[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana.
[Ouvinte do podcast]
Olá, Pedro. Antes de mais, obrigado pelas dicas que nos dá todas as semanas. Tenho uma questão: tenho quase 30 anos, um salário relativamente bom, já estabeleci um fundo de emergência razoável e dentro de cerca de dois anos pretendo fixar-me numa cidade e comprar casa.
Para isso já ando a poupar para ter dinheiro para, no mínimo, dar entrada para a casa. E o que gostava de saber é, tendo em conta que se trata de um objetivo a médio prazo e não a longo prazo, onde é que devo colocar o meu dinheiro? Ou seja, inicialmente estava parado numa conta à ordem, mas nos últimos tempos tenho tentado fazer escolhas mais inteligentes.
Já subscrevi um PPR, já comecei a investir poucas centenas em ETF e tenho o fundo de emergência numa conta que rende 3%. Ou seja, devo investir mais dinheiro correndo o risco de precisar dele dentro de dois anos e ele ter desvalorizado?
Uma outra questão prende-se com o PPR que subscrevi no final do ano com o intuito ainda de conseguir os benefícios fiscais, mas até está a ter um bom lucro. Posso decidir só quando preencher o IRS se quero que ele entre para os benefícios ou se até não quero que ele entre e que me conte como uma ferramenta de investimento? Muito obrigada, continuação de um bom trabalho! Acho que está a fazer um ótimo trabalho pelos portugueses e sobretudo pela minha geração.
[Pedro Andersson]
Olá! Muito obrigado por estas duas perguntas. Vou tentar responder de forma simples, rápida e clara. Uma coisa é a estratégia ideal, mais segura, tendo em conta o histórico do passado, passa o pleonasmo, e percebo essas dúvidas. Em primeiro lugar, quero dar-te os parabéns porque parece que estás a fazer tudo bem.
Tens um rendimento acima da média, para dizeres que é um bom salário, vamos imaginar que são, dois mil euros, por exemplo, portanto será acima da média, não faço ideia de quanto será, mas com esses valores é perfeitamente possível gerirmos o nosso dinheiro com mais liberdade do que apenas alguém que ganha um salário mínimo nacional.
Já tens o teu fundo de emergência e está a render 3%, excelente, está acima da inflação. Quer dizer que estás a perder o medo de investir, estás a começar com valores pequenos, muito bem, é isso mesmo, até perceberes como é que essas ferramentas funcionam. Já tens um PPR, ótimo, é isso mesmo, uma estratégia a muito longo prazo a pensar na reforma.
O truque aqui em relação ao PPR é perceber quanto dinheiro é que quero ter quando me reformar e fazer uma ordem automática mensal, para mim, para a minha mulher, para os meus filhos, de forma que quando chegar à idade da reforma tenha lá o valor que planeei ter. Não é uma questão de sorte, não é uma questão de ver quanto é que consigo, não, é traçar um plano com um objetivo e um prazo. Vejo que já fizeste isso, ou pelo menos estás nesse caminho, excelente!
Agora a tua pergunta relaciona-se com a compra de casa, pelo que percebi, dentro de dois anos. Dois anos é um prazo muito pequenino, dois anos passam a correr e aquilo que quero transmitir-te, a ti e a todos aqueles que têm a mesma dúvida, é que arriscar a dois anos investir, por exemplo, num ETF, em ações, em criptomoedas, em qualquer coisa que seja muito volátil e que não tenha capital garantido, é uma questão de roleta russa. É um jogo, é como ir ao casino.
Tanto podes ganhar e ter sorte, por exemplo, ganhares 10 % este ano e mais 10 % no ano que vem. Isso seria excelente, quer dizer que conseguirias em dois anos aumentar o valor que vais dar como entrada para a casa em 20%. É ótimo! Alguém te pode garantir que isso vai acontecer? Não! Pode acontecer já este ano perderes 15 % e no outro a seguir a situação ainda piorar mais e perderes mais 10%.
Repara, só nestes dois anos vais perder 35% e vais querer dar o dinheiro como entrada para a casa, e se tiver de ser naquela altura porque encontraste o negócio da tua vida, vais ter muito menos para dar como entrada. E depois podes até correr o risco de não conseguires ter os apoios do governo que dão até aos 100%, de acordo com a tua idade, em princípio terás direito, mas lá está, quem não tivesse direito, se calhar não teria os 10 % para dar como entrada para a casa e perderia o negócio.
Portanto, vou ser conservador, vou dar-te o conselho do pai, do mais velho, do avô, do amigo chato e que não gosta de arriscar – embora eu goste de arriscar e se calhar arriscaria –, mas aquilo que te vou dizer é a decisão mais racional e sensata.
O dinheiro para a entrada da casa que estás a prever dar ao banco daqui a dois anos deve estar em ferramentas que rendam alguma coisa, mas com capital garantido. Se já tens o teu fundo de emergência a render 3%, se conseguires acrescentar esse dinheiro da casa a essa ferramenta, acharia uma excelente oportunidade.
Também te posso sugerir uma situação intermédia que é arriscares um bocadinho mais, mas numa ferramenta com menos risco. Os PPR e os fundos de investimento têm uma escala de 1 a 7. Se quiseres arriscar, arrisca até 3 ou 4 no máximo, mais do que isso não. Mas lá está, não está garantido que quando chegas ao prazo, à data em que vais ter de entregar o dinheiro ao banco para dar como entrada para a casa, que tenhas lá o valor que esperarias ter.
Portanto, a regra – e também é possível quebrar as regras –, é até cinco anos, se for precisar de utilizar o meu dinheiro nos próximos cinco anos, é sempre com capital garantido. Acima de cinco anos vale a pena, historicamente, arriscar em ferramentas sem capital garantido, mas que rendam 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10%, pelo menos tendo em conta o passado. Ninguém pode garantir que isso vá acontecer no futuro. Estamos apenas a falar do que a experiência nos diz. E o mundo está muito confuso, as coisas mudam muito rapidamente.
Agora, em relação à segunda parte da pergunta, que está relacionada com o PPR. Ora, até à entrega do IRS podemos tirar, podemos pôr, podemos acrescentar, enfim, podemos fazer tudo aquilo que quisermos.
Se subscreveste o valor que subscreveste em PPR em 2024 e se chegares à conclusão de que queres utilizar esse PPR como investimento e não a longo prazo, ou seja, até à reforma e ficares presa com esse valor para receberes a dedução fiscal, basta que, na altura de entregar o IRS, apagues esse valor que lá vai aparecer automaticamente.
Diria que até ao fim do prazo da entrega do IRS tens tempo, mas também podes entregar uma declaração de substituição. Podemos sempre, mesmo depois de terminado o prazo da entrega do IRS, entregar uma declaração de substituição. Podemos corrigir erros, podemos acrescentar valores, podemos retirar valores, desde que seja do nosso interesse e que seja perfeitamente legal. Portanto, respondendo à tua questão diretamente, sim, podes decidir perfeitamente em cima da hora, não há problema nenhum, não és obrigada a pôr o PPR no IRS, nem és obrigada a tirá-lo. Podes fazer isso durante o período da entrega do IRS e até posteriormente.
É possível corrigir o IRS até dois anos depois. O que é que vai acontecer? É que se depois do prazo for retirado o PPR do IRS, terás de devolver o valor de dedução que o Estado deu, com a respetiva multa, mas fica liberto esse dinheiro.
Portanto, é sempre possível alterar a situação, obviamente assumindo as consequências dessa ação. Se for feito dentro do prazo da entrega do IRS, não existe penalização de nenhuma maneira, porque é possível mudar o IRS as vezes que se quiser, desde que dentro do prazo legal da entrega do IRS. E estamos quase lá.
Muito obrigado pela vossa companhia neste podcast que é uma boleia financeira. Recordo que podem enviar as vossas perguntas em áudio para o 92 775 37 37, que é o número do WhatsApp do Contas-poupança.
Boas poupanças!
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Respondo às duas questões no episódio desta semana. Já sabe que às quartas-feiras respondo às vossas perguntas. Saber é poder (nas finanças pessoais também).
Boas poupanças!
pode ouvir diretamente aqui:
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Para além do episódio principal às segundas-feiras, às quartas-feiras respondo às vossas perguntas em áudio.
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Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.














