
Pode parecer estranho, mas o que o BCE decide nas suas taxas de juro afeta indiretamente as taxas Euribor e os empréstimos a particulares e empresas. Quando o BCE baixa muito as taxas de juro, normalmente não é necessariamente uma boa notícia. É verdade que as prestações da casa baixam, mas é porque a economia europeia está constipada e vamos pagar o preço de outra maneira.
Menos 0,25%
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje reduzir as suas três taxas de juro diretoras em 25 pontos base. Foi o quarto corte deste ano.
Com este corte, a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito reduziu-se para 3%, enquanto a taxa aplicada às operações principais de refinanciamento recuou para 3,15% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez para 3,40%.
Destas 3, a que nos interessa mais - ao contrário do que tem ouvido na maior parte dos meios de comunicação social - é a taxa de refinanciamento (que estava nos 3,40 e que descei agora para 3,15) e não a taxa de depósitos (que estava a 3,25 e que agora fica nos 3%).
Como funcionam as taxas do BCE
A taxa de depósitos é o juro que o BCE paga aos bancos quando eles põem lá o dinheiro que nos colocamos nos depósitos a prazo a render uma miséria. Ou seja, eles recebem 3% e pagam-lhe 1%, 1,5% ou 2% e o resto é lucro para eles sem terem qualquer risco ou trabalho.
A outra taxa - a do refinanciamento - é aquela que influencia a Euribor. Tem aqui o balanço da semana passada. Com a decisão de hoje, deve continuar a descer em todos os prazos. Estamos a acompanhar e partilharemos as novidades.
Inflação está estabilizada (para já)
Quanto ao caminho futuro, o BCE diz estar "determinado a assegurar que a inflação estabiliza, de forma sustentada, no seu objetivo de médio prazo de 2%", sendo que vai continuar a seguir uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião para decidir a orientação apropriada da política monetária.
Na conferência de imprensa para explicar a decisão, a presidente do BCE assumiu que "ainda não está a missão cumprida, mas a inflação está no caminho para atingir a meta de 2% no médio prazo", o que deu confiança para reduzir os juros.
Na discussão, revelou, os membros do conselho chegaram mesmo a discutir um corte de 50 pontos base, mas decidiram que seria de 25 pontos, tendo em conta nomeadamente a evolução dos salários, lucros e produtividade, que "estão num bom caminho".
O BCE divulgou também projeções económicas, que apontam para uma inflação de 2,4% em 2024, 2,1% em 2025, 1,9% em 2026 e 2,1% em 2027. Já para a economia da zona euro, o crescimento foi revisto em baixa para 0,7% em 2024, 1,1% em 2025, 1,4% em 2026.
Taxas Euribor podem já estar a 2% no Verão de 2025
Como é possível observar de seguida no gráfico da Chatam Financial, a previsão é que em maio do ano que vem as Euribor já estejam na casa dos 2% e que continuem em queda até 1,75%.
Se somar um spread, por exemplo, de 0,8% dará um total de 2,8% de taxa de juro do crédito à habitação. E pode chegar a 2,5%. Esta conta é importante para decidir se avança já ou não para uma taxa mista a 2 anos e com que valores.
No gráfico seguinte tem a indicação de como está a correr a descida da Euribor, que apesar de lenta, tem acontecido de forma gradual.
Depósitos a prazo e Certificados de Aforro vão render menos
Se por um lado a descida das taxas de juro é uma boa notícia para quem tem um crédito à habitação a pagar, pode não ser tão positiva para quem tenha poupanças em depósitos a prazo ou Certificados de Aforro da Série F.
Ora, a Série F dos Certificados de Aforro tem um limite de 2,5%, a que acrescem os prémios de permanência, mas quando a Euribor a três meses chegar a menos de 2,5%, os rendimentos dos aforradores também se tornam mais baixos. Naturalmente, os juros dos depósitos a prazo também baixarão.