Que alternativas há para quem terminar as moratórias (VÍDEO)

Escrito por Pedro Andersson

04.04.21

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8 min de leitura

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As alternativas para quem terminar as moratórias e não conseguir pagar a prestação

Na passada quarta-feira, 31 de março, terminaram 86 mil moratórias privadas. Ou seja, depois de vários meses em que não pagaram nada ou só pagaram juros porque foram afetadas pela Covid-19, a partir deste mês de abril muitas famílias vão voltar a pagar os créditos que tinham, mesmo que a situação delas não tenha melhorado.

A reportagem do Contas-poupança desta semana que passou foi à procura de soluções para quem continua aflito financeiramente.

NOTA IMPORTANTE: Nessa mesma quarta-feira foi aprovado no Parlamento na generalidade o prolongamento dessas moratórias durante mais 6 meses. Acontece que não devem contar com isso como solução para os vossos problemas. Porquê? Porque essa decisão ainda vai ter de descer à especialidade e o PSD colocou várias condições para aprovar essa lei na votação final. E as condições não são fáceis de realizar. Para além disso, o BCE (Banco Central Europeu) já disse que não vai prolongar as moratórias.

Portanto, os bancos até poderiam ser obrigados a prolongar as moratórias, mas sem o acordo do BCE, isso ia criar um problema grande aos bancos nacionais. E a pressão vai ser grande para que isso não aconteça. Portanto, sugiro convictamente que não contem com isso e que avancem com estas sugestões para baixarem ao máximo as vossas mensalidades enquanto não há outra solução. Se entretanto prolongarem as moratórias, será sobre um valor mais baixo. Juntam o útil ao agradável.

Muitas famílias continuam sem conseguir pagar os créditos

Na reportagem mostrei-vos a história de Nuno Serrano. Depois de décadas como Comissário de bordo na TAP, com um emprego estável e bem remunerado, acaba de sofrer cortes drásticos no ordenado. Antes da pandemia, e depois de fazer muitas contas, decidiu investir nesta lavandaria que ficou pronta exatamente no momento em que a Covid parou o país e o mundo. Aproveitou todas as moratórias que estavam ao dispor.

Nuno Serrano garante que nunca deu um passo maior do que a perna. Tinha tudo estudado e fez créditos com a consciência plena de que os conseguiria pagar. Investiu na lavandaria as poupanças que tinha e pediu um crédito para o restante. A moratória salvou-o durante uns meses, mas já avisou o banco de que não vai conseguir pagar as prestaçoes a partir de abril.

Nuno faz parte do grupo de portugueses que com o fim das moratórias privadas em março, não vai conseguir pagar as prestações ao banco por muito que queiram. Há moratórias que acabam em Março, outras em Junho e a maior parte do crédito à habitação em Setembro.

Contacte imediatamente o banco

A partir de Abril quem aderiu às moratorias privadas da Associação Portuguesa de Bancos vai ter de voltar a pagar as prestações. Outros créditos como o automóvel vão voltar a ser pagos a partir de Junho. Se continua numa situação difícil o que deve fazer é contactar imediatamente o seu banco, pedir uma reunião e fazer uma destas propostas.


Negoceie a taxa de juro do seu crédito

Se paga 2 ou 3% de juro, pode pedir ao seu banco que baixe a sua taxa de juro. Há bancos na concorrência que estão a fazer 1%. Use essa informação (e simulações) para negociar com eles. Diga sempre que quer pagar e honrar os seus compromissos mas que está a prever dificuldades e que por isso se baixassem a taxa de juro isso podia facilitar o pagamento sem falhas.

Não quer dizer que aceitem, mas deve fazer este pedido/sugestão. Não são obrigados de todo a fazer esta alteração ao contrato. Normalmente, o mais eficaz é mesmo mudar de banco, de preferência para um que pague todas as despesas de transferência. Só consegue fazer isto ANTES de entrar em incumprimento. Por isso é que é urgente que meta os pés a caminho.

Peça para aumentar o prazo do crédito

Se o banco se recusar a alterar a taxa, experimente pedir para aumentar o prazo do crédito em 1 ou 2 anos ou 5 ou 10 anos. É sempre mau porque no total vai pagar mais juros, mas pode ser a solução para baixar a sua prestação mensal. E assim que a sua situação financeira voltar ao normal, volta a negociar um prazo mais curto, no seu banco ou noutro diferente.


Peça um período de carência

Também pode pedir um período de carência. Ou seja, só paga juros durante 2 anos (é o prazo mais normal). Esta foi a solução que me “salvou” em 2008, quando percebi que dentro de 3 meses não ia ter dinheiro para pagar as prestações ao banco.

Foi assim que nasceu o “Contas-poupança”. Foi a bater com a cabeça na parede que aprendi a lição financeira da minha vida: perceber para onde ia o meu dinheiro e (re)negociar tudo, mesmo que demore meses ou anos.

Peça um diferimento de capital

Pode propôr ao seu banco que a última prestação do contrato seja de 30, 40 ou 50 mil euros. Paga entretanto juros sobre o total mas só amortiza o valor sem a última prestação. É o meu caso. Tenho o famoso na altura T30 da CGD. Vou pagar uma última prestação de 50 mil euros quando tiver 82 anos. Surreal, mas baixou a minha prestação. Também pode ser uma alternativa. Pergunte se é viável.

Negoceie o seguro de vida

É uma das maiores despesas mensais e quase nem damos por ela. Há situações em que o seguro de vida já é metade ou mais de metade da prestação do crédito à habitação.

Se tem mais de 45 anos, o valor aumenta muito todos os anos. Peça para manter as condições do seguro de vida mas que fique a pagar menos. Milhares de pessoas já o conseguiram fazer. Eu próprio já fiz isso 3 vezes.

Peça uma consolidação de créditos

Também pode pedir uma consolidação de créditos. Ou seja, junta o crédito pessoal, os cartões de crédito e o crédito automóvel ao seu crédito à habitação, por exemplo, e pode baixar as suas prestações globais para cerca de metade.

Lembre-se de que em todas estas situações vai pagar mais juros no total do prazo, mas pode ser a solução para o seu problema imediato.

Acione o PARI ou o PERSI

Se no fim disto tudo nada resultar, acione um mecanismo legal chamado PARI, se ainda não entrou em incumprimento ou o PERSI se já entrou em incumprimento. Num próximo Contas-poupança vamos explicar em detalhe como funcionam estes dois planos. Mas para já, fixe isto: Basta ir ao banco e dizer que quer acionar o PARI.

Os senhores do banco sabem com detalhe do que é que está a falar e são obrigados por lei a iniciar o processo. Não quer dizer que consigam chegar a acordo, mas são obrigados a apresentar-lhe propostas.

Na prática, primeiro deve tentar chegar a acordo com o banco a bem, se não der, tente o PARI ou o PERSI.

Em resumo, se prevê que não vai conseguir pagar as prestações quando acabarem as moratórias tem estas alternativas:

Vá ao seu banco e peça para:

  • Baixar o juro do seu crédito
  • Aumentar o prazo do empréstimo
  • Pedir carência de capital durante 2 anos
  • Veja se pode baixar o seguro de vida
  • Tente a consolidação de créditos
  • Transfira o crédito para um banco mais barato
    E se nada disto resultar, peça para acionar o:
  • PARI ou o PERSI

Não fique é sentado no sofá à espera de uma solução “milagrosa” do parlamento ou do governo. Pode acontecer, pode não acontecer. Ninguém está a dizer que vai ser fácil mas não se deixe vencer pelas adversidades facilmente. Se depois destas sugestões todas, não consguiu resolver a sua situação, pelo menos poderá dizer que fez tudo o que estava ao seu alcance.

Lembre-se: o seu objetivo número 1 é NUNCA falhar uma prestação. Se não pagar, a sua situação fica 10 vezes mais difícil.

Pode ver ou rever a reportagem em VÍDEO neste link na página da SIC Notícias:

https://sicnoticias.pt/programas/contaspoupanca/2021-03-31-Saiba-o-que-pode-fazer-para-ultrapassar-o-fim-das-moratorias-9001d961


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10 Comentários

  1. Cfsh

    Infelizmente, continuamos a não aprender com o passado. Segundo li, mais de 500 mil entregas de IRS no primeiro dia. A meu ver, isto quer dizer só uma coisa.
    Tivemos uma boa lição em 2008 mas infelizmente, continuamos a dar cabeçadas porque continuamos a olhar ao consumismo, a ir na conversa das financeiras e a querer grandes vidas com pouco dinheiro.
    À minha volta, pouco de diferente vejo e vejo pior ainda nos mais jovens. Infelizmente.

    Responder
  2. laorcisse

    Quem passou pela crise de 2008 aprendeu a liçao . Quem nao aprendeu … temos pena … ( ou não )
    As crises sao ciclicas , de 10 ou 8 anos acontece sempre algo “estranho na economia” .
    Facilmente alguem com experiencia de vida sabe que é assim , nao é preciso ser economista ou dr e outra coisa qualquer.
    O meu avó hoje com 82 anos previu a de 2008 e avisou me a proxima seria em 2019 . Nao falhou muito …

    Responder
  3. Marco Afonso

    Só uma pergunta sobre moratórias que talvez consiga ajudar. Eu pedi moratória do meu crédito em outubro do ano passado e entretanto vendi o apartamento e pedi a liquidação do meu crédito. Qual o meu espanto quando recebi nas “contas do banco” uma parcela referente a juros. Perguntei ao meu gestor de conta o porquê daquela parcela e a resposta foi “esses Juros prendem-se com o prazo em que o v/ crédito Habitação esteve sob moratória”.

    É normal ter de pagar Juros sobre o tempo em que o crédito ficou sob moratória? A Moratória não suspendia a prestação e os juros?

    Responder
    • Pedro Andersson

      Olá. Mas acha que lhe ofereciam os juros? Claro que tem de pagar 🙂

      Responder
      • Marco AFonso

        Claro que não estava a espera que me oferecessem algo mas confesso que não tinha percebido que ao haver uma moratória/suspensão, que os juros continuariam a contar. Sempre pensei que se houvesse uma moratória de, por exemplo, 6 meses, durante esses 6 meses não seria contabilizado o juro.

        Responder
        • Pedro Andersson

          Moratória significa adiamento :). Não significa perdoar ou anular. Não paga agora paga depois.

          Responder
  4. Paulo Guerra

    Bom dia, quando se fala em renegociar o seguro de vida, falamos em baixar as condições ? E assim pagar menos?
    Obg

    Responder
    • Pedro Andersson

      Olá. Claro que não. Sempre mantendo as condições ou melhores… E mais barato.

      Responder
    • Pedro Andersson

      Na minha última renegociação baixei a incapacidade de 66 para 60%, de 80 para 82 anos e a pagar menos 30 euros por mês.

      Responder

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