CMVM divulga estudo sobre literacia relativa ao mercado de capitais em Portugal
Este estudo é um retrato muito realista da literacia financeira dos portugueses. Não tenho de concordar ou deixar de concordar com os resultados, mas bate certo com o que tenho verificado ao longo dos últimos anos. Os portugueses têm pânico de investir o pouco (ou muito) dinheiro que têm.
Só para vos dar um exemplo, um leitor do blogue contactou-me porque recebeu um valor muito elevado sem estar à espera (Atenção: nunca queiram receber este tipo de valores, foi devido a uma situação dramática) na ordem dos 100 mil euros e não sabia o que fazer ao dinheiro. Perguntou-me se o devia pôr num depósito a prazo ou nos Certificados de Aforro.
Amigos, se eu tivesse 100 mil euros o meu objetivo natural seria daqui a 5 anos ter duplicado esse valor. E daqui a 10 já ter 400 mil euros e depois 500 mil e depois começar a viver dos rendimentos anuais desse património.
Num depósito a prazo, 100 mil euros dão 100 euros brutos de juro. É verdade que não o perde, mas também não ganha nada que mude a sua vida.
– Ah! Mas pelo menos não perco esse dinheiro. Se o arriscar, posso perdê-lo.
Pois, é aqui que você escolhe o lado do dinheiro em que quer ficar: ou fica no lado dos 7 em 10 que ficam quietinhos à espera que não aconteça nada, ou do lado dos 3 em 10 que arriscam fazer diferente.
E depois ainda há o lado do equilíbrio e do “nem 8 em 80”. Ninguém o obriga a investir tudo o que tem. Não deve. Se tiver 10 mil euros, o que o impede de investir 2 mil?
Claro que tudo isto tem de ser feito com cabeça e com conhecimento. Vai ter de ler muito, fazer muitas perguntas, queimar pestanas e saber o que faz. Não se deixe levar por “banhas da cobra” nem “amigos” que lhe dão dicas fantásticas sem eles próprios saberem o que estão a fazer. Sobretudo, não se precipite nas suas decisões.
O importante é conhecer as várias ferramentas de investimento no mercado e escolher aquela ou aquelas que mais se adequam ao seu perfil. Só não deve é ter medo de coisas que não conhece só porque não as conhece. Se você fosse sempre assim, nunca tinha deixado de ter medo do escuro, certo?
O estudo da CMVM
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) fez um estudo sobre a literacia financeira relativa ao mercado de capitais em Portugal, que caracteriza o perfil do investidor e do não investidor nacional, nomeadamente as suas atitudes, comportamentos e conhecimentos financeiros.
“O conhecimento financeiro tem vindo a aumentar ao longo do tempo” havendo uma melhoria na generalidade “desde o último inquérito em 2015, incluindo nas questões genéricas e no conhecimento sobre investimento”, é referido no estudo “Financial literacy for investors in the securities market in Portugal”.
O estudo envolveu uma amostra total de 15.173 indivíduos e decorreu entre 2020 e início de 2021, já no contexto da pandemia.
Os resultados revelam que:
- Apenas 28% da população portuguesa é investidor (8% já foi investidor) e 64% nunca investiu. Note que, embora pareça dramático, é uma boa melhoria em relação aos anos anteriores. O caminho é longo.
- Existe uma correlação positiva entre as habilitações académicas e a propensão para investir (no entanto, apenas 14% da população tem nível de educação superior);
- Quanto maior o rendimento auferido, maior a probabilidade de o inquirido ser ou ter sido um investidor no passado (no entanto, cerca de 1/3 tem rendimentos inferiores a 1.000€ mensais). Nota minha: Quem está disposto a investir normalmente sabe lidar melhor com o dinheiro e aproveita melhor as oportunidades.
- A população feminina está sub-representada no grupo de investidores (57% são do género masculino).
- Mais de um terço dos entrevistados não poupou nos 12 meses anteriores e a percentagem da poupança permanece abaixo da média EU (7% em Portugal vs 11.96% EU).
- Liquidez e disponibilidade de rendimento são as razões para deixar de investir e começar a investir, respetivamente (31% e 63%)
- Quase um quarto dos respondentes indicam que não leem os documentos contratuais, porque confiam no consultor financeiro ou funcionário do banco (13%) ou porque não os consideram muito importantes (11%).
- 18% dos inquiridos responderam corretamente quando questionados sobre o que é capital garantido na maturidade.
- Programas de formação (49%), workshops e seminários (35%) são as iniciativas que os inquiridos mais recomendariam para aumentar a perceção dos concidadãos sobre os investimentos.
- A TV ou rádio (46%) e a internet (43%) são os meios onde os respondentes maioritariamente procuram informação sobre assuntos financeiros (sendo que o recurso à internet decresce com a idade).
- Quanto aos investidores, apenas 14% dos investidores consulta relatórios divulgados por emitentes enquanto que 60% consulta informação na internet.
Este inquérito é um dos mais completos já realizados à literacia específica sobre o mercado de capitais, e constitui uma ferramenta importante para o desenvolvimento de iniciativas de literacia financeira focadas em dar resposta aos principais desafios, num momento marcado por maior participação de investidores de retalho no mercado de capitais e pela acelerada digitalização das relações de investimento.
Em que perfil se insere neste retrato dos (não) investidores portugueses?
“Pois, é aqui que você escolhe o lado do dinheiro em que quer ficar: ou fica no lado dos 7 em 10 que ficam quietinhos à espera que não aconteça nada, ou do lado dos 3 em 10 que arriscam fazer diferente.”
Da maneira que escreve, até parece que quem não quer investir devido ao alto risco das ações, é um analfabeto ou um atrasadinho.
Eu não invisto porque o mercado das ações é muito especulativo e não estou para perder dinheiro quando basta alguma noticia que saia num jornal que mande abaixo o que durante anos lá metemos.
Basta ver o que se passou com a gamestop para percebermos o quanto o mercado é manipulável. É muito bonito quando sobe, sim senhor, mas quando desce…
Já alguns artigos que tenho lido sobre os fundos de investimento em que é muito critico sobre quem não investe e prefere ter o dinheiro em segurança. Não devia fazê-lo.
Concordo consigo Cfsh, dinheiro que não custou a ganhar e que caiu do céu, até pode ser investido. Agora, dinheiro fruto de trabalho de anos e de muitos sacrificios….só um louco estaria disposto a perdê-lo! Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar!
Olá. Não é uma crítica. É partilhar uma oportunidade que obviamente tem riscos. Um PPR não é um produto de altíssimo risco… Ter tudo na conta à ordem é na minha opinião perder oportunidades de ganhar dinheiro com o seu dinheiro. Investir em ações diretamente é só no fim do campeonato, depois de correr muitas outras ferramentas financeiras. Só digo que não investir por medo não é a melhor justificação. Se depois de ler, investigar e compreender decidir não investir, estou plenamente de acordo. Não deve ir contra o seu perfil. Não vendo nenhum produto ou serviço. Só quero partilhar informação. Depois cada um faz o que quiser :). Obrigado pela sua crítica. Não é minha intenção chamar “analfabeto” ou outra coisa qualquer a ninguém. Se dou essa impressão peço desculpa.
Não precisa de pedir desculpa.
Não me ofendeu apesar de o meu texto não transparecer isso.
É apenas uma critica construtiva.
Como respondi á Fatima Ramos, respeito o seu trabalho e fez bem em obrigar os portugueses a “mexer” nas próprias finanças.
Apenas peço que não generalize tanto.
Cumprimentos
Boa tarde senhor Pedro Andersson.
Quero investir. Nem me importava, por exemplo para começar, investir o subsídio de férias. Pode, por favor, sugerir-me um livro/webinar/ formação ou algo do gênero por forma a abrir um pouco mais o meu conhecimento nesta área.
Desde já agradeço-lhe todo o seu bom trabalho até ao momento.
Grato pela atenção
Com os melhores cumprimentos
Micael Morgado Agostinho
918699640
[email protected]
Grata pela sempre boa ajuda e colaboracao… Tenho aprendido e vou estar sempre atenta, pois já ganhei em saber um pouco mais do q sabia antes. Tem dado bons ex, mas infelizmente até há quem não goste disso e use expressões que não devem. Continue, acredito q há mais pessoas a ganhar do que a o ofender. Bem haja👍🙏💗
Não é disso que se trata. Sempre respeitei o Pedro apesar de o texto do meu comemtário nao o dar a entender.
Ele sabe bem disso e basta ler publicações anteriores minhas.
Daquilo que li em algumas publicações anteriores relacionadas com investimentos, pareceu-me que o não querer investir em produtos de risco seria (não sei de uma expressão correta) parvo, por assim dizer.
Sempre respeitei cada opinião mas peço que também respeitem a minha, pois nem tudo é maravilhas e quando as coisas correm mal, pode correr mesmo mal a serio, ou já se esqueceu do BES e outros?
Talvez grande parte dos portugueses prefiram poupar porque não confiem nos bancos para investir, dado o que se passou em 2008, já pensou nisso?
A melhor maneira de investir é em bens tangíveis , o resto é como jogar no casino .
Algum desse investimento tem valor garantido por 10 anos ? 20 anos ? — Nao !
No entanto existem investimentos com essa garantia . Alguns até teem valor garantido ha mais de 2.000 anos !
no artigo so faltou um exemplo pratico de investimento, os index founds ex. o sp500 sao investimento seguros, desde que existe, tem tido um aumento medio de 10% (este ultimo ano por acaso ate foi de 50%), bem mais seguro do que investir am acçoes isoladas.
Obrigado Sílvio. Os ETF têm sido efetivamente uma boa ferramenta de investimento, se olharmos para o passado.
Vivemos num país onde bolsa é palavra suja, investir é para os exploradores super ricos etc.etc. Assim, com os camaradas da Esquerda, vamos conquistar o último lugar na UE em termos de rendimentos e nível da vida. Nunca estivemos tão perto.
Olá Antónia. Como repito muitas vezes não trago política para o meu blogue. Acho que a literacia financeira não é de direita nem de esquerda. Eu pensava que a bolsa era só para os ricos. Só descobri que não há 2 anos 🙂