Crédito à habitação

É possível ou não pagar a casa ao banco em 5 anos?

É possível ou não pagar a casa ao banco em 5 anos? Não imaginam a polémica que vai no Facebook do Contas-poupança por causa de uma imagem que publiquei no Instagram e que partilhei no Facebook. Já vai com centenas de comentários e cerca de 100 mil visualizações. Depois espreite, se ainda não o fez. […]

É possível ou não pagar a casa ao banco em 5 anos?

É possível ou não pagar a casa ao banco em 5 anos?

Não imaginam a polémica que vai no Facebook do Contas-poupança por causa de uma imagem que publiquei no Instagram e que partilhei no Facebook. Já vai com centenas de comentários e cerca de 100 mil visualizações. Depois espreite, se ainda não o fez.

Comecemos pelo princípio. Recebi ontem esta mensagem de uma espectadora que simpaticamente (e em privado) partilhou comigo, depois de ver a reportagem desta semana do Contas-poupança, que ela e o marido tinham feito isso precisamente e vão acabar de amortizar a casa no ano que vem. 5 anos depois de terem pedido o crédito. Achei tão interessante que perguntei se ela não se importava que partilhasse publicamente para incentivar outros que estivessem a pensar fazer o mesmo. Ela não viu inconveniente e omiti a identidade. Não tenho NENHUM motivo para duvidar da veracidade do que ela diz. Já vamos à polémica.

A polémica

Passados poucos minutos, começaram a chover comentários de pessoas praticamente ofendidas por esta mensagem. Claro que sei que a maior parte desses comentários não têm nada de mal e simplesmente ficaram curiosos para perceber como é que eles conseguiram e de que valores estamos a falar. Ela fala em salários “normais”. Obviamente não lhe perguntei nem perguntarei quanto é que eles ganham. Podia ter perguntado o valor da casa mas não vi interesse em perguntar. Porquê? Amigos, porque é irrelevante. Tem é de fazer as contas com o seu caso. O que é importante é que eles conseguiram. É possível, sem ser milionário.

Saber como eles (o casal) conseguiram é simples. Ela diz “com muito trabalho, muita poupança e muita organização”. Ah! Mas isso não diz nada. Diz! Diz muito. Diz que fez contas. E é o que cada português interessado em ver-se livre dos bancos e dos juros que hipotecam a sua vida, devia fazer.

O que é um salário “normal”?

Muitos dos comentários foram logo a referir que com o salário mínimo é impossível pagar uma casa em 5 anos. Claro que é impossível! Isso alguma vez esteve em causa? 720 mil portugueses recebem o salário mínimo. Este exemplo não é para eles. Esses têm outras prioridades. Mas por muito que se queixem, o salário médio estatístico dos portugueses é de cerca de 1.100 euros (Pordata, 2017). É quanto ganha um professor contratado e talvez um enfermeiro. Para essa ser a média, isso quer dizer que muitos portugueses ganham 1.300, 1.500, 2.000 euros por mês. E isso não tem nada de mal. São esses que pagam impostos para o resto dos portugueses.

Acho que há um grande mal entendido na sociedade portuguesa e que até agora ainda não me lembrei de enfrentar. Talvez seja a hora. Aprendi pelos comentários, que há uma imensidão de pessoas que acham que a “poupança” é para os “pobres”. Amigos, os maiores pobres que eu conheço ganham 1.500 euros por mês e às vezes mais. São os mais endividados, os que desbaratam mais dinheiro, os que gastam e não sabem em quê e que assinam contratos sem saberem o que estão a assinar. Chegam ao fim do mês com menos dinheiro na conta do que as famílias que recebem ambos o tal salário mínimo nacional.

Deixem-me desfazer um “mito” que eu não sabia que existia: Eu faço as reportagens para TODOS (os que ganham 500 e os que ganham 5.000). TODOS (eu incluído) sofrem de uma enorme iliteracia financeira que vai demorar décadas a derrubar. Talvez só os nossos filhos consigam alguma coisa. Pelo menos já estou a ensinar o meu, que tem 15 anos. Quando ele comprar uma casa espero que já tenha 10% para dar de entrada, para não ter de pedir um crédito pessoal. E que não faça um contrato a 42 anos como eu. E que saiba escolher seguros e negociá-los. E que faça um plano para “dar cabo” do crédito 5 ou 10 anos mais cedo para arrendar a casa e passar a ter um segundo salário todos os meses sem ter de “fazer nada”.

O caso da senhora, que publiquei, é o caso mais “extremo” que já me chegou às mãos. O senhor da reportagem (link no início do artigo) conseguiu pagar a casa em 10 anos.  E eu já achei extraordinário…

Conhecer casos como estes a mim MOTIVAM-ME. Não imaginava que casos de pessoas que CONSEGUEM (seja como for) pagar a casa mais cedo ao banco era motivo para chacota, descrédito ou ofensas.

“Ah! Mas então não têm vida…!

Foi o que mais comentaram. Mas o que é que nós temos a ver com isso? São OPÇÕES. E eu aqui no blogue, tenho como objetivo dar a conhecer opções. Muitas das reportagens não se aplicam a mim. Não as faço? Claro que faço. Podem ser úteis a outras pessoas. Não dá para mim? Tudo bem, talvez no futuro aquela informação me seja útil. Ou para alguém ao meu lado.

Jamais conseguirei pagar a minha casa em 5 anos? Tudo bem. Eu já fiz as contas ao meu caso e na melhor das hipóteses conseguirei amortizar uma parcela do meu crédito em 10 ou 12 anos. Fico “ofendido” por ela ter conseguido em 5 anos? Claro que não. Teve ajuda de familiares? Não sei. E depois? Tinha poupanças anteriores? Não sei. Se tinha, é porque foi inteligente. Abdicou de férias e de gastar o subsídio de Natal durante 5 anos? E o reembolso do IRS foi todo para a amortização todos os anos? E se calhar anda com um carro antigo? Ou de transportes públicos? É uma opção. Comprou a casa na cidade? Na província? Comprou uma pechincha e por isso é que conseguiu? Se comprou uma casa que foi uma pechincha só revela a inteligência financeira da espectadora que não comprou se calhar a primeira opção que lhe custaria os olhos da cara. Pode ter comprado a casa num leilão ou uma casa do banco (onde são mais baratas). Sei lá. É assunto deles.

Isso não é para si? Tudo bem. Nenhum problema.

A questão aqui, e dou os parabéns ao esforço deste casal, é que aos 35 anos de idade têm a casa paga. Agora – se quiserem – podem “viver a vida” como quiserem. Aliás, se optarem por outra alternativa, podem pegar no dinheiro que agora vão deixar de pagar ao banco e investi-lo da maneira que entenderem e “reformarem-se” aos 50 anos enquanto eu e muitos de vocês estarão a penar a trabalhar até aos 66 e 7 meses (ou lá o que for). São opções. Pense no que quer da vida.

Deixemos de nos comparar com os outros

A minha intenção com esta partilha era motivar as pessoas a pensarem na sua própria situação e não envergonhá-las por não poderem. Se me conhecem ao longo destes anos por tudo o que publico aqui sabem que isso seria impensável da minha parte.

Algumas pessoas fizeram uma crítica construtiva: Colocar só assim o resultado sem explicar como fizeram é igual a zero. Certo. Este post vinha no seguimento da tal reportagem onde expliquei (penso que de forma clara) como se faz.

No dia seguinte, na SIC Notícias fizemos um programa de 1 hora a explicar com todo o detalhe como se faz a amortização e o que deve ter em conta. Também pode rever esse programa AQUI.

Seja como for, um seguidor do Facebook chamado Luis Marques (que não conheço) fez o favor de uma forma muito clara e sucinta explicar os passos corretos para fazer as contas ao seu caso para baixar a sua prestação e depois eventualmente amortizar e como saber qual é a altura adequada para o fazer. Partilho:

Acho que seria importante antes de aconselhar a malta a pagar a casa, primeiro o seguinte:
1. Pagar outros créditos com juros mais altos primeiro(todos).
2. Mudar crédito de banco e seguros para as melhores condições possíveis.
3. Fazer um fundo de emergência com 6 ordenados, numa poupança líquida mobilizável rapidamente. Para começar 1.000€ de fundo está bom, depois vai reforçando até chegar aos 6 meses de ordenado.
4. Depois de ter pelo menos a base do seu fundo de emergência feito, verificar a TAEG do seu crédito habitação. Se for do género 2.3%, procure um sitio onde consiga uma rentabilidade líquida superior ao que paga no crédito de juros. Comece a dividir o dinheiro que lhe sobra mensalmente entre o fundo de emergência (até ter os 6 meses) e essa aplicação de juros superior mês (como fundos de investimento ou plataformas p2p).
Quando o seu fundo de emergência estiver concluído, começa a colocar tudo o que poupa em investimentos com taxas de juro líquidas superiores à sua TAEG.
Um dia que os juros subam e deixe de compensar, mobilize as suas poupanças (excepto fundo de emergência esse não mexe!), esse e amortize.
Este é o conselho que dou a todos.

Eu não podia estar mais de acordo com o Luis Marques. É este o caminho de todos os que quiserem fazer escolhas financeiras inteligentes a pensar no futuro e não no agora.

Ninguém é obrigado a fazer isto

Quem quer “viver a vida” deve fazê-lo e convictamente. Mas muito sinceramente vão ficar muito frustrados por seguirem este blogue e as reportagens do Contas-poupança. Porque a maior parte das vezes os artigos explicam que pôr o dinheiro a trabalhar para si em vez de ser escravo dos outros exige trabalho, esforço, organização, planeamento e sim, sacrifícios. Não estou aqui para vender nenhuma “banha da cobra”. Não descobri a pólvora. Só descobri que sou responsável pelas minhas escolhas. E que elas afetam (e muito) o meu futuro e o da minha família.

Em resumo, interpretem como quiserem a mensagem da espectadora. Ela acha que fez bem. Há pessoas que acham que fez mal. Outros acham que é impossível. Outros que é ofensivo partilhar casos assim quando a maioria não consegue. Outros descobriram que não conseguem em 5 anos, mas que conseguem em 15 em vez de 35 ou 40. E você, o que acha?


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