[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. O tema deste podcast é a poupança. Lembrei-me a propósito do Dia Mundial da Poupança, celebrado no final de outubro.
Normalmente, não assinalo este dia, porque no Contas-poupança todos os dias são dias para poupar. No entanto, pensei fazer um resumo para mostrar a todos a importância de termos controlo sobre a nossa vida financeira. Isso fez-me pensar nos velhos tempos, maus velhos tempos, em que pensava que tinha o meu dinheiro controlado.
Essa ignorância faz-nos pensar que está tudo bem, que vivemos dentro das nossas possibilidades, mas é uma falsa sensação de segurança. Assim, neste episódio, quero alertar-vos para 10 erros que acho que são muito comuns na sociedade portuguesa em relação à poupança. Se algum deles se aplicar a si, é começar a mudar o mais rápido possível.
Falar sobre isto é muito importante porque há pessoas que até acham que estão a poupar, mas simplesmente têm uma intenção de poupança. Podemos achar que temos a vida organizada, mas sempre que chegamos ao fim do mês, estamos sem dinheiro. E atenção, porque se não estamos a acumular dinheiro todos os meses numa poupança, então não estamos a poupar. O controlo de alguém em termos financeiros mede-se pela organização e pela regularidade. Vamos a um teste.
Primeiro: confundir gastar menos com poupar. Vamos ser honestos, reduzir despesas é um bom começo, mas só é poupança quando sai da nossa conta para outra conta à parte. Por exemplo, imagine que vou jantar fora todos os fins-de-semana. Se decidir não jantar fora uma vez por mês, estou a poupar?
Na minha cabeça, estou. Mas se não pegar nesse dinheiro desse jantar, que podem ser 30, 40, 50, 60 euros ou mais, conforme as famílias, e não o puser numa conta à parte, para ficar acumulado, para colocar numa poupança que renda 2%, 3% ou 4% de juros, não poupei nada. Só não gastei tanto.
E porque é que isto é uma armadilha? Porque se ficar na conta à ordem, na minha cabeça, poupei, mas se vir bem, se depois for analisar os gastos, acabou por se gastar esse dinheiro numa outra coisa qualquer e sem sequer ter a satisfação de ter jantado fora. Portanto, poupar é pôr fisicamente de lado, seja manualmente ou de uma forma automática por débito direto.
Só estará a poupar a sério se todos os meses definir um valor e esse valor for para uma conta à ordem à parte, para certificados de aforro, para uma conta remunerada num banco ou numa corretora, se for para um PPR, se for para um ETF, se for para uma criptomoeda ou para outra coisa qualquer de acordo com o seu perfil. Se não faz isto, não poupou, mesmo que a sua cabeça lhe diga ao contrário.
Erro número dois: não transferir logo a poupança. Imagine, por exemplo, que renegociou o contrato da eletricidade e verificou que está a poupar 15 euros por mês. Então, essa poupança só se torna efetiva se fizer aquilo que lhe disse no ponto anterior, que é fazer imediatamente uma ordem automática de 15 euros da sua conta à ordem onde recebe o salário para essa outra conta à parte ou para esse outro investimento.
Quem quer realmente poupar, e quem poupa a sério, faz aquilo que é um clássico das finanças pessoais que é pagar-se a si primeiro. Assim que recebe o salário, uma ordem automática faz com que o valor que definir – e que pode alterar todos os meses se quiser –, vá para essa conta, para essa poupança ou para esse investimento que definiu. E vive com o resto. E com esta vantagem que é, se precisar desse dinheiro, vai lá buscá-lo, é para isso que ele serve. Mas se não automatizar, não está a poupar.
O terceiro erro é guardar o dinheiro na conta à ordem. Este erro é um clássico em Portugal. As pessoas como não têm literacia financeira, não sabem onde colocar o dinheiro e, portanto, deixam-no ficar à ordem para o caso de precisar dele. E há pessoas que têm 2 mil, 3 mil, 4 mil, 10 mil euros, 20 mil euros à ordem. Mas, pergunto eu, para quê? ´
Está a perder dinheiro e está a aumentar a probabilidade de o gastar. Porquê? Porque está disponível. Sempre que surgir um impulso de consumo, como tem lá o dinheiro, não vai pensar duas vezes. Portanto, o primeiro travão a nós próprios é ter o dinheiro separado. O simples facto de ter de ir à carteira, lá ao fundo, ou ir a casa buscar o cartão daquela conta onde está esse dinheiro, permite-lhe pensar antes de comprar.
Às vezes basta esses 30 segundos de reflexão para não fazer um grande disparate financeiro. Isso só vai acontecer se tiver duas contas. A sua conta à ordem do dia-a-dia, e a conta da poupança. Portanto, a solução para este problema, para este erro, é simples: fazer uma segunda conta, que tanto pode ser no seu próprio banco ou num banco completamente gratuito. Como sabe, há vários bancos gratuitos em Portugal que cobram zero comissões e cobram zero pela anuidade do cartão de crédito e pelo cartão de débito.
O erro número quatro é chamar poupança ao crédito. Ou seja, há pessoas que, por exemplo, precisam comprar um eletrodoméstico ou um carro e em vez de comprarem a pronto, fazem um crédito e pagam em prestações. Acham que estão a poupar porque o valor mensal é mais baixo. Não está a poupar rigorosamente nada, porque vai ter de pagar juros sobre o crédito.
O quinto erro é investir sem compreender o que está a fazer. Há pessoas que pensam que investir é o mesmo que poupar. Não. A poupança é dinheiro guardado com segurança, com um capital garantido, e isso é que é poupar. Investir é outra coisa. Investir implica risco. Ou seja, esse é o dinheiro que está disposto a perder, além do fundo de emergência.
Portanto, se está a pôr dinheiro numa coisa que não percebe, não está a poupar, nem está a investir com consciência. Está simplesmente a criar a possibilidade de perder esse dinheiro e depois criar um trauma que o impede de investir a sério. Saiba muito bem em que é que está a pôr o dinheiro, mesmo que tenha de esperar. Ninguém corre atrás de si. Não é por os outros já estarem a investir que tem de ir a correr atrás deles.
O erro número seis é não saber porque é que está a poupar. Dizer que quer poupar não é suficiente. Tem de definir metas. Não é simplesmente decidir que tem de poupar mais. Tem de poupar para, por exemplo, atingir o objetivo de ter 10 mil euros daqui a três anos.
Assim que tiver o seu objetivo definido, é traçar as estratégias e ver qual é a melhor maneira de o fazer. Mas se não tiver um objetivo claro, vai achar que está a poupar, mas não está. Portanto, até pode estar a pôr dinheiro de lado, mas se não tem um objetivo, não está a poupar de uma forma séria, digamos assim.
Sétimo erro: esquecer-se da inflação. Isto é, há pessoas que têm milhares de euros no banco, quer seja numa conta à ordem, quer seja numa conta a prazo, ou até em certificados de aforro, e que acham que estão a poupar. Não, não estão a poupar. Estão a perder dinheiro em câmara lenta. É isto que está a acontecer. Está a perder dinheiro em câmara lenta. Porquê? Porque a inflação, sendo superior aos juros que está a receber, faz com que o seu dinheiro nominalmente esteja lá, mas perde valor.
Pense no seguinte: se a inflação estiver a 2%, porque às vezes chega até aos 3%, por cada 10 mil euros que tem, se não estiver a render pelo menos isso, perde 200 euros ou 300 euros a cada ano. Se a inflação estiver nos 3%, então está a perder 300 euros a cada ano que passa. Está a deitar fora esse dinheiro. Portanto, para manter o seu dinheiro, vai ter de colocar as suas poupanças, pelo menos com um valor líquido igual ou superior ao valor da inflação. Na altura em que estou a gravar este episódio, a inflação em Portugal está nos 2,4%.
O erro número oito é contar com o reembolso do IRS como se fosse uma poupança. Não, mesmo que receba reembolso do IRS, o que é cada vez mais raro, isso é dinheiro seu que o Estado lhe está a devolver. Não é um bónus. É dinheiro seu, dos seus rendimentos, que pagou a mais ao Estado e que o Estado lhe está a devolver.
O ideal é receber mais todos os meses, como está a acontecer a um número cada vez maior de pessoas, mas depois aumentar a nossa taxa de poupança, para depois transferir para uma conta à parte e fazer esse dinheiro crescer. Isso sim é poupar. Porque quando recebe o reembolso, já veio com um ano completo de inflação. Portanto, é aquele valor, mas menor do que aquilo que lhe estão a pôr na conta, porque não esteve a render durante aquele tempo.
O nono erro é ignorar as pequenas despesas. Falo de coisas como assinaturas de bens ou serviços, streamings, jogos, ginásios, comissões bancárias. São coisas que às vezes estamos a pagar e não usamos, são despesas esquecidas, mas que sugam dinheiro sem sequer nos apercebermos. Isto é o tipo de coisa que pode destruir as nossas poupanças.
É como estarmos num barco cheio de buracos e estarmos a fazer um esforço para tirar a água com um balde. Na verdade, devíamos estar a tentar tapar os buracos. Tenha atenção a essas pequenas despesas. Faça uma limpeza regular às suas despesas fixas para perceber se há alguma coisa que esteja a pagar sem necessidade.
Qual é a forma mais simples de fazer isso? Olhar para o seu extrato bancário e para o extrato do seu cartão de crédito e rapidamente, olhando para o último mês, últimos dois meses, últimos três meses, ver para onde está a ir o seu dinheiro.
O décimo e último erro desta lista, é achar que poupar é só para quem ganha muito dinheiro ou que investir é para ricos, embora a questão dos investimentos não seja relevante neste episódio. De qualquer forma, pensar assim é um erro. Há exceções, obviamente.
Se ganha muito, muito pouco e as despesas fixas que tem não podem desaparecer, se tem de ajudar um familiar, se está doente, se tem animais de estimação para cuidar, enfim, há várias situações em que pode ser mesmo muito difícil poupar. No entanto, para quem não está numa situação tão complicada, é possível poupar, nem que seja 10 euros por mês. Já são 120 euros ao fim do ano. Se conseguir poupar 15 euros, já são 150 euros.
Ou seja, mesmo valores pequenos, se colocar em certificados de aforro, por exemplo, não vai fazer fortuna, mas consegue pelo menos não ir perdendo dinheiro para a inflação. É preciso é ter esta mentalidade de poupar com inteligência e organização.
Lembre-se sempre disto: poupar não é uma ideia. Não é uma intenção. É ação, é fazer e começar a construir. Comece, mesmo que seja com pouco. Há mesmo uma grande diferença entre a vida de quem pensa que poupa e da pessoa que poupa de facto.
Em resumo, aquilo que tem de fazer é definir um objetivo, saber onde vai o seu dinheiro, ganhar mais dinheiro se possível e automatizar a poupança. Depois de ter tudo em modo automático, para uma conta separada, vai começar a construir o seu fundo de emergência e vai pô-lo em ferramentas que rendam no mínimo a inflação. Quando já tiver entre seis e 12 meses de todas as despesas mensais da sua família, aí sim, já é uma pessoa que poupa. E aí começa o grande desafio que é começar a investir para ganhar dinheiro com o dinheiro que nós ganhamos.
Fale com a sua família sobre isto. Estas dicas de poucos minutos podem mudar a sua vida. Avalie se está mesmo a poupar ou se só pensa que está. Se for o caso, comece a mudar a sua vida aos poucos e torne-se um poupador profissional. Obrigado por estar desse lado. Aqui, todos os dias são dias de poupança.
Boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
Muitos portugueses acreditam que estão a poupar, mas quando olham para o extrato bancário percebem que o dinheiro continua a desaparecer. E - pior - parece que é impossível ver esse dinheiro crescer mais rápido.
Neste episódio do podcast Contas-poupança, explico os 10 erros mais frequentes de quem pensa que poupa, desde o hábito de deixar o dinheiro na conta à ordem até à ilusão de que investir é poupança. Vai perceber também porque é que “gastar menos” não é o mesmo que “poupar”, e o que pode começar a fazer já hoje para transformar boas intenções em resultados que se vejam.
Boas poupanças!
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