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PodTEXT | Já invisto em ações e ETFs, mas não sei quando devo resgatar. Qual deve ser a minha estratégia de saída?

O André já investe há vários anos, em ações, fundos, ETF e outras ferramentas. Isso é muito importante para ganharmos dinheiro com o nosso dinheiro. Mas se começar a investir é importante, saber quando terminar (será que há uma altura para isso?) também pode ser uma das decisões mais importantes da nossa vida financeira. O ouvinte pergunta qual deve ser uma boa estratégia de saída para maximizar os lucros que vai tendo pelo caminho. Respondo neste episódio do “Vamos a contas”.

PodTEXT | Já invisto em ações e ETFs, mas não sei quando devo resgatar. Qual deve ser a minha estratégia de saída?

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana!

[André, ouvinte do podcast]

Olá, Pedro! O meu nome é André. Já sigo o seu podcast há alguns meses, aproveito para ouvir normalmente nas minhas viagens para o trabalho, portanto, também no carro. Acho bastante informativo e já me tirou bastantes dúvidas que achava, na minha inocência, que já tinha esclarecidas e, na verdade, estou sempre a aprender e pelo menos a ganhar uma nova perspetiva sobre diversos tópicos.

Já faço investimentos há cerca de três anos. Iniciei-me primeiro no mercado de ações, com o banco como corretora e mais recentemente tenho investido em vários ETFs de forma diversificada, portanto, não tenho os investimentos centrados num ETF apenas e faço através de corretoras digitais.

Leio ocasionalmente algumas publicações online sobre investimentos em sites, quer especializados, como o Financial Times ou o Wall Street Journal, ou então em redes sociais como o Reddit. E um ponto que vejo ser referido muitas vezes é que, quando se investe, deve ter-se sempre uma estratégia de saída.

Ora, sempre tive um pouco a ideia de que os investimentos que faço são como uma poupança, que têm rentabilidade no médio e longo prazo. Faço os meus investimentos em modelo de DCA, cerca de 500 euros por mês, sempre de forma regular e sempre tive como objetivo pessoal que, uma vez que consiga amealhar uma quantia notória, usar este montante para abater, parcial ou totalmente, o meu crédito habitação.

E pretendo fazê-lo num prazo entre cinco e dez anos. Não é um prazo fixo e depende da rentabilidade dos investimentos, claro, mas sempre considerei que isto seria, no fundo, a minha estratégia de saída para os meus investimentos. Na verdade, nunca vi muita gente elaborar sobre o que é que deve ser uma estratégia de saída eficaz. E é aqui que reside a minha dúvida.

Pergunto-me se, de facto, esta estratégia é válida? Será que tenho, de facto, uma estratégia de saída? E gostava de perguntar, na sua opinião, em que consiste ter uma estratégia de saída? O que deve ser uma estratégia de saída válida e sólida para aplicar com este tipo de investimentos? Agradeço desde já este esclarecimento e obrigado também pelas outras dúvidas que já esclareceu nos vários episódios do Podcast.

[Pedro Andersson]

Olá, André! Muito obrigado por esta pergunta diferente do habitual. É uma pergunta entusiasmante para variar das outras perguntas que tenho respondido ao longo das últimas semanas. Para já, revela que há pessoas, e cada vez mais, que já estão a perceber que podem ganhar dinheiro com o seu dinheiro arriscando um pouco mais com conhecimento. Sabendo como funcionam estas ferramentas, como por exemplo os ETFs, mas há muitas outras, portanto, as dicas que lhe vou dar, são as minhas dicas.

Não sou um profissional da área dos investimentos, portanto, tudo o que lhe vou dizer é baseado na minha experiência, na minha intuição e o meu objetivo é abrir horizontes de discussão para depois decidir o que muito bem entender.

Ora, a estratégia de saída. Porque é tão importante pensar nisso algum tempo depois de começar a investir? Porque o primeiro grande passo é começar a investir e assim que começamos a ganhar algum dinheiro, a ver valorizações, sentimos uma espécie de euforia que pode ser prejudicial.

Prejudicial em que sentido? Há pessoas que, imediatamente, assim que começam a ganhar um bocadinho ficam tão contentes face aos lucros que tinham anteriormente, que eram nulos, ou às vezes negativos, que para garantirem o dinheiro pensam logo em resgatar. Este é um erro de principiante. Como já passaram três anos, diz o André, já passou essa fase.

Portanto, isto é sempre a muito longo prazo. Ninguém lhe garante que vai ganhar dinheiro, mas há uma fortíssima probabilidade de ganhar dinheiro que se veja em três, cinco, dez, 15 anos, ou mais. Isto tem de ficar claro para todos. Não é para andar sempre a pôr e a tirar. Isso não resulta, a experiência mostra isso.

Segundo ponto positivo a fixar é que o André tem uma estratégia DCA. Para quem não percebeu o que é isso, DCA significa Dollar Cost Averaging, ou seja, é um investimento médio no dólar. Mas não quer dizer que seja dólar. Em vez de estar sempre à espera de que haja uma queda para investir para depois vender quando está a ganhar, não, define um valor e uma data todos os meses e todos os meses, seja qual for o preço da unidade de participação do produto em que está a investir, vai pôr lá esse dinheiro.

Até pode ser uma ordem automática.  Assim, não se esquece de investir, não passa pelo drama das descidas e das subidas, é o que for e acabou. Portanto, a médio e longo prazo, este resultado não é muito diferente de andar sempre à procura do preço mais baixo em saldos para depois vender no preço mais caro nos picos. Para quem não percebe muito de investimentos, é a melhor estratégia, a estratégia mais sossegada, menos estressante e mais preguiçosa no bom sentido.

Agora, a questão põe-se: quando acho que já está bom e quero tirar o meu dinheiro, como é que sei que devo tirar? Como é que sei se não devo esperar mais seis meses ou se já deixei passar o momento e agora tenho de esperar por outro momento bom a seguir? Como é que sei se já tenho aquilo que quero e se já é o máximo possível? E se a seguir eventualmente perder? Esta pergunta é muito interessante.

Aquilo que gostaria de trazer para a discussão é que há várias falhas que identifico na avaliação que faz da sua situação. Fiquei com a ideia – posso ter-me enganado –, de que acha que tem uma estratégia de saída porque tem um objetivo que é amortizar antecipadamente a sua casa, parcialmente ou na totalidade. Isso não é uma estratégia de saída. Isso é um objetivo.

É um ótimo objetivo, tão bom como qualquer outro, e é importante ter um, mas é um objetivo e não uma estratégia de saída. Quando começamos a investir, em primeiro lugar já temos de ter o nosso fundo de emergência. Vou partir do princípio que já o tem. Só vai investir em ETFs depois de ter o seu fundo de emergência com capital garantido entre seis e 12 meses das suas despesas. Está feito? Muito bem. Vamos começar a investir.

Está a investir cerca de 500 euros por mês em ETFs, desde que sejam ETFs que correspondam à sua escolha consciente, perfeito.  Agora a questão é, quando é que tiro o dinheiro de lá? Ponto um, ter só um objetivo é muito pouco. Ter o objetivo de amortizar a sua casa é insuficiente. Deve ter um objetivo a curto prazo, um objetivo a médio prazo e um objetivo a muito longo prazo.

A muito longo prazo é a sua reforma. Antes de pensar em liquidar o seu crédito habitação, sugiro veementemente que comece a pensar no seu número mágico, que é o montante que quer ter quando se reformar. Quando chegar aos 67 anos, tem de ter lá o seu número mágico que é o valor que é o ideal para si.

Portanto, antes de pensar em liquidar o seu crédito de habitação, tem de reforçar os seus investimentos com esse objetivo. A partir do momento em que, vamos imaginar, que esses 500 euros são mais do que suficientes para atingir esse objetivo daqui a 30 anos ou 40 anos.

Então, esse valor que sobra nesse ETF ou noutro ETF, pode ter um ETF para cada um dos objetivos, que até podem ser do mesmo índice, se quiser. Mas já sabe que este é para a reforma, que é para não mexer nele e não lhe fazer confusão, pode ter outro para liquidar o crédito à habitação e pode ter outro para comprar um carro daqui a três anos. 

Mas queria que ficasse com esta noção de que só ter um objetivo é muito pouco para esse tipo de investimentos. Para a reforma, tanto pode ser um PPR, como pode ser um ETF ou outra ferramenta que entenda, mas a muito longo prazo. Aí, a estratégia de saída é diferente. Porque já sabe que é muito além dos oito anos dos benefícios fiscais à saída.

Para preparar a sua estratégia de saída, um dos critérios deve ser a fiscalidade. Ou seja, para pagar o mínimo de impostos, quanto tempo é que tenho de deixar passar? Quer para os PPR, quer para os ETFs ou produtos financeiros relacionados com as bolsas, para maximizar a sua estratégia de saída, aumentar o seu ganho, no mínimo tem de ter lá o dinheiro oito anos. Passados oito anos, vai pagar menos impostos.

Por isso é que, o que me chamou a atenção para esse detalhe, foi o facto de ter dito que quer amortizar entre cinco e dez anos. Portanto, aqui já lhe estou a dar uma dica. Se esse é o seu objetivo, então, a sua estratégia de saída deve ser daqui a pelo menos oito anos. Nestes oito anos, não vai resgatar aconteça o que acontecer. Porquê? Porque vai estar a prejudicar-se fiscalmente. Este detalhe é fundamental e pode fazer a diferença.

Para a sua estratégia de saída tem de definir um valor, porque se o seu objetivo for retirar uma quantia limitada para ir amortizando ao longo do tempo, a sua estratégia de saída pode ser, por exemplo, sempre que houver um pico de ganhos, retirar um X para amortizar a casa e o resto continua lá a crescer. É uma estratégia.

A outra estratégia pode ser definir o montante final do resgate. Já sabe que uma parte é para a reforma, portanto, esse esquece. Mas para amortizar a sua casa são precisos, imagine, 40 mil euros. Então, quando atingir o valor de 40 mil euros, já sabe que chegou à altura de resgatar, porque atingiu o seu objetivo.

O importante aqui é definir um prazo ou definir um montante, e o prazo está obviamente relacionado com o montante, porque tem de ter consciência que se no fim daquele prazo não atingiu o seu objetivo, vai ter de continuar a esperar até que o atinja.

O que acho que infelizmente acontece é que as pessoas começam a investir, mas não sabem para quê. E este é o ponto fundamental. Na nossa vida só faz sentido trabalharmos, seja em que área for da nossa vida, se soubermos o que queremos, porque senão vamos andar sempre aos ziguezagues. E isso não é eficiente de nenhuma maneira. Nem na saúde, nem nas relações pessoais, nem profissionalmente, nem financeiramente.

É isto que quero daqui a cinco anos, daqui a dez, daqui a 15, daqui a 20. Então é para este objetivo que vou trabalhar e todas as pequenas decisões que vou tomando ao longo do tempo vão nesse sentido. E assim vou conseguir atingir os meus objetivos muito mais rapidamente e com menos esforço. Portanto, em resumo, a sua estratégia de saída deve ser o montante que quer ter, daqui a quanto tempo e com a maior eficiência fiscal.

Pode acontecer também uma outra situação, que é atingir o seu objetivo e concluir que mudou de objetivo. Isto é perfeitamente normal. Por exemplo, acho que vou passar por esse momento, porque acho que já tenho dinheiro para liquidar a minha casa, mas estou a ganhar muito mais do que estava à espera.

Portanto, quero arriscar continuar a ganhar mais dinheiro, porque sinto que tenho condições para continuar a pagar o crédito de forma calma e sem stress, mesmo que isto suba muito acho que vou continuar a ter condições para continuar a pagar.

E se retirasse o dinheiro nesta altura, estando ele a crescer o que está a crescer e com a perspetiva que tem de continuar a crescer – sendo que nunca tenho essa garantia –, prefiro continuar a investir ou prefiro continuar a estar investido em vez de amortizar o meu crédito de habitação, porque acho que vou ter ganhos maiores a médio e longo prazo mantendo o meu investimento em vez de amortizar o meu crédito de habitação.

E isto tendo plena consciência de que, a qualquer momento, se quiser amortizar, tenho dinheiro suficiente para isso. Em resumo: três objetivos, três montantes, três prazos. Quando atinge esses objetivos, qualquer um deles, decide se resgata ou não.

Duas dicas finais: mesmo que não queira liquidar o crédito à habitação, mas quer garantir esses ganhos, pode resgatar ou, no caso de um PPR, transferir para um produto menos arriscado ou até com capital garantido. Suponhamos que tem um fundo PPR que atingiu o seu objetivo, mas não quer utilizá-lo para aquilo que tinha planeado.

Então pode transferi-lo, por exemplo, para um PPR com capital garantido, que vai render muito menos, mas não passa para a sua conta à ordem. É outra estratégia de saída alternativa, que é uma saída intermédia para um produto financeiro com um risco menor, ou com risco nulo, mas que mesmo assim continua a render e que continua a ter benefícios fiscais, por exemplo.

Isto aplica-se, por exemplo, no caso de um PPR que ainda não atingiu os oito anos, mas que está a ter um rendimento muito acima daquilo que estava à espera. Pode então garantir esse ganho, transfere para um seguro PPR, e assim que fizer os tais oito anos e um dia, resgata tendo os benefícios fiscais.

Além disso, pode sempre retirar pequenas partes. Isto é, mencionei que pode retirar para amortizar pequenos valores do seu crédito de habitação, mas também pode ir retirando pequenos valores para outras ferramentas de investimento que continuam a render, embora menos.

Por exemplo, há pessoas que chegam à idade da reforma e têm um bom PPR. Há um mito na sociedade portuguesa, não se aplica só às cidades, há um mito financeiro que é quando a pessoa se reforma tem de resgatar o seu PPR. Mas porquê? Ele pode lá continuar a render até fazer 100 anos, até fazer 120 anos, se tiver um perfil mais arriscado.

Tanto pode transferi-lo para um PPR seguro, como pode simplesmente retirar 500 euros por mês ao longo de todos os seus dias enquanto está reformado e, entretanto, aquele bolo continua a render dinheiro. Já não tem benefícios fiscais, é certo. Quer dizer, tem sempre à saída, porque já passaram os oito anos. Já não tem descontos como dedução no IRS, mas vai retirando apenas o que precisa. Não tem de retirar tudo e matar a galinha dos ovos de ouro.

Espero ter contribuído para o esclarecimento que procurava. Dei-lhe apenas mais algumas coisas em que pensar. Muito obrigado!

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