[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Agora nesta série estou a regressar ao básico, como dizem os ingleses, back to the basics, para quem quer começar a sua jornada financeira e não sabe muito bem por onde.
No episódio anterior, vimos que o primeiro passo é fazer a sua selfie financeira, ou seja, descobrir exatamente ao cêntimo na totalidade da sua vida financeira, onde é que gasta o seu dinheiro e quanto é que ganha. Vimos também a importância de saber qual é o valor da sua família. A sua família é uma família de 15 mil euros? Uma família de 20 mil euros?
No primeiro episódio básico das finanças pessoais expliquei como é que pode fazer essas contas. Partindo do princípio que já fez isso que lhe disse para fazer nesse primeiro episódio desta série, passamos agora ao segundo passo. Mas atenção, sem fazer o primeiro não consegue fazer, porque para isso precisa de saber se a sua família gasta mais do que ganha, se gasta tudo o que ganha ou se gasta menos do que ganha.
Portanto, a sua família está numa destas três situações, mas tem de saber ao cêntimo se de facto está ou não está. Não é um acho que. Isso não funciona em finanças pessoais. Isto são números e os números levam à alteração de comportamentos. É a mudança de comportamentos que gera dinheiro, mas depois falaremos sobre isto e vamos desenvolver esse tema mais à frente.
Mas para já fixe isto: o dinheiro é mais cabeça do que carteira. Se dominar a sua cabeça, domina a sua carteira. Se não dominar a sua cabeça, não há carteira que resista. É tão simples quanto isto.
Mas vamos então à importância de ter metas, porque enquanto não decidir para que é que quer o dinheiro, não adianta querer poupar. Vai poupar para quê? Com que objetivo? Com que critério? Como é que vai fazer escolhas conscientes se não sabe qual é o objetivo final que pretende?
Então, para cada uma destas famílias que mencionei, em diferentes situações, os objetivos são diferentes. Portanto, a família que gasta mais do que ganha, deve ter o objetivo de acabar com essa situação o mais depressa possível e passar para o patamar da família que gasta aquilo que ganha.
Só isso já é um ganho gigantesco. Já lhe vai retirar um peso de cima que é insuportável para muitas famílias. São aquelas famílias que chegam antes do fim do mês e já não têm dinheiro na conta. Portanto, isso é para acabar, meus amigos. Isso não é vida. Vai ter de fazer alguma coisa em relação a isso. Das duas, uma: ou reduzindo custos ou aumentando os rendimentos. Não há outra maneira. Isso não é vida. Não dá. Isso é uma vida de sofrimento e é algo que podemos tentar controlar de alguma maneira.
Estou a falar, evidentemente, para famílias que têm rendimentos, que têm trabalho, que podem fazer escolhas. Há famílias que dependem exclusivamente dos apoios da Segurança Social ou dos apoios de outras pessoas da família que não conseguem trabalhar, etc. Mas mesmo em algumas destas situações, há também apoios da Segurança Social, e não só, que as pessoas têm o direito a recorrer e às vezes não sabem. Mas não é dessas situações que estou aqui a falar, como é óbvio.
Então, em que é que as metas são fundamentais? Se souber o que quero e se souber quantificar aquilo que quero, é muito mais fácil atingir esse objetivo. Vamos imaginar a seguinte situação. Eu decido que tenho uma meta que é ganhar mais. O meu salário é insuficiente, portanto, quero ganhar mais. Ora, isto pode parecer muito bom na teoria, mas na prática significa zero. Dizer isto não vale nada. Não vale nada em que sentido? É bom como intenção, mas não dá para medir.
Então, com base naquilo que aprendemos no episódio anterior do básico das finanças pessoais, se souber que estou a gastar mais do que aquilo que ganho, ou se gasto o mesmo que ganho, tenho de definir para mim e para a minha família quanto é que tenho de ganhar a mais. No primeiro caso, para deixar de ter défice e no segundo para ter dinheiro para poupar e investir.
Então o objetivo passa a ser o quê? Ganhar mais 100 euros todos os meses, por exemplo, ou o valor que conclua que precise. E como é que fazemos isto? Aqui já começamos a avançar no caminho certo, porque se soubermos que tenho de ganhar mais 50 ou 100 euros todos os meses, vou começar a pensar nisto e vou começar a analisar alternativas.
Por exemplo, basta fazer horas extraordinárias? Será que tenho e posso ser promovido no trabalho e isso chega? Será que posso vender alguma coisa ao longo das semanas ou fazer algum tipo de trabalhos que me renda esse dinheiro? E depois é, todos os meses, avaliar se atingi ou não o meu objetivo ou o objetivo para a família. Se 100 euros não é suficiente, então passamos para 200 euros.
E como é que faço para ganhar mais 200 euros todos os meses? Ou então, ainda antes disso, daquilo que gasto – porque já sei onde é que gasto o dinheiro –, onde é que posso cortar, negociar ou renegociar para aumentar essa folga? Será que basta, por exemplo, mudar de empresa de eletricidade, de telecomunicações, de gás, para imediatamente estar a aumentar o orçamento mensal? Isto é perfeitamente possível. Eu já fiz isso várias vezes. Por vezes, basta reduzir o seguro de vida ou renegociar o crédito à habitação para me aumentar o orçamento em cerca de 100 euros por mês ou coisa que o valha.
Lá está, depois de ter a listagem completa de todas as minhas despesas e rendimentos, o passo seguinte é quanto é que quer a mais, todos os meses, de rendimento extra para atingir o objetivo. Agora a questão é: quais são os objetivos em que deve pensar para escolher aquilo que é melhor para si e para a sua família?
Em primeiro lugar, não é o poupar por poupar, porque de repente pode estar a ganhar mais ou a poupar, por exemplo, 100 euros por mês. São mais 1200 euros por ano. Agora, o que é que vai fazer com esse dinheiro? Muitas famílias o que fazem com estas sobras ou com estes rendimentos extra é logo mudar de telemóvel para um mais moderno ou ir jantar fora mais vezes. Isto é alguma coisa de mal? Não, mas lá está, se for esse o seu objetivo, é maravilhoso. Mas muitas vezes gastam na primeira coisa que lhes aparece à frente, naquilo que lhes apetece no momento. Porquê? Porque não têm objetivos a curto, médio e longo prazo. E isso faz toda a diferença.
Por exemplo, se não tem ainda um fundo de emergência base, que é algo que menciono no livro Ganhar Dinheiro que tem os cinco passos para pormos as nossas contas em ordem, então esse deve ser o seu primeiro passo. Deve ter mil euros de fundo de emergência, intocados. Aquilo não existe, está ali e não é para mexer. Isso é um dos primeiros objetivos que tem de ter.
O segundo objetivo é acabar com todas as dívidas. Já sabe, sempre que tiver dinheiro extra ou uma poupança, é para amortizar antecipadamente essas dívidas e não criar outras, como é evidente. Outro objetivo pode ser, por exemplo, comprar uma coisa nova que quer muito. Ótimo, maravilha. Já passa a ter um propósito para as suas poupanças, para as decisões que precisa de tomar.
Pode ser, por exemplo, começar a preparar a sua reforma, ou seja, definir como objetivo que todos os meses vai pôr 50 euros num PPR, num fundo de investimento, num ETF, seja lá no que for. Mas, lá está, é um propósito. Pode ser também criar o tal fundo de emergência com seis a 12 meses de todas as despesas que tem. Pode ser qualquer coisa que precise, seja começar a investir, seja começar a planear uma troca de carro, seja poupar a universidade dos filhos, enfim, só você sabe quais são os seus objetivos.
O meu objetivo, por exemplo, é liquidar o meu crédito de habitação 15 anos mais cedo. Mas isto porquê? Porque já atingi os meus outros objetivos anteriores. Já tinha o fundo base, já tenho o meu fundo de emergência completo, já consegui cuidar dos estudos do meu filho mais velho, falta ainda do mais novo, portanto, já consigo pensar noutros patamares. Cada pessoa vai ter de se adaptar, ou vai ter de adaptar a sua vida financeira e as suas escolhas, às metas que forem apropriadas para essa pessoa.
Mas enquanto não definirmos metas de curto, médio e longo prazo, são três metas diferentes, nunca vamos conseguir chegar muito longe. E atenção, não é simplesmente dizer que quer ter dinheiro para a reforma. É preciso saber quanto dinheiro quer ter quando se reformar, por exemplo. É preciso saber quanto dinheiro precisamos de ter e em quanto tempo para podermos definir estes objetivos. Portanto, é muito importante termos esta clareza de raciocínio para depois podermos definir uma estratégia e medir os resultados ao longo do tempo.
Isto é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. Temos de pensar a 3 anos, a 5 anos, a 10 anos e a 30, 40 anos. Para cada uma destas datas temos de ter um objetivo. E isto é importante porquê? Porque para cada um dos objetivos há ferramentas financeiras diferentes.
Se preciso de dinheiro para daqui a um ano, não vou arriscar, isto é, vou colocá-lo em Certificados de Aforro, em depósitos a prazo, contas remuneradas, coisas que tenham sempre capital garantido. Por outro lado, se já estiver a pensar a cinco anos, se calhar já pode utilizar ferramentas sem capital garantido, mas com a possibilidade de um rendimento mais elevado. Tem fundos de investimento moderados, PPRs moderados, algumas ferramentas com as quais se sinta confortável e que vai aprender a lidar com elas com pequenos valores. Mas lá está. Para a reforma, por exemplo, pode pensar em colocar o seu dinheiro em ETFs, PPRs mais arriscados, mas que historicamente tenham rendido 7%, 8% ou 9% ao ano.
Isto faz toda a diferença na nossa vida financeira. Mas só faz sentido escolher a ferramenta certa para pôr lá o seu dinheiro e a proporção para cada um dos seus objetivos se tiver alvos concretos. Sem isso, vai gastar o dinheiro na primeira coisa que lhe aparecer à frente e que lhe apetece fazer. Tendo objetivos definidos, já somos obrigados a pensar. É aqui que entra a literacia financeira e a consciência financeira. Não é preciso tirar nenhum curso para pensar assim. Por isso é que digo que às vezes a nossa carteira e o dinheiro que temos, ou não, é fruto mais da nossa inteligência emocional do que propriamente do nosso conhecimento sobre juros e ferramentas financeiras.
Uma compra impulsiva pode, obviamente, destruir o nosso objetivo, adiá-lo ou atrasá-lo mais dois, três, quatro anos. É por isso que é tão importante definirmos os nossos objetivos. Escolha três objetivos. Um para daqui a um ano, outro para daqui a cinco anos e outro para 20, 30 ou 40 anos. Escolhendo estes três objetivos, vai ver que todas as suas escolhas daqui para a frente se tornam muito mais fáceis e produtivas em termos financeiros.
Mas depois, como é que vamos lá chegar? Isso fica para um próximo episódio destes básicos das finanças pessoais. Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira.
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