Podcast

PodTEXT | Tenho dinheiro para pagar a casa, mas fico sem fundo de emergência. O que faço?

Uma ouvinte vai trocar de casa, mas ainda lhe falta algum dinheiro para ter a totalidade do valor da casa nova. O dilema dela é: tem esse dinheiro no Fundo de emergência e - se o usasse - não teria de pedir nenhum crédito à habitação, mas, por outro lado, ficaria desprotegida em caso de um imprevisto grave. Há alguma estratégia mais inteligente para lidar com esta situação? Respondo neste episódio.

PodTEXT | Tenho dinheiro para pagar a casa, mas fico sem fundo de emergência. O que faço?

[Introdução – Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.

[Ouvinte do podcast]

Bom dia, Pedro. Antes de mais, obrigada pelo serviço que presta. É de facto muito valioso e particularmente tenho aprendido muito. A questão que trago aqui, se conseguir ajudar com pelo menos uma opinião, será a seguinte: tem a ver com a crédito à habitação versus poupanças e fundos de emergência de um ano e meio. Portanto, tenho garantido um fundo de emergência para o meu agregado familiar, somos quatro, portanto, é confortável.

E agora surgiu uma questão, porque gostaríamos de mudar de casa, comprar uma nova casa. A casa que temos agora é nossa, está completamente paga, mas a mudança implica, obrigatoriamente, mais custo. Portanto vamos vender uma e acrescentar algum dinheiro para comprar uma segunda.

Devo utilizar as minhas poupanças em termos de fundo de emergência que tenho para evitar um crédito à habitação ou um crédito num valor que me faltará para a nova habitação? Ou devo manter esses fundos e essas poupanças para qualquer situação e subscrever um crédito para poder comprar a casa, neste caso com o valor reduzido, porque não é o valor total da casa? Muito obrigado.

[Pedro Andersson]                                                                                                

Olá! Muito obrigado pela pergunta. Para já, parabéns. Não são todas as famílias que já têm a casa paga, esse é um dos meus objetivos principais a nível financeiro. Supostamente vou estar a pagar a minha casa até aos 82 anos, mas espero conseguir pagar muito antes disso.

Todos os meus investimentos e rendimentos extra estão direcionados para esse objetivo, embora racionalmente o que faz mais sentido é investir, investir, investir, para mais à frente poder eventualmente amortizar a casa ainda mais rapidamente, ou de uma vez, em vez de ser aos bochechos e para aproveitar o efeito dos juros compostos.

Ou então manter este crédito de habitação e eventualmente aproveitar o dinheiro disponível para comprar uma segunda casa e pô-la a render. Todas estas alternativas estão certas dependendo do nosso perfil e dos nossos objetivos, mas vamos falar agora da sua situação.

Se bem entendi a sua questão, tem a casa paga, não tem nenhum crédito à habitação e vai vendê-la. Já tem outra em vista, vai comprar uma outra casa de habitação própria permanente, portanto, não se põe a questão das mais-valias porque vai utilizar o valor total para conseguir fazer o crédito seguinte, mas ainda lhe falta a diferença, porque a casa a seguir é mais cara do que o valor de venda da atual.

Pelo que entendi, tem um fundo de emergência que é equivalente ao valor que vai pedir de crédito à habitação e agora quer saber qual é a minha opinião. Tenho todo o gosto em dar-lhe a minha opinião, sendo que lhe peço a si e a todas as pessoas que ouvem estes episódios que não considerem que a minha opinião é lei, porque não é. É apenas alguém com quem está a falar enquanto vamos andando aqui no carro e vamos trocando impressões.

Portanto, não tenho a veleidade de pensar que a minha opinião é que está certa. Não quero ter essa responsabilidade. As conclusões que fui tirando ao longo do tempo, dos últimos 15 anos, levam-me a dizer-lhe aquilo que considero ser a estratégia principal para qualquer pessoa em Portugal ter umas finanças pessoais saudáveis.

O primeiro passo é não ter nenhuma dívida. Neste caso, não tem. Tendo alguma dívida, deverá ser o crédito à habitação. E essa dívida do crédito à habitação é algo que pode manter ao longo do tempo, calmamente, porque a outra opção era arrendar e estaria a pagar por uma coisa que não é sua e com a vantagem de normalmente serem juros muito baixos, 2%, 3%, 4% no máximo.

Portanto, é algo que não vai afundar a nossa vida financeira. Esse é o primeiro passo, não ter dívidas, acabar com todas elas. Como não tem, já preencheu o primeiro passo. Isto são os cinco passos do livro Ganhar Dinheiro.

Aliás, na verdade, o primeiro seria ter o fundo base que todas as famílias devem ter, mas também já o tem. O segundo passo, de acabar com as dívidas, também já cumpriu. O terceiro passo é ter um fundo de emergência robusto para entre seis e 12 meses de todas as despesas da sua família.

Pode ser menos ou pode até ser mais, se de acordo com o seu perfil se sentir mais descansado sabendo que se acontecer alguma coisa, durante um ano, um ano e meio ou dois anos, não tem de pedir ajuda a ninguém, então que seja. Portanto, se já tem esse fundo de emergência, já cumpriu com esse terceiro passo, parabéns.

Fiquei só na dúvida, porque dependendo do valor que vai pedir tem de entrar aqui em linha de conta o valor que tem do fundo de emergência, se já é um ano, se um ano e meio, etc. Porque, a partir de um determinado montante, é um desperdício de dinheiro, de juros, de investimento, é um desperdício, de uma forma geral, ter esse dinheiro a render apenas o valor da inflação.

Ou, em alguns casos, é ridículo, mas há pessoas que têm esse dinheiro à ordem. Por favor, não faça isso. No mínimo dos mínimos é colocar em Certificados de Aforro. Portanto, o meu conselho é nunca, mas nunca, fique sem o fundo de emergência. Esta é a minha resposta direta à sua pergunta.

Defina qual é o valor ideal do fundo de emergência e se por acaso sobrar, aí sim pode utilizar esse dinheiro extra para pedir menos crédito à habitação. Não se sinta mal por fazer um crédito à habitação. É perfeitamente normal, mas se calhar em vez de pedir 50 mil euros, se pedir só 40 mil euros já é bom. Já está a usar o seu dinheiro de uma forma inteligente, porque vai diminuir a sua responsabilidade financeira.

Em resumo, é fazer isso, definir o valor do fundo de emergência e pedir o restante. Se sobrar dinheiro, muito bem, aproveita e pede menos ao banco. Caso o dinheiro que tem no fundo de emergência é aquilo que quer manter, então peça a diferença correta para o crédito à habitação e assuma isso com toda a normalidade. É mesmo assim que se faz.

Só tem de ter o cuidado de escolher o melhor crédito à habitação possível, analisando várias propostas de vários bancos e, de preferência, pedindo o crédito durante o menor tempo possível. E não esquecer de escolher bem o seguro de vida associado, escolhendo as boas coberturas e o melhor preço possível, de preferência fora do banco.

Portanto, se seguir estes passos, creio que estará a fazer tudo com uma lógica consciente, inteligente, do ponto de vista financeiro. Se achar que algum destes detalhes que mencionei não fazem sentido, muito bem, nada contra, é fazer aquilo que vocês, enquanto casal, acharem que é melhor para a vossa família.

Agora, pela minha experiência, os imprevistos acontecem, aliás, é essa a definição de imprevisto, quando menos esperamos. Pode estar tudo bem com a nossa família, connosco, com o nosso trabalho, as nossas carreiras, a nossa saúde, a saúde dos nossos filhos e tudo mudar de um momento para o outro. Por isso é que nunca deve abdicar, até ao último dia da sua vida, de ter esse fundo de emergência completo.

Atenção, esse valor não tem de ser fixo toda a vida. Há anos em que tem de aumentar esse fundo de emergência e há anos em que esse fundo de emergência pode diminuir, porque já não precisamos de tanto dinheiro. É flexível e deve ser reavaliado todos os anos ou com a regularidade que acharem importante.

Mais uma vez, muito obrigado por ter enviado a sua pergunta em áudio. Enviem as vossas dúvidas para o número do WhatsApp do Contas-poupança, que é o 92 775 37 37. É um prazer saber que vocês estão desse lado e que estas conversas são úteis para melhorarmos a nossa literacia financeira.

Boas poupanças!

Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro

Respondo a esta questão no episódio desta semana. Já sabe que às quartas-feiras respondo às vossas perguntas. Saber é poder (nas finanças pessoais também). Disponível nas principais plataformas de podcasts:

ou pode ouvir diretamente aqui:

*****

Para além do episódio principal às segundas-feiras, às quartas-feiras respondo às vossas perguntas em áudio.  

ENVIE A SUA PERGUNTA EM ÁUDIO (gravada) PELO WHATSAPP 927753737

Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.

Boas poupanças!

Disponível online, livrarias e supermercados.