Estudo diz que a poupança dos portugueses é “das mais vulneráveis” à inflação na zona euro
A poupança dos portugueses é “das mais vulneráveis” à inflação na zona euro. Os portugueses estão a arriscar “uma perda considerável” de poder de compra com o dinheiro que acumularam nos últimos dois anos, segundo um estudo divulgado hoje.
Deixem-me dizer-lhes antes de mais que este estudo só vem confirmar o que vos ando a tentar dizer ao longo dos últimos 5 anos. O nosso medo de mexer em dinheiro e de arriscar um pouco em produtos sem capital garantido é o maior travão para termos uma vida financeira melhor a médio prazo e até de fazer a economia crescer mais. Quando temos mais dinheiro disponível acabamos por também consumir mais e a perder o medo de empreender e até de investir em mais negócios que possam gerar-nos mais dinheiro. É tudo uma questão de mentalidade e atitude. Mas vamos ao tal estudo, citado pela LUSA.
“Além de registarem uma taxa de poupança significativamente abaixo da média europeia, os portugueses aplicaram em depósitos cerca de dois terços do dinheiro que colocaram de parte nos dois anos da pandemia, arriscando assim uma perda considerável de poder de compra com as poupanças acumuladas nos últimos dois anos”, alerta a Corum Investments Portugal/ BA&N Research Unit no estudo ‘Portugal – Poupança e Inflação no contexto europeu”.
O documento acrescenta que “o conservadorismo dos portugueses não é um exclusivo dos tempos de pandemia, pois os depósitos bancários também representam uma elevada fatia dos ativos financeiros totais dos portugueses, que estão a aplicar uma fatia diminuta das poupanças na reforma”.
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A inflação está nos 8,1% em maio de 2022, um máximo desde 1993. Assim, o estudo nota que “os 173 mil milhões de euros que os portugueses tinham em depósitos no final de 2021 apresentam uma rendibilidade real negativa de 7,9%”.
Não se prevêem grandes subidas nos juros dos depósitos
“Depois de muitos anos com as taxas de juro do BCE em mínimos históricos, dificilmente os bancos comerciais vão nos próximos tempos aumentar as taxas de juro dos depósitos para níveis que compensem a inflação”, refere, prevendo que “vai demorar tempo até que a inflação baixe para a meta de 2% do BCE e não será tão cedo que a taxa de juro dos depósitos vai atingir este nível, pelo que a perspetiva de médio prazo para a rendibilidade dos depósitos é bastante sombria”.
Segundo nota a BA&N Research Unit, “os portugueses até nem estão a ser dos mais penalizados com a escalada da inflação, que está agora alinhada com a média da zona euro, mas são dos mais expostos à perda de valor das suas poupanças, devido sobretudo ao conservadorismo dos seus investimentos, falta de alternativas com risco reduzido e também nível fiscal mais elevado do que a média sobre o capital e o trabalho”.Recordando que “a perda de popularidade dos produtos de poupança do Estado tem sido notória desde 2018, devido à descida acentuada da remuneração destes produtos, em linha com forte redução dos custos de financiamento do Estado devido à intervenção do BCE no mercado de dívida pública”, o estudo defende que “esta evolução também denota como o Estado português não assume um papel incentivador da poupança das famílias portuguesas, tendo apenas dinamizado este mercado quando necessitou do financiamento dos particulares”. Acaba por se tornar uma estratégia que – sustenta – acaba por ‘empurrar’ os investidores com perfil de risco conservador para os depósitos.
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Da análise efetuada resulta ainda que, tendo por base valores de 2021, o peso dos depósitos em Portugal (67%) é mais do dobro do registado na média dos países do Euro (31,1%): “Por cada três euros poupados, os portugueses deixaram dois euros no banco, enquanto na média da zona euro apenas um euro foi para depósitos”, nota.
Aliás, na zona euro (dados de 2020), apenas três países surgem com um peso dos depósitos acima do registado em Portugal: Luxemburgo (83,6%), Lituânia (75,4%) e Grécia (307,7%), “embora os valores da Grécia sejam deturpados por uma taxa de poupança muito reduzida (2,6% do rendimento disponível).
“No final de 2021, cada português tinha 81.227 euros em ativos financeiros (em capital garantido e sem), um valor que situa o país na parte inferior da tabela considerando 17 países da zona euro”, lê-se no estudo.
A “falta de alternativas no mercado para captar as poupanças das famílias, bem como o reduzido nível de literacia financeira dos portugueses” são apontados como ajudando “a explicar a opção preferencial pelos depósitos”. “Mas a fiscalidade também contribui para a falta de cultura de investimento por parte dos particulares em ativos de maior risco”, acrescenta o trabalho, salientando que “a taxa implícita sobre o capital em Portugal é a terceira mais elevada da zona euro”.
A elevada carga fiscal sobre os salários é outro dos fatores avançados como limitador à poupança dos portugueses: “Os impostos e as contribuições para a Segurança Social levam uma relevante fatia dos salários, deixando uma margem mais diminuta para as famílias conseguirem deixar dinheiro de parte depois de pagarem as despesas do dia-a-dia”, explica.
A prová-lo, continua, estão dados recentes da OCDE que “mostram que a carga fiscal sobre rendimentos do trabalho em Portugal atingiu 41,8% em 2021, o que coloca o país na parte superior da tabela na zona euro (8.º) e bem acima da média da OCDE (34,6%)”. O estudo diz que em Portugal este é um problema crónico e com tendência para piorar.
“A conjugação de uma elevada fiscalidade sobre o trabalho e o capital em Portugal, com a falta de perceção de alternativas atrativas no mercado financeiro português e reduzida apetência dos portugueses pelos investimentos de maior risco, favorece a manutenção da tendência de os portugueses escolherem os depósitos para aplicar as poupanças, mesmo que as taxas de retorno se perspetivem negativas por um período prolongado”, conclui o estudo.
Em resumo, a crise financeira que estamos a atravessar pode ser um excelente momento para sair da sua zona de conforto e começar a perceber como pode começar a ganhar dinheiro com o seu dinheiro. Lá fora (e cá em Portugal), quem já percebeu como funciona este tipo de investimentos estão a reforçar como podem os seus investimentos porque – mesmo que desçam ainda mais – estão claramente em “saldos”. Quem investir agora em fundos PPR, Fundos de investimento (tem de os saber escolher), ETF e eventualmente (com risco total) algumas criptomoedas, pode vir a ver compensada a sua “coragem” agora.
Se, por outro lado, se recusar a arriscar um milímetro, a resultado é matemática pura: as suas poupanças estão neste momento com uma rentabilidade negativa real de 7,9%. Mesmo que não tenha perdido 1 cêntimo no seu saldo na conta à ordem ou no depósito a prazo.
Jogasse pelo seguro. Quando as taxas aumentam, os empréstimos têm aumentos elevados. Os depósitos, é a conta gotas.😡