[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana.
[David, ouvinte do podcast]
Olá, Pedro, aqui fala David de Aveiro. Muito obrigado pelo seu podcast, que desde há uns meses para cá que ouço sempre e isso permitiu-me perder o medo de investir em ETF, o que nunca anteriormente tinha feito. Inicialmente comecei por investir através da Degiro, depois mais tarde através da XTB e agora fiz um investimento também na Trade Republic.
Tenho investido sempre no mesmo ETF nas três corretoras. No entanto, agora surgiu uma dúvida: enquanto na Degiro e na XTB o ETF, quando sobe ou desce, é mais ou menos o mesmo valor, na Trade Republic o valor é bastante diferente. Será que pode explicar porque é que isso acontece? Muito obrigado e um abraço.
[Pedro Andersson]
Olá! Um abraço para si e para todos os que estão desse lado. Pode haver várias razões, vou tentar falar sobre algumas delas para ver se quem ainda não se meteu nisto percebe como é que funciona isto dos ETF. Para já verifico que há muitas pessoas que até a dizer o nome ainda não perceberam muito bem o que é isto dos ETF.
Na minha opinião, os ETF, Exchange Traded Funds, são fundos de investimento indexados a índices das bolsas. O SP500 são as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, tal como o PSI20 são as maiores empresas da bolsa portuguesa, enfim, e depois por aí fora. Portanto, aquilo que a média dessas empresas subir dia a dia é aquilo que sobe em percentagem o valor que investi. Se desvalorizar, é esse valor que desvaloriza em percentagem o valor que investi. É tão simples quanto isto. Funciona em espelho.
Agora, primeiro ponto que acho que é importante: acho, muito sinceramente, que é um desperdício de esforço e de tempo subscrever os mesmos ETF, relativos ao mesmo produto, em três lojas diferentes. É como eu precisar de comprar leite e vou comprar um pacote de leite ao Pingo Doce, um pacote de leite ao Continente e outro no Auchan. Que sentido faz? Não faz muito sentido.
O que proponho a este ouvinte e a todos os outros é que sim, experimentem as três plataformas e até outras além destas três que mencionou, mas veja sobretudo quais são os custos, as taxas de gestão e o valor que paga por transação. Depois, concentra nessa plataforma os seus investimentos. Assim, quando fizer o IRS, vai ter uma declaração com tudo. Assim, vai ter três declarações para fazer no IRS com entidades diferentes. Enfim, estamos a criar a nós próprios um problema.
Não é um problema, é uma dificuldade, uma complexidade, acho que é a melhor palavra, que é desnecessária. Portanto, o que lhe sugiro é que mantenha como está, mas agora que já conhece as três, escolha uma e mantenha-se nessa. Isto a menos que tenha uma justificação importante para ter as três ao mesmo tempo.
Agora, a sua pergunta é interessante porque, aparentemente, pelo que diz, o resultado não é igual sendo o mesmo produto. Cada uma dessas três corretoras que mencionou, que podemos considerar justo ou injustamente low cost, têm comissões muito baixas, mas que são comissões diferentes entre elas. Mas acho que a diferença no rendimento, na rentabilidade, de cada um desses produtos, esses ETF, não será propriamente um valor muito grande que seja representativo. Será uma décima, duas décimas, três décimas entre cada uma delas. Se as diferenças que sente é nessa ordem de grandeza, está explicado. Mas podem ser muitas outras coisas.
Por exemplo, quando diz que é o mesmo ETF, pode não ser. Basta que, por exemplo, um seja acumulativo e o outro seja distributivo para já haver alterações relevantes ao longo do tempo. Porque se for um ETF acumulativo, sempre que alguma das 500 empresas distribui dividendos, recebe a parte correspondente ao seu investimento e acumula ao valor que tem investido.
No caso de um ETF distributivo, vai receber à parte, na sua conta à ordem na corretora, e mantém-se o valor inicial investido. E isto pode gerar uma diferença.
Outra razão para justificar alguma diferença pode ser que um está em euros e, portanto, não tem volatilidade cambial, é euro e acabou, mas se tiver algum em dólares vai ter de contar também com alterações ligadas ao câmbio dólar-euro, quer no momento da compra, quer no momento da venda e quando está a ver o resultado do seu investimento. Porque se o dólar estiver mais alto do que o euro ou desvalorizar, isso também vai ter um impacto relativo no valor da rentabilidade.
Aquilo que quero chamar a atenção é que, muito provavelmente, é uma coisa muito mais simples do que tudo isto que estou aqui a dizer. É que temos de perceber uma coisa: o mesmo ETF pode ter rendimentos muito diferentes dependendo da data em que o subscreveu, em que comprou a unidade de participação. Se, por exemplo, nas duas primeiras corretoras comprou as duas no mesmo dia, é normal que o rendimento delas daí para a frente, ou desse ETF daí para a frente, sejam muito semelhantes.
Se comprou o outro ETF na terceira corretora um dia depois, uma semana depois, um mês depois, as rentabilidades dessas suas unidades de participação vão ser completamente diferentes. Porquê? Porque as duas primeiras que comprou, vamos imaginar, a cinco euros e a outra comprou a 10 euros. Ou vice-versa.
Ou até vamos diversificar mais. Comprou uma unidade de participação numa corretora no dia 1, comprou outra unidade de participação noutra corretora a dia 15 e na terceira corretora comprou uma unidade de participação no dia 30.
No dia em que comprou é que fixou o preço da compra e é a partir desse dia que o seu investimento vai começar a valorizar ou a desvalorizar em relação ao tempo que passou desde esse momento.
Imagine que compra três garrafas de vinho do Porto de coleção. Uma de 1900, outra de 1940 e outra de 1980. Tem agora na sua garrafeira tem três garrafas de vinho do Porto. É vinho do Porto? É! É vinho do Porto. Até pode ser da mesma marca. Até pode ser da mesma qualidade intrínseca. No entanto, a mais antiga, muito provavelmente, vai valorizar mais do que as outras duas.
E a do meio vai valorizar mais do que a mais recente. A mais recente será aquela que valorizará menos. Imagino que seja esta a explicação para o facto de verificar rentabilidades diferentes do mesmo produto, mas em corretoras diferentes. Acho que não será tanto o facto de serem corretoras diferentes, mas sim o facto de ter comprado as unidades de participação com valores iniciais diferentes.
Por exemplo, se comprou a 100 euros e agora vale 150, valorizou 50 euros. Mas se as mais antigas comprou a 70 euros no mesmo dia em que a outra valorizou 50, aquela outra que comprou a um valor mais baixo está a valorizar 80. Mas isso tem a ver com a data da compra.
Por isso é que é tão importante começar o mais cedo possível a investir, porque não sabemos o que é que vai acontecer amanhã. Se vai subir, se vai descer, mas ao longo dos próximos cinco ou 10 anos a tendência será de subida. Portanto, quanto mais depressa começar, mesmo que seja num dia mau, numa semana má, num mês mau, pelo menos começou. Passou a ter uma referência.
A partir desse dia vai comprar, vai reforçar os seus investimentos de uma forma regular, ou seja, todos os meses no dia X compra mais unidades de participação e põe isso na agenda ou automatiza. Ou então, como já sabe que comprou a primeira a 100 euros, sempre que estiver a 70, 80 ou 90 euros, compra mais.
E se, entretanto, já vai a 150 então sempre que houver uma pequena quebra e estiver a 130 ou a 120 euros, então é aí que vai comprar mais. Porquê? Porque a partir do dia em que inicia os seus investimentos é aí que inicia também a sua referência. Essa é a referência para os seus ganhos. Não é a referência do Pedro Anderson, não é a referência do Zé Manel, não é a referência da Cristina Maria, porque eles começaram a investir num produto naquela data com aquele valor de unidade de participação.
Cada caso é um caso, por isso é que estamos a falar de finanças pessoais e de investimentos pessoais. Espero ter respondido à sua pergunta!
Entretanto, acho que ainda temos tempo para mais uma resposta.
[Ouvinte do podcast]
Boa tarde, Pedro! Queria que me aconselhasse quais os ETF em que posso investir com menor risco. Obrigado!
[Pedro Andersson]
É o produto mais simples que encontrei até hoje, relacionado com a Bolsa, para qualquer pessoa que não percebe nada disto começar a investir e a ter rentabilidades que se vejam. O ETF SP500, e já estou a dar a resposta, são empresas ligadas às Bolsas, são as 500 maiores dos Estados Unidos.
Mas há vários ETF, incluindo da Europa, da bolsa da América Latina, da Bolsa da Ásia, enfim, há ETF de tudo e mais alguma coisa, dos mais variados setores económicos também. É quase infinito porque há ETF a nascer todos os dias, mas para começar, se tivesse de dizer à minha mãe, que tem quase 80 anos, qual era o melhor ETF para começar, diria o SP500.
Primeiro ponto: vai abrir conta numa corretora com comissões baratas. Vou dizer alguns nomes para depois vocês analisarem e escolherem, mas não aconselho nenhuma em particular, para já, porque é um risco enorme fazer isto e vocês têm de pensar pela vossa cabeça.
E como já disse em episódios anteriores, basta ir ao Google e escrever o nome da corretora, ou comparativo de corretoras, ou qual é a melhor corretora, e vão ler muitos artigos e depois chegam às vossas conclusões. Mas que seja uma que tenha custos baixos e que seja supervisionada por entidades credíveis. Depois de abrir conta nessa corretora, vai transferir para lá dinheiro. É como abrir conta num banco.
Depois, no motor de busca dentro da corretora, ou no separador lá em cima, estará qualquer coisa que diga ETF. Então, vai escrever nesse motor de busca SP500 e depois, dependendo do motor de busca, há uns que são mais sensíveis do que outros, pode ser “S & P500” ou “SP500”, mas é mais fácil, provavelmente, escrever só “500” e deverá aparecer.
Mais dicas, só para recordar: escolher preferencialmente em euros, para não ter o risco cambial, e escolher um que diga “ACC” no título, que significa que vai acumular os dividendos em vez de os receber na conta. Se escolher essa opção e tiver esse ETF durante vários anos, todos os anos vai ter de declarar esses cêntimos ou poucos euros e é uma trabalheira desnecessária. Ao menos assim só declara no IRS quando vender daqui a vários anos.
Porque é que esse é o que tem o menor risco? Porque está a investir em 500 empresas ao mesmo tempo, são as 500 maiores e, portanto, mesmo que uma vá à falência, será substituída pela melhor que vem a seguir. Isto garante que tem sempre as melhores empresas do mercado a trabalhar para si.
Portanto, vai estar a pôr o seu dinheiro num índice que replica as 500 maiores empresas do Estados Unidos. Se tem risco? Tem. Mas vai perder dinheiro em que circunstância? Se as 500 maiores empresas dos Estados Unidos forem todas à falência ao mesmo tempo. Acha que isso é provável que aconteça? Eu acho que não.
Por isso é que estou a investir agressivamente, eu que tenho este perfil mais agressivo agora neste momento, porque estou a aproximar-me da idade da reforma e, portanto, quero multiplicar as minhas poupanças. E aquilo que acho que é melhor para mim, mais simples, uma vez que não tenho conhecimentos técnicos profundos, isto para mim está ótimo. Sempre que tenho alguma margem de poupança, coloco no SP500.
Posso garantir-lhe que vai correr bem? Não, de todo. Posso dizer-lhe que, na minha opinião, é o melhor produto para começar? Sem dúvida. Foi por aí que comecei a investir mais, ou seja, é aí onde está o grosso do meu investimento e, portanto, é aquilo que quero partilhar convosco.
O ETF para começar mais simples, mais fácil de compreender e com excelentes rentabilidades, é o SP500. Com esta informação, vocês farão aquilo que muito bem entenderem.
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O que precisa de saber sobre ETF para começar a investir? Basta ter uma corretora ou deve ter várias? Basta comparar um ou deve comprar vários, mesmo que tenham o mesmo nome? E qual é o ETF menos arriscado para começar?
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