[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana?
Devo aproveitar o IRS Jovem mensalmente?
[Madalena, ouvinte do podcast]
Boa tarde, Pedro. Quero agradecer por todo o trabalho que tem feito pelos portugueses. Já ouvi todos os episódios do seu podcast e posso dizer que foi até agora a melhor educação financeira que tive. Tendo a possibilidade de beneficiar do IRS Jovem mensalmente, e uma vez que utilizo o valor do reembolso do IRS para reforçar o meu PPR fiscal, como é que sei que forma é que me compensa mais?
Entrego a declaração de IRS e tenho o benefício apenas nessa altura do IRS Jovem ou peço à minha entidade patronal para beneficiar do IRS Jovem mensalmente?
[Pedro Andersson]
Olá, Madalena. Muito obrigado pela tua pergunta. A tua pergunta é muito inteligente. Em primeiro lugar, obrigado pelos elogios. Ainda bem que é útil. A minha ideia é justamente partilhar aquilo que ninguém partilhou comigo quando tinha a tua idade e é aquilo que estou a partilhar com os meus filhos e que tento partilhar com todos vocês, os mais jovens, para que comecem a vossa vida financeira da melhor forma possível.
Então, o IRS este ano de 2025 – depois farei o episódio só sobre o IRS Jovem e as dúvidas que muitos de vocês têm –, respondendo diretamente à tua pergunta, se entendi bem, queres saber se pedes à tua empresa para receber mais todos os meses ou não dizes nada e recebes uma batelada de dinheiro no IRS do reembolso no ano que vem. Pelo que entendi, o teu objetivo é pegar nesse bolo de dinheiro para reforçares o teu PPR e, dessa forma, teres novamente benefícios fiscais.
Em primeiro lugar, atenção a um aspeto: não sei a tua idade, mas, imagino eu, se estiveres nos primeiros anos em que praticamente não vais pagar IRS, vais poder fazer o teu PPR, mas não te vai valer nada para aumentares o teu reembolso, porque o valor que podemos deduzir com o PPR no IRS é se ainda lá tiveres imposto para pagar. Portanto, se não pagares nada de IRS, o Estado não te vai deduzir nada. Se não pagaste, é um desconto no imposto a pagar. Portanto, atenção a isso e refaz as tuas contas se o teu objetivo for esse exclusivamente.
Se o teu objetivo é fazer um PPR ou investir, por exemplo, num ETF SP500 ou outra ferramenta financeira para criares dinheiro, para ganhares e multiplicares dinheiro, então aí a melhor estratégia é esta. É receberes mensalmente mais dinheiro e reforçares mensalmente o teu PPR ou o teu investimento. E perguntas tu, mas porquê? Não é melhor juntar tudo e fazer tudo de uma vez? Sim e não.
Se estiveres à espera de abril do ano que vem, neste caso estamos a referir-nos a 2025, só em 2026 é que vais receber o tal bolo grande de reembolso do IRS. Portanto, perdeste, se tomares essa opção que é perfeitamente válida, perdeste um ano de investimento mensal num PPR, num ETF, num fundo de investimento ou em ações ou criptomoedas, naquilo que entenderes. Portanto, perdeste um ano de rendimentos.
Perdeste o mês de janeiro, o que investiste e começou a crescer, ou a evoluir, porque nunca sabes se vai crescer ou se vai decrescer, ou desvalorizar, o pedaço de janeiro, o pedaço de fevereiro, o pedaço de março, o pedaço de abril e assim sucessivamente, e depois só vais receber em abril, maio ou junho de 2026, para depois começares a investir esse dinheiro. Que desperdício de tempo!
Portanto, o meu conselho é sempre – e atenção, vocês não são obrigados a concordar comigo e aceito opiniões divergentes –, ter o dinheiro do meu lado para usar como muito bem entender, normalmente investindo em vez de o gastar, a menos que queira fazer essa opção, do que deixar o meu dinheiro parado um ano inteiro, ainda por cima um valor considerável, nas mãos do Estado, em que é o Estado que vai estar a ganhar dinheiro com o meu dinheiro. Porque ele não vai pagar juros sobre esse dinheiro, ele está a utilizar esse dinheiro para os fins que ele muito bem entender.
Portanto, Madalena, a minha resposta é, primeiro, atenção, porque pessoal do IRS jovem, se não tiverem retenção na fonte e impostos para pagar, não vos vale de nada fazer um PPR para esse objetivo. Se o vosso objetivo for fazer um PPR porque sim, haja dedução no IRS ou não, ou outra ferramenta de investimento, aconselho sempre a fazerem isso mensalmente, aconteça o que acontecer. O ideal até é ser de forma automática, em vez de estar à espera de ter um valor considerável para depois fazer esse investimento.
Eletricidade: afinal o indexado é ou não mais barato?
[António, ouvinte do podcast]
Olá, Pedro. Chamo-me António Silva, sou de Famalicão e tenho uma questão a fazer relativamente a uma publicação que fez sobre sair do mercado indexado para o liberalizado. A questão é que fiz a simulação pela ERSE, coloquei os dados da minha fatura, e o que constatei é que o valor mais baixo continuar a ser o do mercado indexado.
A minha dúvida relativamente a esta situação é porque o Pedro publicou uma informação a dizer que já devíamos ter saído do mercado indexado, porque o liberalizado estava mais barato. Não sei se fiz alguma coisa mal ou não, mas coloquei todos os valores dos consumos, preços sem IVA do quilowatt/hora, horário, potência, e deu-me um valor mais baixo no indexado. Podia esclarecer-me esta situação?
[Pedro Andersson]
Ouvintes assim é que eu gosto! Com espírito crítico, mas é mesmo assim. Fez muito bem levantar essa questão, embora já tenha referido brevemente essa questão num episódio anterior, mas claro que vocês não são obrigados a ouvir os episódios todos, era o que faltava. Portanto, acho que é relevante a sua questão.
Atenção a isto, meus amigos, todos vocês que estão no mercado indexado da eletricidade, ou que vão ao simulador, se não retirarem a cruzinha ou o selecionado dos tarifários indexados quando vão ao simulador da ERSE, vai dar-vos, em algumas situações, os tarifários indexados como o melhor para vocês. Aliás, como aconteceu agora com o António.
E isto acontece porquê? Porque fizeram tudo bem, exceto ler com atenção as notas que lá estão no simulador da ERSE a explicar como é que eles fazem essa simulação específica do indexado. Porque como eles não têm ali o valor diário exato daquele instante, nem faria sentido, porque há dias que são mais caros e dias que estão praticamente a zero, que têm eletricidade de graça, o que conta é a média do mês anterior, ou dos últimos 30 dias, em relação à data em que vocês fizeram o contrato com uma empresa do mercado indexado.
Para quem não sabe do que é que estou a falar, é aquele contrato em que pagamos um preço variável de eletricidade todos os meses. Eles fazem as contas a quanto é que eles compraram a eletricidade, acrescentam a margem de lucro e é isso que pagamos. Se eles compraram barato, temos esse mês baratíssimo. Se compraram mais ou menos, vamos ter uma fatura mais ou menos, assim como se pagaram muito caro, vamos ter uma fatura cara.
É assim que funciona e durante um ano e meio, quase dois anos, valeu muito a pena, porque o preço da eletricidade no mercado grossista esteve muito, muito barato. Agora, esse tempo acabou. Acabou no verão passado. E então, como disse o António, eu estou farto de vos avisar que não se metam no indexado agora, e se estão lá, saiam rapidamente, porque já estão a pagar o dobro das outras.
Mas o simulador da ERSE diz o contrário. Então, em que é que ficamos? Acreditamos na ERSE ou no Pedro Andersson? Devem acreditar nos dois, porque o simulador da ERSE utiliza o critério da previsão de preço do próximo ano, daqui a 12 meses, ou nos próximos 12 meses. E não é isso o que vocês vão pagar se aderirem agora ou se estiverem agora no mercado indexado. A mim não me interessa o preço que vai estar daqui a um ano, interessa é o preço a que está hoje. Ontem, hoje, amanhã, na próxima semana, nos próximos 15 dias. Então, quais são as contas que faço e que partilho convosco? São os valores reais do mês anterior.
Ou seja, quem está no indexado é este valor que vai pagar este mês, quando receber a fatura sobre o mês que passou, e é um valor aproximado a quem fizer agora o “disparate” de aderir ao indexado, porque há de ser mais ou menos aquilo que pagou no mês passado com uma pequena variação para cima ou para baixo. E neste momento em que vos estou a falar, em janeiro de 2025, dependendo da semana em que vocês estiverem a ouvir este episódio, a eletricidade está a preços muito, muito altos.
As empresas que comercializam a eletricidade estão a comprá-la agora a preços caríssimos. Ou então, algumas delas já compraram muita no passado e, portanto, agora estão a evitar comprar. Portanto, não queremos esse tarifário agora. António e todos vocês, atenção a isso, o simulador da ERSE está correto, mas têm de ver qual é a fórmula que eles estão a utilizar. E a fórmula é o vosso consumo, ou o consumo que vocês lá puserem, vezes o preço que eles acham que a eletricidade vai ter nos próximos 12 meses e eles acham que lá mais para a frente haverá de baixar.
Torno a repetir, não é essa a fórmula que partilho convosco e que, na minha opinião, é muito mais real nessa parte do indexado, porque em relação a tudo o resto, é a fonte que utilizo. Quando faço o top 10 das empresas mais baratas todos os meses, é o simulador da ERSE que utilizo e confio nos resultados que ele me dá, exceto no indexado.
Sendo que, mesmo o simulador da ERSE, de vez em quando tem lá alguns valores errados, não por culpa da ERSE, devo dizê-lo, pelo menos é disso que estou convencido, mas das próprias empresas, porque elas estão obrigadas a comunicar à ERSE cada vez que fazem uma alteração de preços, mas algumas ou se enganam, ou se atrasam, ou põem só uma semana mais tarde, ou porque houve férias, ou porque houve um feriado, ou porque houve isto ou aquilo.
Houve várias falhas, mas globalmente, ao longo dos últimos cinco anos tenho confiado nos simuladores, ou no simulador da ERSE, quer em relação à eletricidade, quer em relação ao gás.
Posso mudar o prazo da Euribor?
[Pedro, ouvinte do podcast]
Bom dia, Pedro. Desde já, muito obrigado por toda a sua ajuda ao longo dos anos e daí tratar por Pedro, porque penso que você já faz parte da minha vida há algum tempo. A minha pergunta é muito simples. Tenho um crédito à habitação que já foi renegociado e neste momento tenho a Euribor a três meses. Será que dentro do mesmo crédito consigo renegociar a Euribor para outro prazo, de seis ou 12 meses, sem perder quaisquer condições?
[Pedro Andersson]
Olá, Pedro. Muito obrigado pelos elogios e também pela pergunta. Ora, o que é que posso responder a isto? Não sei a resposta, porque só o banco é que lhe poderá dizer. A resposta simples, curta e direta é, poder pode, desde que o seu banco aceite. O que normalmente acontece é que quando renegociamos o nosso crédito à habitação, e o Pedro disse que já o fez e fixou uma determinada taxa, ao renegociar aceitou novas condições e o banco também aceitou novas condições.
Portanto, se agora chegar ao banco e disser que quer alterar outra vez as suas condições, o banco pode dizer que sim ou que não. Tudo depende se eles querem que continue como cliente satisfeito ou se conhece ou não quem dentro do banco toma essas decisões.
O banco pode dizer que sim a mudar o prazo da Euribor, mas pode, por exemplo, dizer que em contrapartida quer que adquira mais um ou dois serviços. Ou que quer que faça um PPR, que adquira um seguro, um faqueiro de prata ou um eletrodoméstico. Estou a ironizar, mas é para que perceba que, caso digam que sim, pode haver contrapartidas.
Portanto, a resposta é que vai ter de perguntar ao seu banco, tem de lhes dizer qual é a sua intenção, eventualmente explicar porquê, e ver a resposta deles. O que posso dizer é que não há nada que o impeça, mas não conheço muitos casos, para não dizer que não conheço nenhum caso, em que eles simplesmente aceitem porque sim.
É porque isto cria alguma instabilidade no seu crédito à habitação e os bancos não gostam nada de instabilidade, ainda por cima porque já renegociou, pelo que disse o Pedro, o seu crédito à habitação, e suponho que há relativamente pouco tempo.
Portanto, a resposta que tenho para lhe dar é, tente. Sendo que a minha intuição é que, à partida, a menos que lhes dê também algo em troca – e ficará a perder com isso –, dificilmente vai conseguir. Mas tente.
Hoje respondi a mais três das vossas perguntas. Muito obrigado por estarem desse lado. Não se esqueçam de subscrever este podcast, de o partilhar com outros, dar as estrelinhas que entenderem e de acionar a notificação para serem avisados sempre que houver um episódio novo. Podem enviar as vossas perguntas em áudio para o número do WhatsApp do Contas-poupança, que é o 92 775 37 37.
Muito obrigado e boas poupanças!
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