas que eventualmente tenham um rendimento um pouco maior.

Há também alguns PPR com capital garantido que rendem 2,5% ou 3%, que têm a vantagem fiscal à saída ou até à entrada também. Tem as plataformas de crowdfunding, de P2P, que rendem 4%, 5%, em que está a emprestar dinheiro a empresas do mercado nacional. Mas claro que também tem risco, porque se as empresas forem à falência, vai perder o seu dinheiro.

Tem várias alternativas para começar a pôr o seu dinheiro a render mais com alguma diversificação. Muito obrigado por ter feito esta pergunta e muito obrigado a todos os que estão a ouvir o episódio a e acompanhar as boleias financeiras.

Boas poupanças!

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Respondo a esta questão no episódio desta semana. Já sabe que às quartas-feiras respondo às vossas perguntas. Saber é poder (nas finanças pessoais também). Disponível nas principais plataformas de podcasts:

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Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.

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