Um bom exemplo de educação financeira nas escolas em Portugal
Portugal está nos últimos lugares da Europa em literacia financeira. Isso quer dizer que, para além de ganharmos pouco, ainda por cima temos muita dificuldade em gerir bem o pouco dinheiro que temos. A reportagem desta semana do Contas-poupança mostrou-lhe como algumas escolas estão a ensinar desde muito cedo as próximas gerações a gerir melhor o dinheiro.
Uma primeira nota: este não é o único bom exemplo em Portugal. Há muitas escolas que já dão importância à educação financeira. Mas são uma minoria. E estou convencido de que alunos terem literacia financeira “como deve ser” depende mais da “carolice” de professores e Direções do que da obrigatoriedade que está na Lei de este tema estar presente nas aulas de Cidadania. Uma coisa é o que está na lei, outra coisa é a realidade.
“No poupar está o ganho”
Visitámos a Escola da Guarda, no concelho da Maia, na turma do 4º A.Na disciplina de Cidadania, este semestre é dedicado à Educação financeira. Têm vídeos, cadernos, atividades e uma plataforma digital que são ferramentas criadas e cedidas a mais de 60 escolas públicas pela Fundação António Cupertino de Miranda, do Porto. Há vários projetos em todo o país, apoiados por outras entidades, mas este é um dos mais completos. Chama-se “No Poupar está o ganho” e vai do primeiro ciclo ao secundário (Tem aqui o link).
Nestas escolas, a educação financeira é levada muito a sério. Aqui começa-se muito cedo a fazer as contas que interessam. Ensinam crianças com 8, 9 ou 10 anos a fazer um orçamento mensal e para que serve um fundo de emergência. Algumas destas crianças já sabem o que são créditos, como se calculam juros e como funcionam os seguros. Alguns até ajudam os pais a não gastar mais do que o necessário. Há depoimentos delas muito interessantes na reportagem em vídeo no final deste artigo.
Obviamente, os conteúdos são adaptados à idade dos alunos. Nos anos a seguir, são abordados temas financeiros cada vez mais complexos que vão ajudar os jovens a entrar na idade adulta já a par das principais armadilhas financeiras que muitos adultos desconhecem.
Todas as turmas do projeto aprendem também a história do dinheiro e até podem ver uma das primeiras notas do mundo, uma nota chinesa com cerca de 500 anos, no Museu do Papel Moeda, no Porto. Há turmas que têm educação financeira todas as quartas-feiras.
É obrigatória, mas…
A Educação financeira é obrigatória em pelo menos dois dos 3 ciclos de ensino. Pelo menos é o que diz a lei. Existe até o Referencial da literacia financeira, elaborado pelo Ministério da Educação, em parceria com o Banco de Portugal, CMVM e a ASF, com materiais para os professores usarem nas aulas (Tem aqui o link).
Mas a SIC confirmou que há muitas escolas do país onde, apesar de obrigatória, a educação financeira não é dada em Cidadania por opção das Direções escolares, apesar de muitos professores insistirem nessa necessidade.
Se é pai ou mãe, e acha importante que o seu filho tenha aulas de educação financeira como este exemplo que referi na reportagem, contacte a Direção da escola dos seus filhos e manifeste esse desejo. Ou pergunte quantas horas de literacia financeira já foram dadas este ano letivo na aula de cidadania dos seus filhos.
Estas aulas de literacia financeira nas escolas deveriam funcionar como funcionou o ensino da Reciclagem. O miúdos aprenderam e ensinaram em casa. É assim que se mudam gerações.
Se a sua escola gostaria de ter acesso a este programa da Fundação António Cupertino de Miranda, contacte-os. Desde 2010, esta formação já foi dada a 87 mil alunos, sobretudo no norte do país, com excelentes resultados. Se é professor e quer ter acesso a estas ferramentas contacte-os e pergunte como pode ter acesso a elas. Em relação às ferramentas do Referencial da Literacia Financeira estão disponíveis na internet. O que é preciso é começar.
Enquanto as escolas não avançam de forma universal e em força, terão de ser os pais a começar a ensinar os filhos. Não fique à espera do Estado.
Por ver ou rever a reportagem na página da SIC Notícias.
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