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PodTEXT | Vale a pena amortizar um pouco todos os meses na prestação do crédito à habitação?

Um ouvinte ouviu o "famoso" episódio da Bruna e ficou com uma dúvida: se o banco não aceitar amortizar o crédito à habitação no prazo, posso amortizar todos os meses a diferença de poupança em relação à prestação anterior? A pergunta é muito inteligente e faz todo o sentido. Dou pistas para a resposta no episódio desta semana. O importante é poupar dezenas de milhares de euros no seu crédito à habitação. Sim, é possível!

PodTEXT | Vale a pena amortizar um pouco todos os meses na prestação do crédito à habitação?

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.

[Ouvinte do podcast]

Olá, Pedro. Antes de mais, quero agradecer todo o trabalho que tem feito. Se há uns tempos me considerava um analfabeto nestas questões, agora já não considero e grande parte é graças a si. Em relação ao último podcast que lançou, a questão da amortização no prazo em vez da amortização na prestação, tenho uma questão.

Se amortizar na prestação vou pagar menos todos os meses, mas se amortizar no prazo a minha prestação mantém-se. A minha questão é: se amortizar na prestação, mas usar essa poupança da amortização na prestação para amortizar mais no período seguinte e fizer isso consecutivamente, os resultados não vão ser iguais a amortizar no prazo?

Ou seja, se o meu banco não me permitir amortizar no prazo, poderei fazer esse truque manualmente, digamos assim, e amortizo na prestação, mas com a poupança que vou ter na prestação consigo usá-la para amortizar mais no período seguinte? Isso não faz com que consiga dar a volta ao facto de o banco, eventualmente, não permitir amortizar no prazo? Muito obrigado!

[Pedro Andersson]

Olá! Muito obrigado pela excelente pergunta e obrigado também pelos elogios. Fico muito feliz por saber que o conteúdo que produzimos aqui ajuda as pessoas a abrir novas janelas na sua vida financeira. Sendo que quero sempre dizer-vos e sublinhar que a responsabilidade é sempre vossa.

Cada um de nós tem uma cabeça para pensar, só precisa é de investigar, confirmar aquilo que as pessoas dizem, não confiem em tudo aquilo que ouvem, veem e leem. Mas é sempre bom saber que há conteúdos que nos ajudam a distinguir ou a abrir novas oportunidades na nossa vida.

Então, ao longo das últimas semanas temos estado a falar sobre esta novidade – pelo menos foi para mim –, da possibilidade de poder amortizar o crédito à habitação no prazo em vez de o fazer na prestação. Em relação ao que o nosso ouvinte acabou de dizer, acho que a sua estratégia, teoricamente, faz todo o sentido.

É aquilo a que nas finanças pessoais chamamos a bola de neve ao contrário, que pode ser aplicada na redução de qualquer dívida. É o oposto do efeito bola de neve a que estamos habituados, que é no mau sentido, que é quando arranjamos uma dívida pequena e à medida que os juros aumentam, acabamos por fazer novas dívidas e, consequentemente, as prestações aumentam também.

Um caso típico é, por exemplo, quando alguém decide pagar uma dívida com um cartão de crédito. Depois não tem dinheiro suficiente para pagar a prestação do cartão de crédito e então faz um novo cartão de crédito para pagar a dívida do outro cartão de crédito e assim sucessivamente. Isto é o efeito bola de neve, mas no sentido trágico.

A bola de neve ao contrário é quando fazemos o inverso, ou seja, quando pagamos uma dívida, pegamos no valor que poupámos na amortização daquela dívida para aumentar sempre a amortização na prestação seguinte. Ou seja, todos os meses estamos a amortizar mais, porque quanto mais poupamos e amortizamos, menor será a dívida seguinte.

Lá está, a bola de neve, mas ao contrário. É como se fosse diminuindo a cada movimento destes. Portanto, aquilo que está a pensar, está a pensar muito bem. Essa estratégia funciona. Agora, quando aplicamos isto a um crédito à habitação, que é o caso da sua pergunta, uma coisa é a teoria, outra coisa é a prática.

E atenção que já fui apanhado por esta surpresa com a pergunta da Bruna em que eu disse que não era possível amortizar no prazo e não na prestação, mas afinal era. Portanto, por favor, digam-se também se isto é possível ou não, se souberem.

É possível e pode já fazer isso a partir do próximo mês. A minha questão é que quando falamos de créditos normais, estamos a falar de valores mais pequenos. Vamos imaginar que amortizo, por exemplo, dois mil euros no meu crédito à habitação. A minha prestação seguinte vai baixar, sim, mas vai baixar quanto? Dependendo do valor em dívida, vai baixar sete, oito, 15, 20 euros?

Este valor multiplicado por 20, 30 ou 40 anos é imenso o dinheiro, mas a questão é: vai dar-se realmente ao trabalho? Há pessoas que se dão esse trabalho e não há nenhum impedimento para que amortize o seu crédito à habitação mais de 15 euros por mês. Agora, o trabalho que isso vai dar, a menos que seja automático, compensa esse esforço? Se compensa, maravilha.

Agora vamos ser práticos. Aquilo que me está a dizer é: em vez de amortizar no prazo, vai amortizar, por exemplo, dois mil euros. Portanto, a prestação baixou. Uma vez que a sua prestação vai baixar 17 euros, daqui a um mês vai pagar a prestação

Portanto, baixou a prestação. Então, uma vez que a sua prestação vai baixar 17 euros, então, daqui a um mês, vai pagar a sua prestação e banco vai à sua conta bancária e tira-lhe o dinheiro. Mas por exemplo, na minha situação, que tenho crédito na Caixa Geral de Depósitos, tenho de preencher um formulário, assinar, digitalizar e enviar por e-mail. Há bancos que exigem que seja presencialmente uma assinatura ao balcão.

E, portanto, se quiser fazer isto por 17 euros, todos os meses, e depois, uma vez que vai amortizar 17 euros, no mês a seguir já são, além da prestação normal do crédito de habitação, 17 euros e 4 cêntimos. E assim sucessivamente. Uma vez que amortizou mais, também vai poupar mais alguns cêntimos e além da sua prestação mensal, vai amortizar, preencher novamente um pedido para amortizar 17 euros e 8 cêntimos. Isto é possível. É possível e funciona.

Agora, aquilo que convido todos a pensar e a fazer contas é se vão dar-se a esse trabalho ou não. Nada contra se o quiser fazer para atingir o mesmo objetivo de amortizar no prazo porque, na prática, vai estar a pagar na mesma uma prestação mais elevada do que se não amortizasse. Ou seja, o ganho em relação à amortização no final do prazo – e agora teria de fazer as contas ao cêntimo –, parece-me equivalente e na prática vai ter mais trabalho.

Quais são as vantagens dessa sua sugestão? É que ao amortizar no prazo ficamos obviamente bloqueados no tempo àquela prestação que será sempre maior do que se não fizesse nada. Assim só vai fazer isso nos meses que quiser e vai continuar a manter uma prestação mais baixa, portanto, fica com maior liberdade financeira para qualquer escolha que queira fazer. Ou em caso de precisar de dinheiro para gerir, vai ter esse dinheiro na sua conta.

Enquanto se amortizar no prazo, fica mais bloqueado. Porque se já pagava uma prestação de 400 euros, pagar em menos tempo significa que a prestação vai subir. Há pessoas, e falarei nisso num próximo episódio porque também recebi um comentário de uma ouvinte, que preferem manter a prestação baixa e decidirem quando é que amortizam ou não, e vão pegando nesse dinheiro e juntando para depois amortizar se o quiserem fazer. E também lembrar que pode investir em vez de amortizar.

Em resumo, a técnica faz todo o sentido, pode é não ser prática do ponto de vista do consumidor, do cliente bancário. Dá algum trabalho, mas nada do outro mundo. É preencher os documentos para fazer amortizações antecipadas ao crédito de habitação ou de qualquer outro crédito.

Essa estratégia implica fazer amortizações de valores ridiculamente baixos, mas que a longo prazo vão transformar-se numa grande bola de neve positiva, porque começa com 17 euros e vai acabar em 300 euros.

Já agora, se me permite, acho que se quiser experimentar, teste essa opção e verifique se de facto é algo prático. E, se for prático, partilhe connosco as suas conclusões. Essa sua experiência será certamente muito útil para milhares de outras pessoas que talvez tenham exatamente a mesma dúvida e que não sabem se o podem ou devem fazer.

Outro alerta que quero deixar é que há bancos, como referi, mais fáceis de utilizar e outros muito mais complicados em que qualquer amortização antecipada é um drama e fazem de tudo para que o cliente desista. Porque a verdade é que sempre que amortizamos é o banco que perde. Sempre que amortizamos é o cliente que ganha. Isto não há volta a dar. É sempre assim. Seja cinco euros, seja 500 euros, seja cinco mil euros. Sempre que amortizar um cêntimo, você ganha e o banco perde.

Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira. É um prazer saber que estão aí desse lado. Juntos vamos melhorando a nossa vida e aumentando a nossa literacia financeira. O dinheiro tanto pode ser o nosso maior inimigo como o nosso maior amigo, sócio e aliado.

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