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PodTEXT | Tenho 57 anos, onde invisto 200 euros por mês?

Uma ouvinte tem 57 anos e 200 euros por mês disponíveis para investir. Mas, por outro lado, teve de retirar dinheiro do fundo de emergência para pagar mais-valias. A preocupação dela é a reforma e o pouco tempo que tem para acumular algum dinheiro que seja relevante. Qual é a melhor estratégia?

PodTEXT | Tenho 57 anos, onde invisto 200 euros por mês?

[Introdução – Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana?

[Ouvinte do podcast]

Olá, Pedro. Antes de mais, quero agradecer-lhe tudo o que faz por nós e todas as dicas que dá nos seus programas, nos seus podcasts e nos seus livros. Recentemente tive o privilégio de ganhar quatro dos seus livros num concurso que fez no Instagram, mas confesso que ainda não tive tempo para os ler. Oriento-me muito pelos seus podcasts, normalmente quando vou para o trabalho ou quando regresso é quando os vou ouvindo.

A minha questão é: tenho 57 anos, faço 58 este ano e, portanto, daqui a dez anos irei reformar-me ou terei o direito de pedir a reforma. Se o Pedro costuma dizer que acordou tarde, eu ainda mais tarde acordei. Tinha já 53 anos quando comecei a perceber alguma coisa de literacia financeira.

Desde aí, tenho feito sempre os PPR para utilização no IRS e mais recentemente comecei a obrigar-me a mim própria a colocar de lado dinheiro para esse PPR, independentemente de usar ou não para o IRS. E ainda mais recentemente transferi grande parte do dinheiro que tinha nesse PPR para a casa de investimentos.

Não sei se fiz bem, porque tem um risco bastante elevado, e tendo em conta que já só me faltam dez anos para a reforma, acho que é uma atitude um bocadinho à kamikaze, mas também se não for assim, se não tiver algum juro de jeito, provavelmente não terei grande qualidade de vida na minha reforma.

Além disso, tenho também dinheiro em certificados de aforro, que são o fundo de reserva, e que vou utilizar este ano para pagar mais valias. Depois tenho algum dinheiro em ETF, tenho também ações e tenho criptomoedas. Isto tudo não ultrapassa os seis mil euros. Então qual é agora a minha dúvida?

Vamos imaginar que consigo poupar 200 euros por mês. Então, neste momento, não sei onde é que devo aplicar esses 200 euros. Se aplico no PPR, no da casa investimentos uma parte e no PPR que tenho no meu banco, caso utilizasse os 200 euros para pagar a prestação da minha casa. Sim, porque tenho um empréstimo que fiz há quatro anos, aproveitando uma situação de incapacidade em que tenho direito a um empréstimo com alguns juros bonificados. É um bocadinho o crédito dos bancários.

Não sei muito bem se devo ir amortizando esse crédito, mesmo que seja com pequenas quantias, como lhe disse, 200 euros por mês. Também não sei se devo pôr de lado e juntar até agosto uns 1500 euros para não ter de ir buscar tanto aos certificados de aforro para pagar as tais mais valias. É esta a minha questão. Obrigada!

[Pedro Andersson]

Olá! Muito obrigado pela sua pergunta. Sim, é verdade, com 50 tal anos já é muito tarde para percebermos como funciona o dinheiro. Em termos de saúde, seria como descobrir aos 50 anos como ter uma alimentação saudável e que devíamos ter feito exercício ininterruptamente desde a nossa juventude. É de facto dramática essa situação, mas não estou muito longe dessa sua realidade.

Portanto, foi um bocadinho mais cedo, mas mesmo assim muito tarde. Aquilo que temos de fazer é aquilo que que estiver ao nosso alcance para mudar para melhor a nossa situação financeira e, sobretudo, trabalharmos para conseguirmos ajudar a acordar os mais jovens, os nossos filhos ou os nossos netos, se os tivermos. Respondendo diretamente à sua pergunta.

Verifico que ainda lhe faz falta ler o livro Ganhar Dinheiro, porque se o ler vai encontrar lá a resposta clara e direta à sua pergunta. Devo dizer que fico muito preocupado quando me diz que vai utilizar o seu fundo de emergência para pagar mais valias. A minha interpretação é que vendeu uma casa, teve lucro e agora vai ter de pagar mais valias sobre esse lucro e vai buscar ao fundo de emergência.

Aquilo que lhe quero dizer é: não vai colocar os seus 200 euros mensais em lado nenhum em investimentos, seja PPR, seja criptomoedas, seja fundo de investimento, seja ações, seja lá o que for, sem ter o seu fundo de emergência ou fundo de reserva, como mencionou.

Esse fundo de emergência é um valor sagrado até ao último dia da sua vida, em que vai ter lá, em capital garantido a render, pelo menos em inflação, esse é o objetivo, entre seis e 12 meses de todas as suas despesas. Esta é a prioridade para todas as famílias em Portugal e reforço, todas, mesmo aquelas que ganham o salário mínimo nacional ou até menos do que o salário mínimo nacional.

Enquanto uma família ou uma pessoa não tem este valor, que arredondaria de uma forma genérica para cinco mil euros ou 10 mil euros, preso, sagrado, que não é para nada a não ser uma emergência de facto, e uma emergência não é pagar mais valias. Aí era uma questão de prevenção.

É verdade que também, em princípio, não se vai endividar e fazer créditos para pagar mais valias. Mas aí coloca mil euros como fundo de reserva, paga o que tem a pagar, que é aquilo a que chamo o fundo base do livro Ganhar Dinheiro, que é o primeiro passo dos cinco passos que lá menciono, e depois começa imediatamente a encher esse balde até ter uns tais cinco mil euros ou mais. Enquanto não fizer isso, não há cá investimentos para ninguém.

Depois, também queria chamar a atenção para outra coisa, que é, para quem não percebia nada de investimentos, neste momento já está a arriscar bastante, embora seja um valor relativamente pequeno face ao tempo que lhe falta para a reforma.

Falou em seis mil euros que tem investidos, além do valor que tem, e que não mencionou, em certificados de aforro. Mas diria que ter, por exemplo, dinheiro em criptomoedas quando tem tão pouco dinheiro para a sua reforma, considero isso muito arriscado, mas se para o seu perfil se sente perfeitamente confortável e está a utilizar a estratégia kamikaze para ver se consegue alguma coisa, deixe-me dizer-lhe que de facto é uma estratégia kamikaze.

Os kamikazes, na Segunda Guerra Mundial, a história deles não acabava bem. Espero que a sua acabe bem. O que quer dizer é que a sua intenção é arriscar para ver se tem sorte e ainda consegue ganhar mais alguma coisa.

Uma vez que ainda lhe faltam cerca de dez anos, diria que pode e deve arriscar um pouco mais além de produtos com capital garantido, mas nunca lhe sugeriria criptomoedas. Um fundo PPR, como esse que mencionou da casa de investimentos, ou outro equivalente, com uma grande percentagem de ações, 70 por 190 de ações, sim senhor, isso é muito arriscado. Mas, pelo menos tem alguma lógica, tem a lógica dos mercados, das bolsas, a criptomoeda não tem lógica nenhuma que eu consiga compreender.

Para os especialistas das criptomoedas e os grandes conhecedores, com certeza terão uma lógica e conseguirão explicá-la. Eu não. Eu tenho criptomoedas, atenção, mas com valores que se eu os perder, durmo muito bem virando a cabeça para o lado.

É nesse contexto que aconselho as pessoas a investir, ou pelo menos a colocar dinheiro, para não utilizar o verbo investir, em criptomoedas. Podem fazê-lo à vontade, não tem nada de ilegal, até pode ser uma estratégia inteligente, mas com dinheiro que pode perder e que não lhe faça falta, porque tanto pode correr bem como pode correr muito mal. E não tem nenhuma rede de proteção. É isso que quero alertar.

Portanto, em resumo, 200 euros será sim para acrescentar aos certificados de aforro, se for aí que tem o seu fundo de emergência. É perfeitamente válido e é uma boa decisão para ter o fundo de reserva e até conseguir voltar a encher esse balde, depois de encher esse reservatório do fundo de emergência.

Aí sim, aconselharia a reforçar o PPR que entender, esse ou outro, não estou aqui para aconselhar nenhum em particular, mas tendo dez anos pela frente, acho que pode arriscar com algum conhecimento de causa e sem ser demasiado impulsiva.

Criptomoedas, como acabei de dizer, acho que, face à sua situação, não é para si. Eu evitaria produtos tão arriscados como esse e colocaria o meu dinheiro em fundos PPR e em ETF clássicos. Esta é a minha sugestão, agora obviamente fará aquilo que muito bem entender e aquilo que lhe parecer melhor.

Estou apenas a contribuir com algumas reflexões para depois tomarem as vossas próprias decisões, porque o dinheiro é vosso. Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma breve boleia financeira. É um prazer responder às vossas perguntas, que enviam em áudio para o WhatsApp do Contas-poupança.

Boas poupanças!

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Respondo a esta questão no episódio desta semana. Já sabe que às quartas-feiras respondo às vossas perguntas. Saber é poder (nas finanças pessoais também). Disponível nas principais plataformas de podcasts:

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Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.

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