Recentemente fiz uma reportagem do Contas-poupança em que sugeri que enviassem uma minuta para a vossa seguradora, banco ou entidade financeira a perguntar quanto está a render o vosso PPR.
Pode descarregar essa minuta aqui:
Minuta para pedir toda a informação detalhada sobre o seu PPR
(“Pedido de Informação sobre PPR 2025”)
📎 Anexo
Esta pergunta formal é essencial porque há dezenas de milhares de portugueses que acham que fizeram “bem” ao subscrever um PPR para preparar a reforma e afinal estão a perder dinheiro (literalmente, e quase de certeza para a inflação). Muitos não fazem ideia do produto que contrataram, rentabilidades, das comissões e das condições de resgate e transferência. Vejam este caso exemplar.
Investiu durante 11 anos e o dinheiro desvalorizou mais de 5 mil euros
A leitora do Contas-poupança fez o que sugeri e enviou a minuta para a seguradora onde tem o PPR. Passado algum tempo recebeu a seguinte informação.
Como podem ver, durante 11 anos ela fez 3 entregas que totalizaram 48 mil euros.
Hoje, tem lá 52.010,81 €. Ou seja, a rentabilidade acumulada foi de apenas 4.000 euros. Pode até parecer interessante à primeira vista, mas não se esqueça de que tem de dividir esse valor por 11 anos.
Se fizermos uma conta simples, verificamos que ao longo de 11 anos o crescimento total bruto foi de cerca de 9% (há PPR que rendem isso e mais em apenas 1 ano, obviamente sem garantia).
Se fizermos uma média simplificada, para efeitos pedagógicos, e dividirmos 9% por 11 anos, dá uma migalha de 0,8% ao ano (eu sei que as entregas foram feitas em tempos diferentes). Quero é que perceba que independentemente do rigor técnico da conta, a rentabilidade anual é próxima de zero (não chega a 1%).
Uma das conclusões a que esta cidadã chegou é que às vezes a intenção de fazer um PPR é boa, mas é preciso saber escolher muito bem qual. Há centenas de PPR em Portugal, mas só alguns - muito poucos - têm rendimentos acima da inflação.
O “imposto” da inflação
A inflação é um conceito difícil de entender. De uma forma simples, é uma espécie de imposto que pagamos todos os anos sem nos apercebermos. Os preços aumentam e as coisas ficam mais caras, logo o nosso dinheiro é como se encolhesse com o tempo se não lhe mexermos e se ele não engordar mais do que encolhe.
No caso desta situação, usando o simulador de inflação da PORDATA, para simplesmente MANTER o mesmo poder de compra:
- os 20.000 € de 2014 deviam ser hoje 24.227 €
- os 20.000 € de 2018 deviam ser hoje 23.407 €
- e os 8.000 € de 2019 deviam ser hoje 9.331 €
Feitas as contas, para hoje ter o mesmo valor equivalente ao que investiu, ela teria de ter tido um lucro líquido de 8.965 €. Repito, só para não perder dinheiro. Sem ganhar um cêntimo que fosse.
Como teve - até 2025 - um rendimento de 4.010,81 €, isso significa que depois de 11 anos de esforço de poupança “perdeu” 4.954,19 €. Não perdeu fisicamente, mas perdeu em poder de compra.
Há cerca de 2 milhões de portugueses que têm um PPR. Várias análises revelam que a maioria está com rendimentos abaixo da inflação. E não sabem, ou ainda não perceberam o impacto disso nas suas finanças pessoais.
Dependendo das suas circunstâncias pessoais, tudo o que tenha além do seu fundo de emergência deveria estar a crescer acima de 2% líquidos. Talvez para isso tenha de assumir algum risco, mas tem sempre pelo menos os certificados de aforro, que rendem atualmente 2%, mais prémios. Sempre é melhor do que 0,8%.
Se o seu PPR tiver garantia de capital, poderá ter de pagar uma multa 0,5% se transferir para um PPR que seja melhor para si. Mas faça bem as contas, porque pode compensar muito. Em poucos meses pode recuperar em rentabilidade o que pagar nesta comissão de transferência. Mesmo em seguros PPR há rentabilidades muito melhores do que 0,8%. Mas acima de 3% só em fundos PPR, que têm oscilações ao longo do tempo.
Descarregue a minuta e envie para as entidades onde tem os seus PPR. E depois decida o que fazer. Não tenha medo de lhes dar trabalho.
