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PodTEXT | Porque é que uns enriquecem e outros empobrecem ganhando o mesmo salário?

Neste episódio, vamos direto ao ponto: duas pessoas ganham exatamente o mesmo salário, mas uma prospera e acumula património enquanto a outra vive aflita, mês após mês. Porquê? O que está por trás destas diferenças tão grandes entre pessoas com rendimentos iguais?

PodTEXT | Porque é que uns enriquecem e outros empobrecem ganhando o mesmo salário?

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Juntos vamos encontrando formas de nos aumentarmos a nós próprios e falamos sobre dinheiro de uma forma perfeitamente normal, simples, franca, sem críticas, sem preconceitos, porque o dinheiro é uma coisa normal na nossa vida, portanto, temos de tratá-lo com respeito e com inteligência.

Este tema dava para ficarmos aqui muitas horas: porque é que há pessoas que ganhando o mesmo têm vidas financeiras completamente diferentes? Acho que há muitas pessoas, não sei se pensam da mesma maneira, que acham que a culpa de terem uma vida financeira insatisfatória é simplesmente porque não têm o salário que gostariam de ter.

É sempre aquela perspetiva do “se fosse aumentado ou se ganhasse o mesmo que o outro”. Mas, no fundo, o que é que acontece? Há várias situações em que esta conversa é simplesmente uma desculpa para não mudarmos nada na nossa vida. Claro que isto não é a realidade em todos os casos e também não quero ser insensível, mas há vários casos em que é esta a verdade.

Aquilo que vos queria transmitir neste episódio é que há muitas coisas que estão nas nossas mãos. Temos mais poder do que julgamos no que diz respeito a vivermos melhor. É apenas disso que estou a falar, não estou a falar sobre ser milionário ou ganhar o Euromilhões. É ter uma vida normal, simples, mas equilibrada.

A primeira coisa que vos quero dizer é que, em muitos dos casos, o problema não é o salário. Imaginem a seguinte situação: duas pessoas que trabalham na mesma empresa e recebem os mesmos 1300 euros ou 1400 euros por mês – não falo de salários mais baixos, porque não me parece fazer sentido discutirmos estas opções com quem ganha o salário mínimo –, e atenção que isto são salários que ganham a maior parte dos portugueses.

Podem até achar que não ganham, mas basta fazer contas para ver. Basta dividir o valor total que ganham, o valor bruto, por 14 meses e incluindo os devidos descontos para Segurança Social e IRS, e vão chegar à conclusão de que provavelmente ganham mais do que aquilo que acham. Portanto, para começarmos a mudar a nossa vida para melhor, primeiro temos de saber exatamente o que ganhamos.

Mas voltando ao exemplo de duas pessoas que trabalham na mesma empresa e recebem exatamente o mesmo salário, essas pessoas podem fazer escolhas completamente diferentes. Se uma delas, por exemplo, não tiver uma noção básica de como o dinheiro funciona, o mais provável é gastar tudo. Como temos dinheiro, gastamos. Gastamos porque merecemos. porque queremos ter direito a determinados luxos, como ir jantar fora, ir ao cinema, ir passear, presentearmo-nos com um gadget ou darmos uma prenda a alguém de quem gostamos.

Tudo isso é normal, a questão é que se fizermos disso um modo de vida constante, isso paga-se. E muitas vezes o que acontece é que gastamos tudo o que ganhamos sem pensarmos no nosso eu do futuro. E em alguns casos ainda é pior quando somos desorganizados. Às vezes basta num mês gastarmos mais do que aquilo que ganhamos para estragar todo o nosso ano daí para a frente, porque há despesas que vão aparecer, quer queiramos, quer não, e que são fixas.

E se não tivermos plena consciência de todas essas despesas e mantivermos sempre esta constância dos gastos, a coisa vai acabar mal, porque vamos entornar o copo um dia. Pode não ser este mês, nem daqui a três, nem daqui a seis, mas daqui a sete ou oito meses já estamos a gastar mais do que ganhamos. Porquê? Porque as despesas fixas aumentam, o nosso salário não e os nossos gastos mantêm-se. Habituámo-nos à nossa vida, isso é normal. Temos é de uma forma racional compreender isto e, de alguma forma, mudarmos o chip para percebermos que esta conta é simples de se fazer.

Se os meus rendimentos se mantêm, se a luz aumentou, se as contas da mercearia aumentaram, se a carne aumentou, se o peixe aumentou, se o gás aumentou, se os seguros do carro aumentaram, se a prestação da casa aumentou ou não, agora está numa fase descendente, mas se todos os gastos normais ou a totalidade deles aumentaram, e eu continuo a ir jantar fora duas vezes por semana e a ter este e aquele hábito, isto vai dar um saldo negativo lá mais à frente de certeza.

Aliás, até suspeito – e espero que não me leva mal de estar a dizer isto –, que alguns de vocês já estão nessa fase do saldo negativo sem terem consciência disso.

Qual é a única forma de pormos ordem na nossa vida financeira? É tentarmos ser diferente do colega que vai gastando e que a cada mês fica mais aflito e, para isso, temos de ver exatamente quanto dinheiro entra em casa no total e quanto custam todas as despesas. Temos de saber tudo ao cêntimo.

Depois de fazer esta conta ao ano e não ao mês, porque há meses que são muito diferentes, quer em termos de despesas, quer em relação às receitas, temos de considerar esses fatores para o bolo real dos nossos rendimentos e despesas. Portanto, não é quanto dinheiro ganha por mês, isso é importante, mas não chega, porque está a falsear a sua realidade financeira. É a totalidade do ano inteiro e depois as despesas do ano inteiro, também não são só as despesas que tem no mês.

Tem de contar com o IMI, tem de contar com pagar o IRS se tiver de pagar, tem de contar com os seguros dos carros, tem de contar com o seguro da casa, despesas de saúde, manutenção de carros, todas essas coisas, quer aconteçam todos os meses ou duas vezes por ano. Enquanto não fizer esta conta, estará sempre na mesma situação que o colega que ganha o mesmo que você, mas que vive aflito. E nós queremos é sair disso.

O outro truque que o nosso colega ainda não aprendeu é que temos de aprender a controlar a nossa vontade de gastar dinheiro. E essa vontade é normal. O nosso cérebro, sobretudo quando estamos ansiosos ou temos problemas, diz-nos para gastarmos dinheiro. Para quê? Para termos alguma medida de felicidade. Nessas situações, e perdoem-me esta comparação, é quase como se fosse uma droga ou uma anestesia na nossa vida.

O problema é que é uma compra que só nos dá satisfação imediata. Passadas às vezes umas horas, uns dias ou uma semana já não sentimos aquele prazer que nos deu aquela compra. Meus amigos, esse dinheiro já não volta. E o que é que fica? Ficamos com o bem, é certo, que começa logo a desvalorizar. E o que fica? São as prestações, os juros e o stress financeiro, que vai acumulando compra a compra. E ainda mais se fizer compras a crédito, porque vai acumulando várias coisas para pagar e isso é a receita para a desgraça financeira.

Portanto, se quiser ser diferente daquele seu colega, aquilo que vai fazer é, para começar, dar cabo de tudo o que for dívidas ou créditos que tenha o mais rápido que conseguir. Mesmo que demore um ano, dois, três ou mais, a partir do momento em que dá cabo desses créditos e dívidas – exceto o crédito à habitação –, vai começar a enriquecer, enquanto o seu colega, vai empobrecer.

Repare, estamos a falar ainda de dois colegas que ganham na mesma 1300 euros os dois, só que um já começou a tapar os buracos que tem no barco financeiro e o outro não, ainda continua, está sempre com o balde a tirar água para não ir ao fundo. E vai continuar a vida toda, mesmo depois de reformado, vai continuar sempre com o balde a tirar água para não afundar. E nós queremos é navegar a toda a velocidade.

É preciso acabar com as dívidas o mais depressa possível para depois de já não ter dívidas finalmente começarmos a semear. Isto não é uma coisa imediata. Depois de liquidarmos as dívidas, vamos começar a investir de forma consistente, mesmo que seja 10, 20, 30 euros, pouco dinheiro no princípio.

É muito importante começar a investir com regularidade, todos os meses, mas claro, lembrando-se que primeiro tem de ter um fundo de emergência com seis a 12 meses do valor das suas despesas. Depois de isso estar feito, aí sim, vai começar a investir com regularidade, porque mais à frente vai colher os frutos.

Por exemplo, o que investi na altura da pandemia, uma altura da desgraça, neste momento já está a ganhar 60% com esses investimentos, apesar de estarem em queda 20% devido às tarifas do Trump. Embora vocês já saibam que ganhos passados não garantem ganhos futuros, a verdade é que se não começarem a semear agora, não terão certamente frutos nenhuns para colher.

E depois disto, como é que pode organizar o seu orçamento? É que isso vai fazer a diferença em relação ao seu colega. Ele ganha 1300 euros por mês e gasta 1300 euros por mês, mas você vai pegar nesses 1300 euros por mês e vai pôr 50 euros, ou outro valor que faça sentido no seu caso, alocados às despesas fixas e absolutamente essenciais.

Depois outro valor para despesas do dia-a-dia para viver com qualidade, mas escolhendo muito bem aquilo que quer fazer e tendo consciência de quais são as coisas que não pode fazer, pelo menos sempre. Isso fará toda a diferença em relação ao colega que ganha o mesmo.

Depois, vai guardar outro montante para investir ou para ir acrescentando ao fundo de emergência, por exemplo. Repare, esta divisão não é para ser uma prisão, porque é isto que nos vai dar liberdade financeira. Esta regra, que tem de ser adaptada com valores que façam sentido para a realidade de cada um, servirá de guia para sabermos exatamente onde queremos chegar.

Portanto, o conselho mais genérico e mais importante é: defina de uma vez por todas que não quer ser como o seu colega, porque ele vive para os outros e quer mostrar aos outros que tem, mas nós não. Nós queremos é viver bem e os outros não têm nada a ver com isso, nem têm de saber que estou a trabalhar para enriquecer e organizar a minha vida.

Não vamos entrar no ciclo das aparências. Não é preciso comprar o carro do ano, não é preciso viajar para mostrar no Instagram, não é preciso viver numa casa que depois não tem dinheiro para pagar. Vamos viver de acordo com a nossa realidade e não com base nas expectativas dos outros.

Experimente fazer isto nos próximos dias. Pegue em papel e caneta, abra o Excel, como preferir, mas escreva tudo o que ganha e tudo o que gasta e faça as contas a quanto sobra por mês e por ano. É assim que vai ver se está a gastar mais do que ganha e isso é que não pode ser. Escolha um pequeno valor, nem que seja 10 euros, e comece a investir ou a poupar, comece a pensar na sua reforma e em quanto dinheiro quer ter quando lá chegar.

Depois repete este processo no mês seguinte até que isto se torne parte da sua rotina. Isto são pequenos passos, mas se forem dados de forma consistente vão levá-lo muito longe. Lembre-se sempre que pequenos passos sem parar são mais eficazes do que grandes passos de vez em quando.

Em resumo, a diferença entre quem enriquece e quem empobrece com os mesmos rendimentos, é as escolhas que cada um faz. Da próxima vez que tiver de fazer uma escolha, pense bem e questione-se que impacto poderá ter na sua vida financeira no futuro. Se essa decisão melhorar a sua vida no futuro, avance, se essa situação o prejudicar no futuro, pense duas vezes. Pode na mesma escolher, pode na mesma decidir fazer, mas com consciência de que isso vai ter consequências mais à frente.

Pense o que quer fazer com o seu salário e se quer viver como o seu colega ou se quer fazer as suas próprias escolhas. Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira. Não se trata propriamente de uma poupança direta, mas acredito que vai fazer muita diferença na sua vida. E ensine isto aos seus filhos.

A atitude é importantíssima, porque se não vão começar logo com escolhas impulsivas e uma decisão mal feita aos 20 anos e isso pode estragar o que poderia ser um bom começo de vida. Pense nas coisas, mas faça, decida pela sua própria cabeça. Não faça só porque outros dizem para fazer.

Boas poupanças!

Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro

Imagine dois colegas de trabalho, ambos a ganhar 1.200 euros líquidos por mês há dez anos. Um deles hoje tem 30 mil euros de poupança, já começou a investir e vive sem dívidas. O outro está com o cartão de crédito no limite, pediu crédito pessoal para férias e diz que "não dá para poupar". O que os separa? As escolhas.

Vamos explorar os hábitos financeiros, decisões do dia a dia, crenças sobre dinheiro e escolhas de longo prazo que determinam o rumo das finanças pessoais. Este episódio é uma chamada de atenção para quem acha que “ganhar mais” é a única solução. Às vezes, o segredo está em saber usar o que já se tem. Este episódio é para quem está farto de ver o dinheiro desaparecer sem saber porquê… e quer mudar isso.

Boas poupanças!

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