[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.
[Mário, ouvinte do podcast]
Boa tarde, Pedro. O meu nome é Mário Pereira, 34 anos. Começar por, como é hábito, agradecer todo o trabalho que tem feito em prol da literacia financeira dos portugueses. No meu caso, apesar de já conhecer o seu trabalho nas reportagens que faz no canal, só há menos de um ano me tornei um ouvinte assíduo do podcast.
E devo dizer que foi uma revolução, porque nesse período já fiz um PPR para mim e para a minha esposa, ambos de perfil agressivos, temos também um PPR para cada um dos nossos filhos, um deles com dois anos e outro um bebê de três meses. Temos também três ETFs, um deles o famoso SP500, mas todos eles a render muito, muito bem, para lá da inflação. Os ETFs são reforçados mensalmente.
Temos ainda o fundo de emergência, o fundo de maneio e não temos qualquer tipo de empréstimos pessoais, apenas o crédito à habitação. Acho que, por isso, e com algum orgulho e até com alguma responsabilidade, posso dizer que já nos encontramos no quinto passo do método Ganhar Dinheiro.
A minha pergunta é como é que continuamos a diversificar a partir daqui? Ou seja, além dos ETFs, além dos PPRs, além de algum dinheiro em certificados de aforro e outras ferramentas de capital garantido, qual é que o Pedro acha que seria o próximo passo para continuar a diversificação?
Confesso que sou bastante adverso ao investimento em imobiliário, por isso estava à procura de um tipo de diversificação diferente. Mais uma vez, agradeço todo o seu trabalho e, se me permite, envio-lhe um abraço conterrâneo a partir da Covilhã.
[Pedro Andersson]
Olá, viva! Um abraço também para si, um conterrâneo. Crescia na Covilhã, numa aldeia chamada Paul, e estudei na Covilhã. Essa experiência foi muito importante para mim e tenho muitas saudades dos momentos que lá vivi. Apesar de viver em Lisboa desde os 20 e tal anos, é importante ter crescido numa aldeia, porque permite-nos ter um olhar mais robusto sobre a realidade. Permite-nos perceber quais são as necessidades, vantagens e desvantagens de viver no interior do país e vantagens e desvantagens de viver numa grande cidade.
Vamos lá responder à sua pergunta. Em primeiro lugar, parabéns. Estão a fazer tudo bem. Recolheram a informação que acharam necessária, pensaram pela vossa cabeça e acharam que esse era o melhor caminho para começar a preparar o vosso futuro e dos vossos filhos.
Escolheram ferramentas que já são clássicas em Portugal, não são burlas, não são ferramentas gananciosas, no sentido em que as pessoas arriscam demasiado para obter resultados rápidos. São ferramentas de resultado lento, mas praticamente garantido, mas claro, sempre lembrando que nada é 100% garantido. Foram opções que fizeram sentido para vocês e cumpriram esses objetivos.
Em resumo: já têm fundo de emergência, já fizeram PPRs para todos, já têm ETFs, sendo que um deles é o SP500, portanto, já estão também a diversificar nos ETFs. Excelente. Agora, partindo do princípio que ainda vos sobra dinheiro para investir – pelo menos foi a minha interpretação da sua mensagem –, vou partilhar a minha experiência, que vale tanto como a vossa. Isto é apenas para vos abrir mais janelas, não têm de fazer o que estou a dizer, é apenas para tomarem conhecimento das opções.
Primeiro ponto: fazer um PPR é mais do que simplesmente pôr algum dinheiro num PPR ou em vários e esquecer esse dinheiro e deixá-lo crescer. Quero dizer com isto que, para esta estratégia funcionar e chegarmos à idade da reforma com valores que mudem a nossa vida para melhor, exige reforços mensais constantes e que se adaptem aos nossos rendimentos.
Portanto, há duas formas de fazer um PPR. Uma forma é pegar, por exemplo, em mil euros, dois mil, três mil, o que for, e fazer um PPR. Mas se crescer 100%, dois mil euros, por exemplo, transformam-se em quatro mil euros. Se é bom? Claro que sim, é excelente, mas são apenas quatro mil euros. Quando me diz que já fez um PPR para todos os membros da família, coisa que eu também já fiz, e que tem ETFs, tenho de partir do pressuposto de que está a reforçá-los mensalmente ou com a maior regularidade possível. Só assim é que o seu dinheiro vai crescer no bolo grande, não é a percentagem do que crescer esse valor que colocou lá inicialmente.
O ideal é começar logo com um valor relevante. Pode ser mil euros, dois mil, três mil, cinco mil, dez mil euros. E depois, a partir daí, reforçar com 50€ por mês, 100€ por mês, 200€ por mês, 300€ por mês, ou o que considerar que é o mais útil para atingir o seu objetivo. Tudo depende de quanto dinheiro quer ter na sua reforma. E os simuladores permitem-lhe fazer essa conta utilizando a ferramenta dos juros compostos.
Este é o primeiro ponto e é a primeira lição de literacia financeira que queria dar nesta resposta específica à sua pergunta. Não é só fazer, é fazer e reforçar mensalmente, ou pelo menos anualmente. A vantagem de reforçar mensalmente é que vai apanhar todas as fases do mercado, as boas e as más. É nas más, como sabe, que ganha dinheiro no futuro, reforçando quando os mercados estão em queda. Mas também pode fazer isto mensalmente à data X, que é como eu faço para os meus dois filhos, portanto, é uma ordem automática.
Portanto, se já reforçam os PPR, se já reforçam mensalmente os ETFs, acho extraordinário que queira diversificar ainda mais. Porque isto já é ter quatro PPRs e ter três ETFs, já é uma excelente diversificação, partindo do princípio que são de setores diferentes.
Mas vou responder à pergunta e depois no final vou dar uma dica adiciona que é, se quer diversificar ainda mais, tem um mundo para explorar. Já disse que não gosta de imobiliário. Eu também ainda não gosto porque não experimentei, porque preciso de abdicar de um valor relevante dos meus investimentos, com os quais estou a obter bons resultados, para dar como entrada para uma casa e depois vou ter as chatices de ser senhorio.
Vou ter de ter uma grande organização, vou ter de reservar dinheiro para obras no futuro, vou ter de tratar do IRS de mais esse rendimento, etc. E, para já, também não tenho interesse em avançar para isso. Mas estou a pensar em fazê-lo no futuro.
Além dos PPR e dos ETFs, vou apenas fazer uma listagem de outras ferramentas financeiras que tenho e vou falar dos rendimentos médios de cada uma dessas ferramentas. Ora, também tenho fundos de investimento, que no fundo são os PPR, mas sem as vantagens fiscais dos PPRs. Mas, como são mais arriscados, têm alguns deles um rendimento maior do que os PPR. Há fundos de investimentos setoriais, ligados à tecnologia, ligados ao grande consumo, regionais, regionais a nível internacional, portanto, ou dos Estados Unidos, ou de países emergentes, ou de um determinado país da Europa, ou de um determinado setor dentro das marcas comerciais.
Enfim, tenho vários fundos de investimento em vários bancos e corretoras. Basta contactar o seu banco ou os seus bancos e perguntar que fundos de investimento é que aconselham para o seu perfil. Tem moderados, tem agressivos e tem conservadores. Os fundos de investimento que tenho, alguns estão a render entre 40% e 70%, mas porque já comecei há cinco ou seis anos, portanto, é preciso anualizar estes valores.
Também tenho ferramentas peer-to-peer, P2P, ou seja, em que empresto dinheiro a empresas, pequenos empresários, e depois eles pagam-me juros. Tenho duas dessas ferramentas: a GoParity e a Raize, ambas portuguesas, e tenho rendimentos na ordem dos 4%. Isto são tudo valores brutos.
Além disso, também arrisquei em criptomoedas. Tenho três criptomoedas: Ethereum, Litecoin e Bitcoin. Há centenas, se não milhares de criptomoedas. É preciso saber o que está a fazer. Eu arrisquei apenas por literacia financeira e já tive valores bastante relevantes em criptomoedas. Já tive uma criptomoeda que me correu muito, muito mal e que perdi praticamente tudo o que lá pus.
Neste momento em que estou a gravar, na Bitcoin estou a ganhar 4, 5, 6, 7%, o que é muito pouco, mas já ganhei 500% em Bitcoin há uns anos. Ainda estou a utilizar o dinheiro que lucrei nessa altura para este reinvestimento. Na Ethereum, e tudo isto depende da altura em que começou, estou a ganhar cerca de 50%. Também este valor tem de ser anualizado. Tudo isto é muito mais arriscado do que essas duas ferramentas que já tenho. Também tenho certificados de aforro, mas já não tenho depósitos a prazo, há anos e anos.
Também tenho alguns PPR muito mais arriscados, que são 100% de ações. Tenho outro PPR que fiz recentemente, que não tem nada a ver com os Estados Unidos e é feito só com setores de negócio muito específicos e que também tenho muita curiosidade para ver como é que vai correr. Portanto, arrisco também um pouco em coisas que não conheço muito bem para ver como corre.
Também há quem invista em REITs, que são fundos de investimento imobiliários. Não compra nem vende imóveis, mas coloca dinheiro em fundos que investem em imóveis. Vou dar um exemplo: há um determinado fundo de investimento imobiliário, que tem a maior parte de uma marca de hipermercados. Portanto, todos os armazéns grandes onde está essa marca de hipermercados são geridos por esse fundo imobiliário.
É como se um pingo doce desta vida, ou um continente, ou outro qualquer, me pagasse renda mensalmente ou anualmente por eu estar a arrendar esses espaços a essas grandes empresas. Podem ser centros de escritórios, podem ser centros comerciais, raramente são casas particulares.
Tem por aqui muitas coisas para começar a ler, a investigar e a perguntar. Mas aquilo que lhe queria dizer, voltando ao início com a grande dica que lhe queria deixar, é que não deve diversificar demasiado. E porquê? Porque fiz as contas ainda há cerca de 15 dias.
Eu e a minha mulher estávamos a analisar o nosso portefólio de investimentos e estivemos a contar todas as ferramentas diferentes e instituições onde temos dinheiro, e chegámos à conclusão de que são mais de 20. Portanto, temos dinheiro em mais de 20 produtos diferentes. Eu não aconselho isso a ninguém. Não vale a pena. É demasiado.
Eu faço isto por missão financeira, para poder partilhar informação convosco. Eu não me sinto à vontade em falar-vos de um produto sem eu o ter, sem eu o perceber, sem saber quanto é que custa subscrevê-lo, quais são as comissões, como é que essas empresas comunicam connosco, quanto é que se paga se resgatar e depois como é que se preenche isso no IRS quando resgato.
Portanto, eu quero saber isso tudo para saber do que falo. É essa a razão pela qual faço isto. Mas não aconselho a ninguém porque é muito difícil controlar tudo e estar em cima de tudo. Assim, o conselho que lhe dou é escolha, se quiser, mais um produto. De entre todos estes que mencionei, já é uma boa lista, e procure saber como funciona.
Agora, acho que se está a esquecer de uma coisa fundamental. Já disse que tem um crédito à habitação e disse que estava no quinto passo do livro Ganhar Dinheiro. Ora, esse método que eu menciono implica, no quinto passo, amortizar a sua casa. E, portanto, diria que, estando controlado o presente, estando controlado o futuro, já estando a pôr dinheiro de lado para cumprir outras metas intermédias a médio prazo e a longo prazo, então deve começar a pensar como investimento em liquidar o seu crédito à habitação.
Se eu não fizesse nada, estaria a pagar a minha casa até aos 82 anos. Neste momento, já estou muito perto de liquidar completamente o meu crédito à habitação. Isto vai permitir-me ficar livre, completamente, de todos os créditos e de todas as responsabilidades com entidades financeiras, 20 anos mais cedo. Vou estar livre, eu e a minha família, 20 anos mais cedo daquilo que eu considero uma espécie de prisão domiciliária.
Ora, eu consegui em 15 anos, que são os anos que tenho de Contas-poupança, pôr as minhas contas em ordem, fazer o meu fundo de emergência, começar a investir e já estar a ver resultados, quer dos meus investimentos, quer do meu esforço em conseguir rendimentos extra além do meu trabalho.
A soma de tudo isto está a permitir-me amortizar com alguma regularidade o meu crédito à habitação. Às vezes, mil euros por ano, dois mil euros por ano, podem fazer uma diferença gigantesca, quer na mensalidade, quer no tempo de liberdade que vai ter.
Por exemplo, fiz esta conta muito simples. Pagava normalmente 500 euros de mensalidade. Assim que me vir livre do meu crédito à habitação, é como se recebesse um aumento no meu trabalho de 500 euros por mês líquidos. E se somar o seguro de vida associado ao crédito à habitação, ainda passa para mais. Só o simples facto de estar a amortizar faz com que, em vez de estar agora a pagar, se calhar, 150 ou 170 euros por mês só de seguro de vida, estou a pagar apenas cerca de 40 euros.
Portanto, não se esqueça também dessa ferramenta de investimento que não lhe põe dinheiro no bolso, mas que lhe deixa dinheiro na conta para gerir, como muito bem entender, melhorando a sua qualidade de vida e da sua família. E, eventualmente, essa diferença que não vai estar a pagar ao banco é dinheiro que vai pôr a investir e a ganhar dinheiro para si. Isto é absolutamente essencial.
É verdade que pode pôr o seu dinheiro, em vez de amortizar, em investimentos e ganhar mais do que os juros que está a pagar ao banco? Sim, pode ser verdade. Mas digo-lhe muito sinceramente, até hoje, nunca conheci ninguém que tivesse liquidado o seu crédito à habitação e que se tivesse arrependido de o ter feito. E eu vou chegar também a essa fase.
E se me arrepender no futuro, daqui a cinco anos, também vos direi que estou arrependido e que não o devia ter feito. Mas estou convencido que vou sentir uma liberdade, uma paz tão grande, mas tão grande, que farei uma festa para comemorar a minha libertação desta prisão que é ter um crédito à habitação.
Espero ter respondido à sua pergunta. Falei-lhe de várias ferramentas, mas acho que acima de tudo, uma coisa muito importante, é recordar sempre que não é só fazer um PPR ou fazer um ETF e deixá-los crescer. É importante que esses valores, dentro de cada uma dessas ferramentas, se multipliquem.
Ou seja, não é por ter dois ou três mil euros numa dessas ferramentas que já atingiu os seus objetivos. Não. O importante é que consiga retirar o dinheiro que precisa para a sua reforma porque, à partida, vamos viver cerca de 20 anos além da idade da reforma. É o que dizem as estatísticas, vale o que vale. Portanto, podemos viver mais um ano ou mais 30. Não sabemos. Podemos até nem chegar à idade da reforma. Mas pronto, prepara as suas contas para 20 anos após a reforma.
Portanto, 500 euros vezes 12 meses, vezes 20 anos, dá aos tais cerca de 100 mil euros. Portanto, se forem duas pessoas, estamos a falar de 200 mil euros. Se quisermos ajudar os nossos filhos, se calhar estamos a falar de 300 mil euros. Portanto, é desta ordem de valores que acho que as famílias normais, com rendimentos normais de 1200, 1300 euros, devem ter.
Eu sei que muitos de vocês estão a pensar que isso não é um rendimento normal, mas, estatisticamente em Portugal, estes são valores normais de rendimentos, tendo algumas habilitações profissionais. Portanto, não pensem que não é possível. É possível. E podemos falar sobre isso num outro episódio.
Mas, em resumo, a sua intenção não deve ser apenas diversificar para se proteger, mas que, em média, a soma de todas as suas ferramentas rendam líquidos, em média, 7% ao ano. Com 7% ao ano, de poucos em poucos anos, com o efeito dos juros compostos, consegue duplicar as suas poupanças. Tente equilibrar isto.
Diversificação sim, mas reforços mensais e relevantes também, porque é isso que lhe vai permitir atingir o seu objetivo daqui a X anos. Traça uma estratégia, modifique ao longo do tempo, se possível amplie essa diferença. Acho que esse é o caminho mais equilibrado, inteligente e que exige menos esforço financeiro, mental e emocional. Muito obrigado.
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