Quero começar a investir, mas sinto-me perdido. Por onde começo?
[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Faço de conta que vai sentado/a ao meu lado e juntos vamos partindo pedra sobre como usar o dinheiro como uma ferramenta normal do nosso dia-a-dia e não como algo que é uma fonte de problemas, de preocupações e de ansiedade. Não, o dinheiro é uma ferramenta. Não temos de ter estados de alma em relação ao dinheiro. Usamos ou não usamos, usamos de uma forma eficaz ou não. Há formas mais eficientes de o usar ou não e, portanto, é sobre isso que estamos a falar.
Hoje quero falar sobre por onde começar a investir quando nos sentimos inundados por informação. Começando por uma pergunta que recebi de um de vocês, a explicar que tem dois filhos menores e que gostaria de aplicar algumas poupanças em produtos financeiros para eles e também em nome próprio. Esta pessoa disse também que está num impasse, porque se sente perdido no meio de tanta informação. Umas vezes sente-se totalmente esclarecido e pronto a avançar, outras sente-se com dúvidas e incertezas em relação a onde começar.
Muito bem, vamos então tentar esclarecer, não de uma forma privada a este ouvinte, mas para todos aqueles que sentem exatamente o mesmo que este ouvinte do podcast.
Esta dúvida é extraordinária. Já falei há muito tempo sobre por onde começar. Se for ao motor de busca do Spotify, que é uma plataforma para ouvir podcasts, e escrever uma palavra, vai encontrar essa palavra em todos os 300 episódios deste podcast que se referem a esse assunto. Ou seja, se escrever lá a palavra começar, vai encontrar todos os episódios que têm no título a palavra começar. E vai encontrar com certeza alguns episódios sobre estes começos que é necessário fazer. É incontornável.
Seja como for, acho que seria interessante aproveitarmos esta boleia financeira para falar sobre este começo, especificamente quando nos sentimos inundados por informação, porque quando há informação a mais, é quase tão dramático e incapacitante como ter informação a menos.
E sei que é assim porque eu próprio passei também por essa fase. Há um momento em que temos de começar a filtrar a informação, começar a selecionar a informação, de forma a termos muito claro na nossa mente aquilo que queremos fazer e devemos fazer com a maior eficiência possível e evitando informações erradas. No fundo, estamos aqui a falar de distinções. Distinguir entre o trigo e o joio, entre o bom e o mau, entre aquilo que é verdade e é burla, entre aquilo que parece bom, mas não é. É conhecer as letras miudinhas da vida financeira.
Como escolho um fundo PPR?
Então por onde é que eu começaria? Para já, é normal sentir essas incertezas, mas vamos começar pelo princípio. Vamos começar pelo produto mais simples de todos, que são os fundos PPR, que podemos fazer para nós ou para os nossos filhos.
Ora, o que acontece muitas vezes é que ficamos todos entusiasmados porque ouvimos um podcast sobre os fundos PPR e como estes têm um crescimento muito maior historicamente do que os seguros PPR, e vamos ao banco e dizemos que queremos fazer um fundo PPR para os filhos ou para nós. Se a resposta for que não é possível fazê-lo, aquela inundação de informação, a motivação e o ímpeto de começar vão por água abaixo. Porquê? Porque o banco não tem.
O facto do seu banco não ter não quer dizer que ele não exista. Então agora surge a segunda pergunta: onde é que vou? A bancos que desconheço completamente, a corretoras, a sociedades gestoras de fundos. E agora diz-me assim: mas eu sei lá o que é isso. Por eu também ter passado por isso é que no site do Contas-poupança, sem qualquer objetivo de vender ou promover seja o que for, tenho uma lista de bancos, sociedades gestoras de fundos de pensões ou de corretoras em que fiz os meus PPR.
Foram aquelas que descobri que se dedicam a este negócio, que não são tão conhecidas como os bancos normais, mas que existem e que têm fundos PPR. É tão simples quanto isto. O meu objetivo ao partilhar esses artigos mensais sobre os meus PPR, que neste momento já são 13, é que possa analisar por sua conta a informação que ali está. O facto de estarem ali não quer dizer que eu esteja a aconselhá-los, estou a fazer saber que eles existem e estou a acompanhá-los para ver os resultados que poderão dar. Nesse artigo mensal estão lá os nomes de algumas das instituições que têm esses produtos financeiros.
Antes de fazer seja o que for, vai ter de contactar várias destas entidades, ir à página online deles e ler tudo o que lá está para ficar a saber mais. Para reduzir o excesso de informação é preciso ler e analisar um a um. Não há outra forma de o fazer. Isto é como estudar para um teste da escola, é selecionar matéria para estudar até a perceber.
E como é que vamos selecionar a informação? Vamos ler as mesmas características ou os mesmos critérios para cada um daqueles produtos. No entanto, também é preciso saber o que quer. Quer um seguro PPR? Um fundo PPR? Se sim, mais arriscado, mais moderado ou conservador? Para responder a estas perguntas vai ter de procurar por esse tipo de produto, que se adapte ao que quer, nas várias instituições que sabe que vendem esses produtos.
Se a sua motivação for grande até pode passar o dia a contactar essas instituições e fazer-lhes a seguinte pergunta: estou interessado em fazer um PPR para mim, para os meus filhos, para quem seja, a vossa instituição faz isso? Fazer perguntas não nos obriga a subscrever nada, estamos só a pedir informações.
Se, entretanto, perceber que a instituição que contactou tem PPR, então pode perguntar se há alguma comissão de subscrição e comissão de resgate. Se sim, é riscar da lista, porque significa que quando for levantar os seus lucros ainda vai ter de pagar por isso. Depois pergunta pela comissão de gestão, que essa todos recebem porque é assim que funciona o negócio, e se o valor for entre 1,5 euros e dois euros, no máximo, está ok. Mais alto que isso, só mesmo se quiserem muito aquele PPR em específico.
Depois vai perguntar onde é que pode ver o gráfico com a rentabilidade do último ano, dos últimos três anos, dos últimos cinco anos e dos últimos dez anos. Vai perguntar, se não encontrar sozinho, onde é que pode encontrar esse gráfico e vai pô-lo de lado para analisar e comparar com o outro em que também está interessado. Guarda esta informação e passa para o PPR seguinte que lhe interessa.
Depois de analisar quatro ou cinco PPR já está em condições de escolher um deles. Porque depois há outros critérios. Por exemplo, qual é o mínimo de subscrição? Para uns pode ser 25 euros, para outros 500 e para outros 1500 euros. Se isso para si for um critério de exclusão, pronto, já está resolvido, já reduziu a sua lista mais um bocadinho. Se calhar de cinco já passou para dois e a partir desse momento, é só uma questão de decidir qual é o que prefere.
A partir do momento em que decide, é avançar. Não continue à espera, porque a cada dia que passa está a perder a possibilidade de crescimento e valorização do seu dinheiro.
Depois há uma outra questão: mesmo que coloque no IRS e que se arrependa de ter escolhido o PPR que escolheu, não há problema nenhum porque pode transferi-lo para outro PPR. Seja um PPR seguro ou um fundo PPR. Pondo isto de outra forma, não está agarrado a esse PPR para o resto da vida. Pode mudar, pode transferi-lo, mas atenção que não é resgatar e fazer um novo noutro sítio qualquer.
O que isto significa é que se, entretanto, encontrar outro que lhe pareça melhor, vai a essa instituição e diz que quer transferir o PPR que tem do outro lado, seja qual for o valor que lá tem, para essa nova instituição onde encontrou uma opção melhor. É preencher o formulário e eles tratam disso. Está feito. É um processo que demora dez dias. Está tudo bem.
Portanto, não há aqui um risco imenso por escolher um PPR, porque pode transferi-lo sempre que quiser. E não há aquele drama do crédito à habitação, em que tem de pagar uma nova escritura, novas comissões e multas e não sei o quê. Porque, no caso dos fundos PPR, não tem de pagar comissão nenhuma de transferência. É gratuito. Se for um seguro PPR, aí já tem de pagar 0,5%, se a outra instituição não pagar por si. Têm essa possibilidade. Ou seja, pagam as despesas da transferência por vezes, mas não são obrigados a fazê-lo. Fazem-no se quiserem. O importante é avançar.
Depois pode melhorar, pode deixar de subscrever esse PPR, pode transferi-lo, pode até resgatá-lo, se quiser, desde que não o ponha no IRS. Mesmo pondo no IRS também o pode resgatar, mas depois vai ter de o devolver, caso já tenha passado mais de um ano, tenha entrado no IRS e tenha tido essa dedução, vai ter de o devolver com uma multa de 10 % por cada ano que passou. Mas pode resgatar. Portanto, como vê, não é o fim do mundo se descobrir que se enganou, que errou ou que encontrou melhor.
Como é que escolho um ETF?
No caso dos ETF, o princípio de tudo, estando inundado por informação, é primeiro decidir qual é a corretora em que vai subscrever os ETF. Tem várias e é aí que começa a inundação, porque levanta a dúvida: como é que escolho a melhor corretora para mim se há tantas? Mais uma vez, tem um episódio do Podcast, basta pesquisar, com os vários critérios que pode usar para escolher uma corretora.
E a questão aqui não é ser a melhor corretora, porque a melhor é aquela que se adaptar a si. A XTB, por exemplo, tem uma grande variedade de ETF e comissões muito baixas, mas, na minha opinião, tem demasiada informação para aquilo que eu preciso. No entanto, para pessoas que queiram mais informação, mais gráficos, mais formas de análise, se calhar é uma opção ótima.
A Degiro, por exemplo, tem comissões um bocadinho mais altas, mas ainda se enquadra dentro das corretoras com comissões mais baixas, pelo menos é a ideia que tenho neste momento. Pode, se calhar, não ter tanta escolha como outras, mas são na mesma centenas, ou talvez milhares, de ETF por onde escolher. Para mim chega e sobra, mas isto vai sempre depender do que cada um pretende e procura.
Depois, também tem a Trade Republic, que acho que é tão simples que até uma criança consegue analisar e escolher. Se quiser subscrever ETF SP500 a escolha é muito reduzida, mas se calhar é o suficiente para quem está a começar. Depois há outras, tem a Freedom24, tem a Trading212, enfim, são várias.
Mas então qual é que escolhe e como é que escolhe? Vai pesquisar sobre elas, vai comparar as características das corretoras low cost. Mais uma vez: para esclarecermos dúvidas depois de uma inundação de informação, é preciso ler, mas ler com olhos muito abertos e com a convicção de que está a ler para fazer uma escolha. Não deixe que o medo de não conseguir escolher o impeça de ler e tentar entender.
Depois, é escolher uma. Se estiver a comparar cinco instituições, por exemplo, e analisar uma por semana, em pouco mais de um mês já vai conseguir ter um critério para escolher. A partir do momento em que escolher uma instituição, passa para a escolha de ETF. São muitos, são centenas ou milhares.
E entramos num outro campo, que são as ações, porque depois também vai ter de incluir no IRS, partindo do princípio de que a sua subscrição será de vários anos antes de resgatar. Em caso de dúvida, vai ligar para o apoio ao cliente da corretora que escolheu, destas low cost, e vai colocar essa dúvida. Explica o que procura, quanto tempo quer manter, que valor tem disponível para investir e eles apresentam-lhe as várias opções que têm para os seus critérios.
Portanto, o critério mais importante é, para já, gastar duas semanas, um mês, a estudar o assunto, a ler bastante, a ouvir podcasts. Escolha também alguns vídeos no YouTube com a pergunta que está a fazer e vai encontrar muita informação para comparar com aquilo que já sabe.
Atenção às burlas. Se lhe tentarem vender um determinado produto ou serviço, não quer dizer que seja mau, mas deve ter algum cuidado, tentar perceber quais são os interesses que estão por trás. E depois, sobretudo, avançar com valores pequenos. Não é chegar lá e meter logo 10 mil euros. Não. Comece com 100, 200 ou 300 euros para perceber como é que funciona. Só depois de ganhar experiência e de sentir confiança é que vai pôr mais dinheiro. Essa é uma forma de minimizar os riscos e de aumentar a sua confiança.
Portanto, como vê, tem de começar. Se gastar um mês a estudar um assunto e depois avançar, creio que é um bom começo, independentemente de alguns erros de principiante que cometa, mas se os cometer, será com valores pequenos. E, entretanto, tente falar com pessoas que já o tenham feito. É muito importante. Não fique parado, paralisado pelo medo, paralisado pela ignorância, porque a ignorância resolve-se lendo, ouvindo, falando, e a paralisação do medo resolve-se avançando.
Eu também tinha medo de conduzir, mas avancei. Eu tinha medo de ser pai, mas agora sou pai. Portanto, encontre exemplos de medos que tinha e que avançou e este será apenas mais um. E repare, este não é o medo mais dramático da sua vida. No fundo, o seu medo está a impedi-lo de ganhar dinheiro com o seu dinheiro. Portanto, vamos com calma, meça bem os seus receios e avance, primeiro com conhecimento e depois agindo. É tão simples quanto isto.
Para verem respondidas perguntas mais específicas, podem enviá-las para o número do WhatsApp do Contas-poupança, que é o 92 775 37 37.
Um abraço e boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
Quer começar a investir, mas tem medo e está cheio de dúvidas? Ouça o episódio desta semana para saber por onde começar.
Também pode ouvir o episódio nas plataformas:
Boas poupanças!
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