[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana?
[Ouvinte do podcast]
Olá, Pedro. Espero que esta mensagem o encontre bem. O meu marido e eu fizemos um crédito à habitação há pouco mais de um ano. Além disso, a habitação que comprámos necessitou de obras, gastámos algumas das nossas poupanças na casa, tendo ficado apenas com o nosso fundo de emergência de cinco mil euros.
Neste momento, tivemos um imprevisto: o carro avariou e estamos a pensar comprar outro. A dúvida é se gastamos os cinco mil euros do fundo de emergência para comprar o carro a pronto – e atualmente não se compra grande coisa com esse dinheiro –, ou se optamos por um crédito automóvel, que tem taxas de juro elevadíssimas. Obrigada.
[Pedro Andersson]
Olá! Muito obrigado por esta pergunta, porque permite trazer para a realidade os conceitos de que falámos teoricamente sobre finanças pessoais. Portanto, já sabemos que devemos ter sempre um fundo de emergência, que é entre seis e 12 meses das despesas mensais. No seu caso, ficou agora limitado a cinco mil euros.
O seu exemplo muito concreto permite-nos avaliar se, de facto, a avaria de um carro é ou não uma emergência, ou seja, se há aqui uma razão real que justifica a utilização do tal fundo de emergência e ficar a zeros. Para uma pessoa que, por exemplo, precisa mesmo do carro para ir trabalhar, porque sem o carro não tem qualquer espécie de rendimento, tem de levar os miúdos à escola, tem de utilizá-lo no dia-a-dia, nessas situações, comprar um carro é de facto uma emergência.
Não sei se será o caso. Faço esta avaliação porque disse que estão a pensar se compram um carro no valor de cinco mil euros e ficam sem nada. Portanto, se estão a pensar nisso, suponho que não seja uma emergência imediata, ou seja, não tem de ser esta semana.
Tem ainda a opção de o carro estar avariado, mas poderá ter arranjo, nem que seja temporário. É uma questão de saber se isso seria possível, porque permitia adiar a compra temporariamente, podendo juntar mais dinheiro. Tudo isto são coisas que obviamente terão de avaliar.
Mas respondendo diretamente à sua questão, queria abrir-lhe aqui mais algumas janelas. Primeiro, o fundo de emergência, tal como referi, é mesmo para emergências. Saúde, pôr comida na mesa, uma viagem urgente e inesperada. Essa, para mim, é a definição de emergência. Uma emergência é uma despesa que tem de ser paga esta semana.
Pensar em comprar um carro não é uma coisa que tenha de ser feita esta semana, suponho eu, pela sua descrição. Ou seja, provavelmente ainda pode andar de transportes públicos, pode, em algumas cidades, ir de Uber durante algum tempo, pode pedir boleia a alguém para ir para o trabalho, podem dividir carro se por acaso tiverem dois. Portanto, há várias alternativas.
Outra alternativa pode ser alugar um carro durante um mês, sendo um período mais longo, deverá conseguir um preço mais razoável. Isto é, se calhar com uma despesa de 200 ou 250 euros este mês, se calhar consegue evitar a compra urgente.
Isto serve para lhe transmitir que às vezes a urgência está mais na nossa cabeça do que propriamente na realidade. Agora, aquilo que queria que todos vocês entendessem é que gastar todo o fundo de emergência numa compra grande para evitar juros de um crédito pessoal para a compra de um carro em segunda mão, é como conduzir sem seguro. Ou seja, é arriscado e se correr mal, vai correr muito mal.
Vamos imaginar que compram o carro, usam os cinco mil euros, será um carro que dará para os próximos anos, se calhar uns cinco, eventualmente, se for bem escolhido. Mas se depois surgir de facto a tal emergência, do ter de pagar esta semana, aí vai ter de fazer o quê? Vai ter de pedir um crédito e se calhar a juros muito superiores a um crédito automóvel ou um crédito pessoal.
Porque para fazer um crédito automóvel clássico terá de ser um carro novo, não há créditos automóvel para carros em segunda mão. Portanto, terá de sim pagar um crédito pessoal e, eventualmente, às vezes os stands até têm protocolos com valores especiais e, portanto, pagará 7, 8, 9% por esse crédito.
Se usar os cinco mil euros e não pedir esse crédito, imagine que depois vai ter de pedir dinheiro para uma emergência e se utilizar, por exemplo, um cartão de crédito, aí a taxa de juros já vai para os 16% ou às vezes mais. Ou pode ter de pedir um crédito pessoal e pela urgência pode ter de pagar uma taxa de juro maior e aí vai ser pior a emenda, uma vez que já fica com vários créditos, porque tem o crédito à habitação também.
Portanto, diria que, primeiro ponto, tente adiar a compra do carro, se não for possível, então faça um crédito para comprar esse carro. E porquê? Porque vai conseguir planear essa despesa, ou seja, dividi-la ao longo do tempo, mas mantém a sua rede de segurança.
Agora, atenção aqui a este detalhe. Tanto pode fazer um crédito miserável, com juros altíssimos, como pode, com o tempo, uma vez que não é uma situação hiper urgente, contactar várias entidades de crédito, vários stands, pesquisar no mercado, até encontrar o melhor crédito para comprar o carro. Tente também pedir esse crédito pelo menor tempo possível para evitar pagar demasiado em juros.
Tem ainda uma outra alternativa, que é, sim, pedir um crédito maior para a prestação ser mais pequenina, mas com a estratégia, desde o princípio, que fica só entre vocês, não vão dizer isso à financiadora, que é, ao fazerem o contrato, garantam que fazem um contrato que vos permita amortizar sem serem penalizados assim que quiserem e assim que puderem. O que quer dizer que vão pagar uma prestação pequenina, mas vão começar a amortizar isso o mais depressa possível.
Numa situação prática, vai pedir um crédito, imagine, sete anos ou seis anos, que vai fazer com que a prestação seja mais baixa, mas vai pagar a longo prazo juros, uma quantidade de juros muito mais altos. Imagine que fica com uma prestação de 200 euros por mês, mas além desses 200, vai amortizar logo mais 100 todos os meses que é para despachar isso tudo num ano e meio, dois anos ou dois anos e meio. Esta é a estratégia ideal.
Agora, outra opção intermédia para reduzir esses custos, sabendo que vai estar a pagar muitos juros com esse crédito para comprar o carro, pode, por exemplo, não usar os cinco mil euros do seu fundo de emergência, mas, por exemplo, retirar dois mil euros para dar como entrada desse crédito.
Neste caso, nem é bem dar de entrada, é só pedir um crédito de três mil euros em vez de cinco mil euros, por exemplo. Um valor desses, se for amortizando sempre a mais, despacha isso num instante, mas confirme sempre se pode fazer isso sem custos.
Assim vai manter ainda o seu fundo de emergência, menor, mas depois começa logo a repor o valor do fundo. Há soluções intermédias. O fundo de emergência é mesmo para emergências. Comprar um carro em segunda mão é algo que deve atrasar e planear para pagar a pronto assim que puder. Não sendo possível e não sendo uma emergência, mas sendo urgente, pode utilizar parte do seu fundo de emergência para pedir um crédito menor.
Depois tem duas opções, que é pedir um prazo curto e despachar isso num instante, com sacrifício, ou pedir um a prazo longo para baixar a prestação, mas com a intenção planeada, organizada e determinada de dar cabo desse crédito o mais depressa possível com amortizações antecipadas.
Desejo-lhe as maiores felicidades. Espero que corra tudo bem. O facto de ter feito a pergunta quer dizer que está a fazer a sua parte para que tudo corra bem. Depois é a vida a acontecer. Veja qual é a melhor opção, juntamente com o seu cônjuge, e estejam os dois unidos neste objetivo de aumentar o fundo de emergência, de evitar os créditos ao máximo, começarem a planear o vosso futuro e viverem com qualidade.
Outra opção ainda é tentarem aumentar os vossos rendimentos de alguma forma para depois amortizarem o mais depressa possível esse crédito e aumentarem o vosso fundo de emergência. Muito obrigado por me terem acompanhado em mais este episódio.
Boas poupanças!
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