Quanto é que vou receber quando me reformar?
[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e faço de conta que vai sentado/a no carro ao meu lado e juntos vamos falando um pouco sobre como é que podemos ter mais dinheiro na carteira ao fim do mês, ao fim do ano e, neste caso específico, quando chegarmos à idade da reforma.
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Hoje vamos falar sobre como é que pode saber qual vai ser a sua reforma, para começar a planeá-la desde já. Porque se a sua reforma for muito alta, se calhar não precisa de preocupar-se tanto. Se for baixa, deve preocupar-se bastante. Se for mais ou menos, pelo menos se calhar fica a saber que o esforço não precisa de ser tão grande.
Portanto, é muito importante termos uma previsão de qual vai ser a nossa reforma quando chegarmos à idade legal e para isso temos o simulador da Segurança Social. Mas há um problema, e há um problema muito bem identificado por um de vocês, neste caso o Luís Granja, que teve um azar na vida e está tetraplégico e, portanto, está preocupado com a reforma que vai ter.
No entanto, ele foi à simulação da Segurança Social e encontrou uma incongruência com aquilo que explico no livro Ganhar Dinheiro, onde falo sobre esse importante valor que todos devíamos conhecer. Vamos então à pergunta do Luís e depois vou responder a esta dúvida com o que sei.
[Luís, ouvinte do podcast]
Boa tarde, Pedro. O meu nome é Luís Granja, tenho 46 anos, e fruto das vicissitudes da vida, através de um acidente, fiquei tetraplégico, e através das minhas seguradoras recebi uma quantidade significativa de dinheiro, que a somar às minhas poucas poupanças, fazem com que tenha dinheiro atualmente disponível. É uma coisa à qual nunca dei grande importância, porque tal como o Pedro já disse, era chapa ganha, chapa gasta.
Entretanto, comprei o seu livro, não percebo nada de dinheiro, não percebo nada de investimentos, apenas tenho um PPR que me foi sugerido há 20 anos quando abri conta. E, entretanto, ao ler o seu livro, surgem-me várias questões. Mas a primeira refere-se à nossa reforma no site da Segurança Social Direta. O Pedro diz no livro, se bem percebi, que no dia em que nos reformarmos, daqui a 20 anos, teremos metade do rendimento disponível que temos hoje. Ou seja, se o meu vencimento hoje são cerca de dois mil euros, irei ter mil euros de reforma.
Mas isso vai contra aquilo que a Segurança Social Direta diz no site. O meu valor de reforma, que está lá na simulação que fiz, é muito semelhante ao valor de que aufiro hoje, tendo naturalmente por base os meus vencimentos dos anos anteriores e a minha carreira contributiva que já vai ao longo de 22 anos.
Ou seja, o valor que lá está colocado na Segurança Social Direta não corresponde ao que percebi que o Pedro disse no livro sobre termos apenas metade do rendimento disponível. Consegue ajudar-me a entender? Obrigado e parabéns pelo trabalho que está a fazer, porque para mim tem sido, aos 46 anos, verdadeiramente transformadora a leitura do seu livro.
[Pedro Andersson]
Luís, muito obrigado pela questão e faz todo o sentido. É muito importante termos informações claras e exatas, o mais rigorosas possível, para podermos fazer o melhor planeamento possível dos investimentos que teremos de realizar para atingirmos os nossos objetivos na reforma. Disse e muito bem que eu aconselho, quer dizer, quer dizer, é uma coisa óbvia, que devemos ir todos à Segurança Social Direta. Chama-se mesmo Segurança Social Direta, atenção que não é a página da Segurança Social, são duas coisas diferentes.
A Segurança Social é uma página genérica, com informações, mas a Segurança Social Direta é onde posso entrar com o meu número da Segurança Social e a minha password, e é como se fosse a minha conta bancária para a reforma em que está lá tudo o que recebo, estão lá todos os descontos que faço para a Segurança Social. E devo confirmar com muita regularidade se a minha empresa está a fazer os descontos corretos e se estão lá todos os meses e todos os anos.
Para quê? Para que na altura em que pedir a reforma, se de repente me dizem que tenho um valor ausente de contribuições em dois ou três anos e, portanto, a reforma ser menor. Portanto, quanto mais depressa confirmar que está tudo bem, com os valores corretos e nas datas corretas, melhor, porque fica descansado e deve ir lá todos os anos, de seis em seis meses, ver se continua tudo bem.
É lá que estão também os valores em dívida, se os tiver, os abonos das crianças, se os tiver, todos os recebimentos de apoios sociais da Segurança Social, e as datas e os recibos das pensões, por exemplo, está lá tudo. Então é um sítio importante e convém ter a senha e usá-la regularmente.
Além da senha, também pode usar a chave móvel digital, é muito prático, e se não tem trate disso rapidamente, porque é algo que lhe permite aceder a todos os serviços do Estado e também a imensos serviços privados. Não precisa de ter senhas, basta ter o seu telemóvel, recebe um SMS e entra em todos esses sites, bancos, seguradoras, coisas do Estado e privados, etc. É uma dica que deixo aqui a acrescentar àquilo que estamos a falar.
Além disso, na Segurança Social Direta tem lá um simulador de pensões. Tem um simulador de pensão por idade, na idade legal da reforma, e tem a reforma por invalidez, absoluta e relativa. Sempre que clicar nestes simuladores vai saber qual é o valor que vai receber na sua reforma, qualquer uma delas, com base nos descontos que já fez. Portanto, é algo que é extremamente exato, aparentemente, já vai ver que não é totalmente assim, mas que lhe permite ter uma visão da realidade.
Isto é muito importante sobretudo para pessoas que não fizeram muitos descontos para a Segurança Social. Mulheres que ficaram em casa a cuidar dos filhos, ou mulheres ou homens que trabalharam apenas poucos anos e depois interromperam, seja qual for o motivo. Portanto, é muito importante perceberem qual vai ser a vossa reforma, porque podem correr o risco de ter uma reforma miserável de 300 ou 400 euros, e convém saber isso com antecedência. Ao menos para não serem apanhados totalmente de surpresa.
Agora, vamos à pergunta do Luís. Eu digo no livro e em vários podcasts, que de acordo com os estudos mais recentes, quem se reformar em 2050 vai ter menos de metade do seu último salário. Não é o seu salário atual, é o seu último salário antes da reforma. Portanto, estão a partir do princípio de que vai, entretanto, ser aumentado e, portanto, não é assim já uma situação tão caótica como podemos estar a pensar.
Infelizmente, em alguns casos, será de facto assim. Porquê? Porque, por exemplo, eu não sou aumentado há muitos, muitos anos. O que quer dizer que não posso estar à espera de ser aumentado todos os anos e o meu salário duplicar quando fizer 67 anos, daqui a 15 ou 16 anos. Ainda vou ter de trabalhar mais uns anos valentes.
Portanto, o Luís leu isso, ficou assustado e foi ao simulador da Segurança Social, fez a simulação e ficou contente com o resultado. E, portanto, ele pergunta e, com razão, então, mas o Pedro anda a assustar as pessoas, a dizer que vão ter reformas miseráveis, mas afinal fui ver e a minha reforma é mais ou menos aquilo que estou a ganhar agora. Pode haver esta interpretação. Não estou a dizer que seja a interpretação do Luís.
Então, o que vos quero alertar é que aquilo será a reforma com base nas regras atuais face às receitas da Segurança Social e aos nossos rendimentos agora. Portanto, quando se fazem estes estudos, é no pressuposto de que, se nada for feito, entretanto, é isso que vai acontecer ao longo dos anos. Porquê? Porque a pirâmide etária da Europa, e em Portugal ainda é mais grave do que na Europa, porque Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo, quer dizer que há cada vez menos jovens a contribuir para aqueles que se estão a reformar e, portanto, haverá cada vez mais gente a ganhar dinheiro nas reformas e menos gente a contribuir para pagar essas reformas.
Agora ainda vai dando. E o resultado é com base nesse pressuposto de que agora ainda vai dando. Mas isso será cada vez pior. À medida que se aproximar da idade da sua reforma, este valor da simulação também vai ser alterado. Por isso é que não deve ficar tão contente com o valor que lhe está a dar agora.
Além disso, há mais dois alertas que quero dar. Se fizer a simulação automática, aquilo parte sempre do princípio que vai ser aumentado todos os anos, com o valor que lá está previsto, e que haverá também pelo menos um aumento da inflação de meio por cento ao ano. Já está a ver que, como isto é automático, e no meu caso, e no caso do Luís, ainda faltam 15 ou 20 anos até a idade da reforma, estes aumentos podem não acontecer e a inflação será superior a meio por cento, o que quer dizer que não pode confiar nesse resultado que lá está a aparecer.
Então, para dar um valor mais exato, vai ter de escolher a simulação, mas personalizada. Clica lá num lápis que aparece, vai a estes dois valores, vai pôr inflação zero, para não estar a contar com isso, e também que recusa o aumento salarial pressuposto de meio por cento, vai pôr também a zeros. E depois vai calcular esse valor. E esse valor já será, digo eu, na minha opinião, um valor mais real da reforma que terá quando se reformar.
Mas, além disso, quero alertar para outra coisa que também é extremamente importante. Estamos habituados a receber o nosso valor líquido e achamos que o nosso salário é 900 euros, 1000 euros, 1200, 1500, 1600, 2000, seja lá o que for, porque é esse o valor que nos cai na conta para gerirmos no nosso dia-a-dia, seja muito, seja pouco. Imagino que muitas pessoas vão ver lá o valor e vão até ficar relativamente contentes, porque acham que é o valor líquido, mas não.
Ou seja, a esse valor vão ter de descontar o respetivo escalão do IRS. Qual é o escalão do IRS? Basta ir ao Google ver, multiplica esse valor que lhe aparece no simulador da reforma por 14, e depois de multiplicar por 14 – porque também recebe o subsídio de férias e de Natal –, vai ver que valor é que lá aparece e vai ver em que escalão é que fica no IRS.
Depois vai, de uma forma simplista, aplicar o desconto desse escalão para depois lhe dar o valor líquido que vai receber. Não é exatamente aquele escalão do IRS, porque os escalões anteriores também contam, ou seja, uma pessoa que ganha 1000 euros não vai descontar 20 e tal por cento ou 30% sobre o valor total. Há taxas médias para cada escalão que já levam em conta essa diferença, mas lá está, já estou aqui a complicar um bocadinho demais.
Mas pega nesse valor bruto, desconta a percentagem que descobriu do IRS atual, porque quando for a idade da sua reforma, os escalões podem ser completamente diferentes, não sabemos, mas é bom para termos uma previsão. Feito esse desconto sobre o valor bruto mais real, sem os aumentos previstos oferecidos pela Segurança Social no simulador, então vai ter um valor mais aproximado da realidade.
Outro aspeto importante, sobretudo para valores mais baixos, é que deixa de receber também o subsídio de alimentação. Já não está a trabalhar, portanto sempre são menos cento e tal euros, dependendo da empresa onde trabalha, que vai receber e que agora costuma considerar como fazendo parte do seu salário.
Outra questão que é relevante, é que esta simulação é feita partindo do princípio de que vai mesmo trabalhar até à data legal da reforma, que vai variando todos os anos. Um mês para cima, um mês para baixo, neste momento está nos 66 anos e alguns meses. À medida que a situação se complicar, a idade da reforma vai afastar-se cada vez mais. O que quer dizer que o valor previsto do simulador pode ser, à medida que os anos passarem, atingido aos 67, aos 68, aos 69, aos 70 anos.
Estou a exagerar de propósito, mas para perceber que isto pode acontecer, para manter este valor da reforma do simulador. Portanto, o que é que prevejo que vai acontecer? É que não vamos aguentar, nem física, nem mentalmente, chegar a essa idade e continuarmos a exercer a nossa atividade. O que é que vai acontecer? Pelas circunstâncias, vamos ser obrigados a reformar-nos mais cedo ainda do que a idade legal da reforma, aceitando a penalização correspondente. O que vai prejudicar ainda mais o valor líquido que vamos receber.
Portanto, depois de todo este discurso, o que é que quero dizer ao Luís e a todos vocês? Por favor comecem a poupar o máximo que puderem, de uma forma regular e automática, para terem um montante, quando chegarem aos 60, 62, 63, 64, um montante poupado e investido que vos permita retirar desse bolo, todos os meses, a diferença que existir entre a vossa reforma e a qualidade de vida que for aceitável para vocês.
Portanto, qualquer um de nós que quando chegar à idade da reforma não tenha pelo menos 100 mil euros reservados para esse efeito, corre o risco de ter uma velhice indigna em termos financeiros. O que vos estou a dizer é muito grave, porque para muitos de nós 100 mil euros é um valor extremamente difícil de atingir. Mas, se não fizer um esforço nesse sentido com os recursos que tiver, se, entretanto, preferir gastar em telemóveis novos, num carro novo, em férias no estrangeiro – atenção, nada contra nada disto, nem é um juízo de moral –, a menos que lhe sobre dinheiro na reforma, porque caso contrário, o dinheiro da reforma não vai ser suficiente. Face às circunstâncias atuais, esqueçam. Isso não vai acontecer.
Desculpem ser o portador destas más notícias, mas se não começarem a preparar já a vossa reforma o mais cedo possível, e a dos vossos filhos assim que nascem, fazer um PPR, um ETF, investirem dinheiro para eles, com 25 euros por mês, 50 euros por mês, 100 euros por mês, se não fizerem isto, vocês vão lembrar-se desta conversa que estou a ter convosco agora no carro e vão pensar que se calhar deviam ter ligado mais àquilo que aquele homenzinho dizia naqueles podcasts que achavam que era só para meter medo.
Se isto fizer sentido para si, fico contente. Se não fizer sentido para si, fico contente na mesma, porque pelo menos estou a dizer-lhe aquilo que acho que devo dizer e que gostava que alguém me dissesse se eu não soubesse nada sobre isto. Portanto, Luís, em resumo, espero ter respondido à sua questão, refaça a sua simulação, e se ficar contente com o resultado, ótimo, mas faça a tal conta ao número mágico da reforma, que é saber quantos milhares de euros é que tem de lá ter para viver 20 anos, até os 80 e tal anos, com dignidade. E as decisões que considerar necessárias para que isso aconteça consigo e com a sua família.
Muito obrigado por me terem acompanhado em mais esta boleia financeira. Em 2025 vamos continuar a martelar assuntos financeiros sem críticas, sem juízos, sem complicações, e tentando simplificar ao máximo coisas que sempre nos pareceram complicadas. O dinheiro é mais simples do que parece. Só temos de falar a língua que ele fala. Temos de usar aqui um Google Tradutor para percebermos o que é que ele nos quer dizer e o que é que queremos dizer ao dinheiro para que ele faça aquilo que queremos que ele faça.
Muito obrigado e boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
O Luís fez uma simulação e até ficou contente com o resultado que o simulador deu. E perguntou-me porque é que eu - e tantos outros - insistimos em "meter medo" com a ideia de só recebermos metade do que recebermos no último salário antes desse momento.
Falo sobre esse importante valor na nossa vida neste episódio. É essencial ouvi-lo e fazer a sua conta.
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