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PodTEXT | OTRV 2031: vale a pena investir nas novas Obrigações do Tesouro?

Vale a pena subscrever as novas OTRV? Neste episódio do podcast Contas-Poupança mostro-lhe os prós e contras das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável 2031: a ligação à Euribor, as comissões bancárias que podem "comer" o ganho, o risco de preço no mercado secundário e a comparação direta com os Certificados de Aforro. Em poucos minutos fica claro para quem estas obrigações fazem sentido e quando é melhor manter o dinheiro num depósito ou nos Certificados. Ouça o episódio e descubra se estas OTRV merecem ter lugar na sua carteira de poupança.

PodTEXT | OTRV 2031: vale a pena investir nas novas Obrigações do Tesouro?

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Faço de conta que vai sentado ou sentada aqui ao meu lado e juntos vamos arranjando maneiras de ganharmos mais dinheiro com o nosso dinheiro.

Quero falar-vos sobre as OTRV, algo que talvez nunca tenha ouvido falar, o que é normal porque já não se fala sobre OTRV há sete anos. Mas agora vamos falar, quanto mais não seja para saber o que é e ter algum contexto.

Ora, o que são afinal OTRV? São Obrigações do Tesouro com Rendimento Variável, ou seja, é basicamente emprestarmos dinheiro ao Estado que, por sua vez, nos paga juros. É quase a mesma coisa que os Certificados de Aforro, é uma ferramenta de poupança do Estado. Há sete anos, mais coisa menos coisa, que não se falava nisto.

Já houve séries anteriores de OTRV e a antepenúltima tinha bons juros, a penúltima também ainda tinha bons juros, mas já inferiores à anterior. Esta que surge agora tem juros ainda mais baixos, portanto, a cada vez que surge uma nova OTRV, as condições são piores para os cidadãos que emprestam dinheiro ao Estado.

Então, o episódio de hoje é para vos ajudar a fazer uma avaliação de se vale a pena porem lá uma parte das vossas poupanças ou se há produtos melhores. Primeiro, atenção ao período de subscrição destas OTRV 2031: começam a ser vendidas em 2025 e terminam em 2031, mas o período de subscrição iniciou-se a 2 de julho e vai terminar a 15 de julho.

Este alerta é importante porque se ouvir este episódio fora deste período já não vai ter acesso mesmo que queira. Mesmo que seja este o seu caso, ouça na mesma porque é informação útil para uma próxima vez que haja uma OTRV.

Como disse, só vai poder subscrevê-las neste período de 15 dias, sensivelmente, depois dessa data pode subscrevê-las na mesma, pode comprar OTRVs2031, mas já vai ser na bolsa e não agora no início. E quando comprar na bolsa pode comprá-las mais baratas do que estão agora. Ou seja, só estarão à venda aquelas OTRV das pessoas que comprarem agora e que quiserem vendê-las, por alguma razão, antes de 2031.

Mas afinal quanto é que rende este produto do Estado que pretende captar a poupança dos portugueses? Rende a Euribor a seis meses, ao valor que estiver na véspera do próximo período semestral, porque paga juros a 1 de janeiro e 1 de julho. Pode consultar estas informações também no folheto do IGCP, a agência do Estado que gere as poupanças e investimentos da dívida do Estado.

Mas, então, é o que valer a Euribor a seis meses no dia anterior a essas datas específicas, mais 0,25%. Isto dito assim até pode parecer bom em comparação com os Certificados de Aforro, cuja conta é feita com a Euribor a três meses apenas, sem mais nada a adicionar, mas tem os prémios de permanência que após um ano já são de 0,25%, depois passa para meio porcento e depois aumenta ainda mais e vai aumentando de vez em quando, passados alguns anos, até chegar ao final de 15 anos em que acabam e volta tudo para a sua conta.

Então, o que é melhor entre as OTRV e os Certificados de Aforro? Ambos têm a garantia do Estado e em termos de rendimento podem até parecer bons e razoáveis, mas há algo que tem de ter em conta. No caso dos Certificados de Aforro, não há comissões de subscrição, de gestão e de resgate, no entanto, para ter OTRV vai ter de o fazer obrigatoriamente através de um banco e é aí que começam os problemas.

Porque para fazer isto através de um banco, e a lista dos bancos está no tal folheto do IGCP, vai ter de pagar comissões. E cada banco tem o seu próprio empresário. Seja como for, qualquer um deles tem valores altos. Quer para a subscrição, quer para a custódia, quer para o resgate.

A única forma de saber exatamente quanto é que vai pagar de comissões é pedir a esse banco que lhe interessa para fazer uma simulação. Eu pedi à Caixa Geral de Depósitos uma simulação para mil euros e para dez mil euros, só para saber, não tenho nenhum interesse em subscrever, ainda mais confirmando com os valores que me deram, sendo que tenho de pagar, entre outras comissões, nove euros de seis em seis meses só para manter as OTRV se as fizesse lá.

O que quer dizer que para valores baixos, até quatro mil euros por exemplo, eu podia subscrever OTRV, ter o juro correspondente que me foi prometido pelo Estado, mas mesmo assim ia perder dinheiro líquido, porque teria de pagar. E há bancos ainda mais caros do que a Caixa Geral de Depósitos, assim como há bancos também um bocadinho mais baratos, mas pagará sempre comissões.

Portanto, só pode ter a certeza se vai ganhar realmente dinheiro ou não depois de pedir uma simulação ao banco para saber quanto é que vai pagar em comissões para subscrever este produto do Estado.

Se porventura precisar desse dinheiro, seja em parte ou na totalidade, antes de 2031, vai ter um problema, porque vai ter de as vender na bolsa. E aí vai ter de vender ao preço que as pessoas estiverem dispostas a comprar que, muito provavelmente, será um valor inferior àquele a que comprou. Pode perder dinheiro a somar ao que pagou em comissões e que ninguém lhe vai devolver. Portanto, não têm a mesma liquidez que os Certificados de Aforro.

Feitas as contas, até aos seis anos, comparando as OTRV com os Certificados de Aforro – a DECO já fez esta simulação –, há apenas uma diferença de uma décima a favor das OTRV em relação aos Certificados, mas não contando com as comissões que tem de pagar. Portanto, é um produto pior que os Certificados de Aforro.

Meus amigos, acho que não é assim que o Estado vai conseguir captar as poupanças dos portugueses. Tenho muita dificuldade em compreender este produto. Quer dizer, vão oferecer aos portugueses um produto pior do que aquilo que já oferecem? Qual é a lógica disto?

Só vejo uma situação em que, eventualmente, este produto pode ser útil, mesmo sendo pior que os Certificados de Aforro, que é para alguém que tenha muito dinheiro e já tenha esgotado a possibilidade de ter Certificados de Aforro.

Creio que o limite são 100 mil euros, portanto, alguém que tenha 200 mil euros e que já tenha 100 mil euros em Certificados de Aforro e não tem mais nenhum sítio que confie para pôr, então que ponha em OTRV, ganhando menos. Mas é sempre melhor do que ter esse dinheiro parado na conta à ordem.

Há também uma outra questão que para si pode ser relevante e que acho importante referir. No caso dos Certificados de Aforro, mesmo que a Euribor comece a subir de repente – sendo que neste momento a tendência é de descida –, o crescimento está limitado aos 2,5%, mesmo que a Euribor chegasse aos 4% ou 5%.

No caso das OTRV, se for uma pessoa muito pessimista e não se importar que a Euribor a seis meses volte para os valores disparatados em que esteve não assim há tanto tempo, aí vai ganhar em relação aos Certificados de Aforro. Isto porque não havendo limite, se a Euribor chegar aos 4% ou 5%, vai ganhar isso mais 0,25%, que é o que está no contrato.

Contudo, não é previsível que isso aconteça agora, mas a verdade é que também não era previsível que acontecesse o que aconteceu recentemente. Portanto, o mundo está de tal forma de pantanas que já não podemos dizer que uma coisa vai ou não acontecer.

Este é um detalhe importante que pode ajudá-lo a decidir. No caso dos Certificados de Aforro, pode subscrever nos Correios, online, no Banco Big ou na aplicação dos CTT, mas para as OTRV tem mesmo de ser através de um banco.

Em resumo, e na minha opinião, este produto não tem qualquer interesse nesta altura por isso não vou subscrevê-lo.

Contudo, isto é informação útil em relação a vários tipos de obrigações, incluindo de empresas. O critério é o mesmo, ou seja, não pode ir só atrás da publicidade dos juros, tem de fazer as contas sempre contando com as comissões. Para que seja mais fácil fazer isso há um simulador de custos na página da CMVM. Sempre que há uma venda de obrigações encontra lá a lista de todos os bancos e respetivas comissões que cobram.

Eu liguei para a CMVM e perguntei se podia fazer a mesma coisa em relação às OTRV, mas disseram-me que não, porque os produtos do Estado não são supervisionados pela CMVM.

Portanto, da próxima vez que vir publicidade de subscrição de obrigações, de um canal de televisão, de um clube de futebol, de uma empresa disto ou daquilo, de construções, de infraestruturas, seja lá do que for, basta ir à página da CMVM, clicar em simulador de custos, insere lá o valor que pretende subscrever e diz-lhe imediatamente quanto é que vai receber de facto depois de todas as despesas. Mas só pode fazer esta simulação na CMVM com outras obrigações que não sejam as OTRV.

Na maior parte dos casos em que já fiz isso cheguei à conclusão de que, mesmo com juros altos de 4% e 5%, às vezes para valores mais pequenos as comissões são tão altas que mais vale pôr num depósito a prazo num banco. E há situações em que até tem prejuízo. Vai perder dinheiro, mesmo com juros de 3%, 4% e 5%.

É mais uma pérola de literacia financeira que lhe deixo neste episódio para não se sentir enganado, porque não há aqui nenhum engano, nós é que temos de saber o que estamos a fazer. As contas têm de ser feitas antes, não é depois. Muito obrigado por me ter acompanhado em mais um episódio do podcast Contas-poupança e espero que lhe tenha dado informação suficiente para fazer a sua avaliação.

Sobretudo, quero dizer-lhe que para ganhar dinheiro acima da inflação, que não é o caso porque aqui vai perder dinheiro para a inflação, vai ter de abdicar da segurança. Se falarmos de um fundo de emergência, pode escolher qualquer coisa com capital garantido, mas para ganhar dinheiro vai ter de arriscar um bocadinho mais, isso é certo. Não há outra maneira, pelo menos que eu conheça. Se conhecerem, partilhem essa informação.

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