[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro e sobre como podemos ter mais dinheiro ao fim de cada mês ou ao fim do ano.
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Muitos de vocês descobriram no ano passado o significado da palavra investir. Aliás, muitos de vocês comentaram isso no passatempo que fiz em dezembro com a Contraponto em que ofereci 14 livros Contas-poupança, Ganhar Dinheiro e Começa Já. E um dos comentários que mais vezes fizeram foi “comecei a investir”. E isso deixa-me muito satisfeito porque significa uma mudança muito grande de mentalidade da parte de muitos de vocês.
Também houve muita gente a dizer que tinha por objetivo começar a investir em 2025, mas façam sempre isso com plena consciência do que estão a fazer e não por FOMO – Fear of Missing Out –, que significa em português “medo de ficar de fora”. Não deve começar a investir numa coisa qualquer só para não ficar de fora, porque temos pressa em ganhar dinheiro, mas às vezes a pressa em ganhar dinheiro acaba por se tornar em pressa para perder dinheiro. Faça-o sem pressas, sem decisões impulsivas, estamos aqui para fazer isso em conjunto.
No episódio de hoje venho falar-vos de uma coisa de que nunca falei em profundidade em nenhum dos mais de 300 episódios do Podcast. Sei que não será, se calhar, para a maior parte de vocês, mas pelo menos ficam a saber o que é e isso é relevante. Ficam pelo menos a saber os benefícios e os riscos. Então, recebi uma mensagem de um de vocês, em áudio, que vou agora partilhar convosco e depois explicar do que se trata.
[Rui, ouvinte do podcast]
Olá, Pedro. O meu nome é Rui e tenho 41 anos. Sou do Seixal. E, antes de mais, gostava de lhe agradecer por todo o seu serviço público que tem feito, por nos continuar a dar instrumentos de literacia financeira. Tenho todos os seus livros. Ouço atentamente o podcast, seja o mais regular, como também aqueles que saem esporadicamente com algumas entrevistas que são bastante interessantes e esclarecedoras.
E no último podcast, que foi publicado no dia 2 de janeiro, o Pedro fala de uma coisa que achei bastante interessante e curiosa, que sei que já abordou em algumas reportagens e também num dos seus livros, mas gostava que se aprofundasse um pouquinho mais este tema. Para lhe dar, desde já, um pouco também da minha fotografia financeira, se é que se pode dizer assim.
Tenho o meu fundo de emergência constituído, com os 12 meses, tenho também um PPR da Stoik, onde faço um reforço mensal simbólico e tenho ainda um investimento também simbólico, pequeno, no SP500 semanal. Tenho também Certificados de Aforro. E, além disso, faço um trabalho adicional, além do meu trabalho regular, que me permite ir ganhando algum dinheiro para estas poupanças e estes investimentos. A nível de dívidas, se é que se pode dizer assim, a única de momento é mesmo o crédito à habitação, felizmente.
Ora, a minha dúvida prende-se com o quê? Prende-se com estes investimentos que o Pedro falou de peer-to-peer. Ou seja, falou aqui de algumas empresas, e certamente existiram muitas mais, mas falou aqui na Raise, na GoParity, na Housers, na Bondora e, provavelmente, noutras.
Sempre tive muita curiosidade em saber como é que estas empresas funcionam e se me pudesse dar algumas dicas, falar um pouco da sua experiência e também dos riscos associados, porque não sei se têm investimento mínimo ou capital mínimo que se deverá investir, como é que funcionam.
Sei que falou já uma vez numa reportagem, mas já foi há alguns anos, sobre alguma destas empresas e também num dos seus livros, mas se me pudesse esclarecer um pouquinho mais, agradecia. Uma vez mais, muito obrigado por todo o seu tempo, paciência e também pela literacia financeira que proporciona num país tão necessitado destes conhecimentos.
[Pedro Andersson]
Muito obrigado pela pergunta e pela oportunidade que me dá de agora desenvolver então um bocadinho mais esse detalhe. Há dezenas de investimentos diferentes que podemos utilizar para ganhar dinheiro.
E um desses investimentos que é uma novidade em relação a quem nasceu nos anos 70, 80 e 90 e mesmo no princípio dos anos 2000, que é nós próprios sermos banqueiros. Nós emprestarmos dinheiro a outras pessoas e a instituições, a pequenas empresas ou até a grandes empresas. Isto é extraordinário. Porquê? Porque estamos sempre a dizer que os bancos ganham dinheiro, nós não, eles fartam-se de ter lucros.
Está bem, mas o que é que já fez para também ganhar dinheiro com o seu dinheiro? E estes investimentos, que se chamam P2P, vem do inglês peer-to-peer ou person-to-person, em oposição a business-to-business, porque aí então a expressão será B2B, que é de negócio para negócio ou de empresa para empresa. Neste caso, P2P é de pessoa para pessoa.
O Pedro empresta dinheiro à Joana ou ao Paulo e a Joana e o Paulo pagam-me juros a mim, em vez de pagarem juros ao banco ao mesmo tempo que amortizam o empréstimo que lhes fiz. De uma forma muito simples, é a democratização do crédito em que qualquer um de nós pode emprestar a outra pessoa com juros. Isto pode parecer-vos muito complicado, só que é super simples. É mesmo isto.
É um amigo que empresta a outro amigo, só que em vez de dizer depois pagas-me quando puderes e sem juros, definem logo à partida o montante a emprestar e as prestações a pagar mensalmente e respetivos juros. Corro o risco de a pessoa não pagar, mas se o negócio correr bem estou a ganhar dinheiro simplesmente porque assumi o risco de emprestar dinheiro a alguém em quem eu à partida confio.
Quando empresto a um amigo ou um familiar, sei a quem estou a emprestar. Agora, emprestar a pessoas completamente desconhecidas é de facto um risco elevado, por isso é que existem estas plataformas. Vou dizer-vos o nome de algumas para ficarem a conhecer.
O facto de mencionar empresas não significa que esteja a incentivar-vos ou a credibilizar essas empresas e isto aplica-se a este episódio ou a qualquer outro episódio que já ouviram no passado e que vão ouvir no futuro, ok? Eu falo do que sei, falo do que conheço, mas depois vocês têm de fazer a vossa parte, como é evidente. Então, em Portugal temos algumas plataformas que funcionam desta forma.
Por exemplo, a Raize, a Goparity e uma outra que nunca investiguei, mas que sei que tem a ver com investimentos imobiliários, que se chama WECITY. Não tenho nenhuma informação sobre essa plataforma porque, como lhes disse, ainda não a investiguei. Depois têm várias internacionais, como a Bondora, a Mintos e muitas mais. Já testei muitas delas e neste momento tenho apenas duas, as duas portuguesas.
Tenho investimentos na Raize e na Goparity, sendo que a primeira empresta dinheiro a pequenos empresários, ou pequenas empresas. Por exemplo, imagine que o Manuel tem um talho e precisa de comprar uma arca frigorífica que custa 10 mil euros. O banco ou não lhe empresta, ou empresta com juros muito elevados, então o Manuel contacta a Raize e explica que precisa de 10 mil euros e questiona quais são os juros que eles fazem. Eles analisam e se acharem que é uma empresa que pode pagar, então o Manuel coloca na plataforma um pedido de empréstimo de 10 mil euros.
Como são muitas pessoas a querer emprestar, porque já há muita gente na plataforma, se ele precisa de 10 mil euros, cada uma pode emprestar um euro. É uma espécie de crédito colaborativo, digamos assim. Mas eu posso decidir que quero emprestar 10 ou 20 euros.
Na própria configuração da plataforma eu digo qual é o máximo que quero emprestar a uma empresa, seja ela qual for, ou também posso definir uma percentagem. Posso dizer, por exemplo, que não quero emprestar mais do que 5% do dinheiro que tenho na plataforma a nenhuma empresa e esse limite fica lá estabelecido. Depois, também posso dizer que quero ser eu a escolher as empresas a quem vou emprestar dinheiro ou posso escolher a opção automática que é, sempre que aparecer uma empresa e eu tiver saldo disponível, aplicam-se os limites que ficaram definidos.
Ao princípio, queria sempre ser eu a escolher, mas depois percebi uma coisa simples: aí nunca conseguiria, porque como são dezenas de milhares de pessoas a participar, quando queria escolher uma empresa o crédito já tinha sido dado e, por isso, pus em modo automático.
A Goparity segue o mesmo sistema, mas apenas com empresas ou instituições ligadas a projetos que estão a trabalhar em prol do ambiente ou que têm consciência ambiental. Por exemplo, colocar painéis solares numa escola, num lar, numa empresa de agricultura biológica. A Goparity tem este propósito de ajudar investimentos relacionados com a proteção do ambiente. Para muitas pessoas isso é muito relevante e, portanto, fica aqui esta opção.
Aplica-se o mesmo princípio da escolha, mas também pus em modo automático. Quando abro a aplicação, aparece uma espécie de montra que mostra os vários projetos que estão a pedir crédito e o respetivo montante que procuram. Depois, cada uma das plataformas utiliza os relatórios e contas destas empresas e definem o grau de risco que elas têm. Geralmente, é uma classificação por letras. Letra A para muito seguro e quanto maior a distância no alfabeto, maior será o risco.
E o risco de quê? O risco de a empresa não pagar porque o negócio não correu bem. Se a empresa abrir insolvência depois forma-se uma lista de credores com não sei quantas pessoas à frente e o mais provável é não se receber nada. Então o que é que acontece aos 20 euros, por exemplo, que foram emprestados? Ficam perdidos.
O que é que estas plataformas tentam transmitir ao máximo? Uma imagem de segurança e credibilidade. Por exemplo, numa destas plataformas tenho pelo menos uma empresa que não está a pagar a prestação de um euro e tal que devia estar a pagar-me todos os meses. Já recebi vários e-mails da plataforma a dizer qualquer coisa como “caro investidor, estamos a fazer o nosso máximo para que a empresa pague, já fizemos um plano de recuperação da dívida e vai receber juros de mora assim que forem retomados os pagamentos”.
Fico contente quando recebo esta informação, portanto, as coisas não podem ser feitas de forma demasiada informal, porque se as coisas forem feitas em cima do joelho, é o fim destas plataformas. Isto porque recebem uma comissão dos juros que as empresas pagam às pessoas que emprestam.
A plataforma é uma forma de unir quem precisa a quem quer emprestar dinheiro e receber juros com esse empréstimo. De que valores é que estamos a falar? Quer na Goparity, quer na Raize, ambas portuguesas, estou a receber juros de 4%, 5% e 6%, mais do que Certificados de Aforro e depósitos a prazo. Quando comecei, coloquei apenas 100 euros só para ver como é que funcionava, mas comecei a gostar do conceito e tenho lá agora mais do que esses 100 euros.
Não é nada de muito exagerado, até porque sei que é um risco. Estamos a falar de microempresas e a economia nacional é muito instável, por isso qualquer coisa nas finanças pode fazer fechar empresas. O que é que faço para tentar minimizar esse risco? Empresto quantias baixas a cada empresa, portanto, para perder tudo teriam de ir à falência 40 empresas e todas ao mesmo tempo. Não é expectável que isso aconteça.
Se em mil euros investidos, com 25 euros por empresa, quatro empresas falirem, perco 100 euros, mas, entretanto, o que ganho de juros nas outras empresas a que emprestei dinheiro, vai compensar esse valor.
Qual é a minha experiência ao longo destes vários anos em que tenho o meu dinheiro a investir? E o que é que faço? A parte com mais piada é a dos juros compostos, que é, meti lá o dinheiro e à medida que rendem juros, e eles vão para esta conta à ordem, entre aspas, das plataformas, esse dinheiro é reinvestido imediatamente sempre que surge um novo crédito de outra empresa nova que aparece.
Portanto, se recebi 25 euros em juros e estão lá no saldo, aparece uma empresa nova e esses 25 euros não vou levantá-los para depois gastá-los em qualquer coisa. Reinvisto logo noutra e volto a render juros. Portanto, é uma espécie, forçada, de juros compostos que é aquilo que me interessa, é pôr sempre o dinheiro a rodar e a fazer mais dinheiro.
Estava a dizer-vos qual tem sido a minha experiência ao longo dos anos: até agora, creio que só duas empresas não pagaram. E não pagaram e mesmo assim não foi a totalidade, portanto, pagaram, mas passado um ano deixaram de pagar. Recebi metade, mas ficou por faltar a outra metade que perdi o que emprestei e perdi a possibilidade desses juros.
Portanto, está a emprestar dinheiro a pessoas ou empresas que não conhece, tem de confiar na avaliação que o departamento de risco dessas plataformas faz dessas empresas, pode confiar ou não, e depois é esperar que as pessoas paguem. Se pagarem, correu tudo lindamente. Se não pagarem, tem de dar esse dinheiro por perdido. É um risco que corre, mas pode receber os tais 4, 5, 6, 7% de juros emprestando de forma extremamente diversificada. Nunca vai emprestar mil euros só a uma empresa.
Outro detalhe é que se quiser recuperar esse dinheiro, não é fácil. Não tem a liquidez de dizer que, entretanto, se arrependeu e que quer o dinheiro de volta na totalidade de todos os empréstimos. Não. Isto é como um banco. Não, já emprestou, já emprestou.
Então qual é a solução dada para estas empresas? É o mercado secundário. Ou seja, dentro da plataforma pode pôr à venda os seus empréstimos e depois outras pessoas que também estão inscritas na plataforma podem comprar-lhe esses créditos pelo valor que a empresa ainda não pagou. Portanto, se ainda lá têm emprestados 30 euros ou 100 euros ou 200 euros, põe à venda esse dinheiro que ainda falta que lhe paguem, dão-lhe esse dinheiro e as outras pessoas é que ficam a receber os juros. Só vai receber a parte da amortização, não vai receber os juros antecipadamente.
Pode também acontecer haver uma comissão que faz com que, através dessa venda antecipada antes do final do crédito – porque fomos nós que não cumprimos o acordado, que é esperar que acabe o tempo –, pode haver uma pequena penalização por isso, ou uma taxa por vender os seus créditos, mas é uma forma de recuperar o seu dinheiro.
Depois há uns pequenos detalhes que é se estiver em dívida, ou seja, se houver uma falta de pagamento, não vai poder vender esse crédito. Isso depois seria quase uma espécie de enganar as outras pessoas, porque estariam a comprar um crédito e afinal esse crédito depois estava com falhas no pagamento e, portanto, não o pode fazer.
Falei-lhe sobretudo destas duas portuguesas, mas quero dizer-lhe que nas plataformas internacionais, Bondora, Mintos e outras, posso estar a emprestar dinheiro a um pequeno empreendedor em África, ou na Índia, ou nos Estados Unidos, ou na América Latina, ou em Portugal, ou na Europa. A pessoas que têm pequenos projetos que podem mudar a vida delas e que precisam às vezes de um pequeno empurrão de mil euros, cinco mil euros, e então todas as pessoas em todo o mundo podem emprestar, lá está, conhecendo os projetos, ou simplesmente pondo lá num bolo que depois é investido e distribuído por todos.
Portanto, pode ir ao Google e escrever plataformas P2P e vai encontrar muito para ler, em primeiro lugar. Depois pode também ir ao YouTube e pesquisar vários vídeos com o nome da plataforma que lhe interessar mais e depois de ler um bocadinho, deve haver vídeos sobre as plataformas e vendo esses vídeos já vai aprender muitas coisas interessantes.
Espero ter respondido à dúvida deste nosso ouvinte que enviou a pergunta. E mesmo que ache que isto não é para si, fica a saber o que são estes tipos de investimentos. Se quiser, transfere as aplicações para o seu telemóvel, abre uma conta, como se fosse um banco, tem de apresentar os seus documentos e transferir dinheiro para eles.
Depois de lá estar o seu dinheiro em saldo, que demora um ou dois dias até ficar disponível, começa a investir, a ganhar dinheiro, a correr riscos, a ser um investidor e a ter a sensação de ser um mini banqueiro. E há uma sensação que, deixem-me dizer-vos, é muito interessante, sobretudo quando começarem a receber um SMS ou um e-mail a dizer que receberam a prestação da empresa tal e começam a receber aquilo de forma regular, e há uma sensação, deixem-me dizer-vos, magnífica.
Muito obrigado por me terem acompanhado em mais esta boleia financeira. Espero que este seja o ano da continuação ou da mudança para muitos de vocês, sobretudo para melhorarmos a nossa vida financeira.
Boas poupanças!
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Também pode ouvir o episódio nas plataformas:
Há várias plataformas, portuguesas e estrangeiras, que permitem pôr o nosso dinheiro à disposição de quem está a precisar de dinheiro a juros mais baixos do que os bancos, ou a quem os bancos não emprestam dinheiro pelos mais diversos motivos.
Em Portugal tem plataformas como a Raize e a Goparity. Explico como funcionam estas ferramentas no episódio desta semana. A rentabilidade pode ser boa, mas também tem de conhecer os riscos.
Boas poupanças!
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