
PPR: Benefício fiscal no IRS não chega para compensar más escolhas
Todos os anos é igual. Chega dezembro e multiplicam-se os anúncios dos bancos e seguradoras a incentivar mais um reforço no PPR. O argumento é sempre o mesmo: “faça um PPR até 31 de dezembro e receba um desconto no IRS”. É verdade que existe um benefício fiscal, mas não é isso que deve orientar a sua escolha. E há milhares de portugueses a perder dinheiro por acreditarem apenas nesse argumento.
Pode ver ou rever a reportagem em vídeo aqui:
O que ganha com o benefício fiscal
A dedução no IRS corresponde a 20% do que aplicar num PPR, até aos seguintes limites:
- Até 35 anos: aplica 2.000 € e recebe 400 € no IRS;
- Entre 35 e 50 anos: aplica 1.750 € e deduz 350 €;
- Mais de 50 anos: aplica 1.500 € e deduz 300 €.
Além disso, quando resgatar o PPR, só paga 8% de imposto sobre os lucros, em vez dos 28% aplicados a depósitos a prazo ou certificados de aforro.
O problema é simples: não adianta receber um benefício fiscal se o PPR, por si só, está a destruir valor. Não é mau, mas só faz sentido se escolher um PPR que também lhe dê lucro. Caso contrário, está a receber dinheiro do Estado, mas a perder dinheiro no PPR. Acaba por ser um bom negócio para as entidades financeiras e um mau negócio para si.
Um estudo que mostra o que está realmente a acontecer
Um levantamento feito pela Casa de Investimentos, com base em 7.073 PPR transferidos nos últimos quatro anos, revela uma realidade pouco conhecida. Sempre que um PPR é transferido, a instituição de origem é obrigada por lei a fornecer todos os dados por escrito, com rigor total. É uma fonte muito mais fiável do que qualquer campanha comercial.
Os resultados não deixam margem para dúvidas:
- No conjunto de todos os PPR analisados, a rentabilidade média ficou 1,58%, muito abaixo da inflação.
- Nos PPR com capital garantido, a média foi de apenas 0,8% ao ano — com produtos que existem há décadas.
- 1.556 PPR estavam a perder dinheiro no momento da transferência, o equivalente a 22% do total.
- Destes, 534 afirmavam ter capital garantido.
E há aqui um detalhe crítico: muitos PPR só garantem capital na reforma. Se resgatar antes, pode receber menos do que aquilo que investiu.
Comissões que comem os ganhos
Outro problema identificado no estudo é a estrutura de custos. Em vários casos, bancos e seguradoras ganharam mais em comissões do que aquilo que os clientes ganharam com o PPR. Em mais de metade dos produtos analisados, as instituições ficaram com mais de metade dos ganhos totais.
Antes de avaliar qualquer PPR, confirme sempre:
- Comissão de gestão
- Comissão de performance
- Custos de depósito/custódia
- Custos administrativos e de auditoria
É nestes detalhes que muitos PPR deixam de ser viáveis para o cliente.
Como escolher um PPR melhor
Assim, para decidir fazer um PPR pela primeira vez ou para reforçar um que já tenha, tem de decidir primeiro quantos anos pensa ficar com ele. Se quiser levantar o seu dinheiro daqui a poucos anos, talvez seja mais prudente fazer um seguro PPR ou um fundo PPR com maior percentagem de obrigações.
A escolha depende do tempo que pretende manter o investimento:
- Prazo curto: seguros PPR ou fundos com mais obrigações podem ser mais adequados.
- Prazo longo (20 a 30 anos): fundos PPR com maior percentagem de ações tendem a ter melhores resultados. Há produtos com rentabilidades médias anuais próximas de 10%.
Para comparar de forma justa, consulte simuladores oficiais (ASF, APFIPP, DECO) e analise sempre rentabilidades a 1, 3 e 5 anos ou mais.
Com os dados de outubro, por exemplo:
- Nos últimos 12 meses, os 10 PPR mais rentáveis variaram entre 12% e 29%.
- Na média dos últimos 3 anos, ficaram entre 10% e 19% ao ano.
- Nos últimos 5 anos, mesmo com pandemia e guerras, variaram entre 6% e 12% ao ano.
Os resultados existem — é preciso é escolher bem.
Como saber se o seu PPR está a dar lucro ou prejuízo
Se já tem um PPR, é muito simples saber se está a perder ou a ganhar dinheiro com ele.
Escreva um e-mail para a instituição onde o tem, identifique o número da apólice ou da conta, e peça exatamente os seguintes dados:
- Valor e data de todas as entregas;
- Rentabilidade anualizada desde a subscrição;
- Rendimento acumulado;
- TEC – Taxa de Encargos Correntes, com discriminação de todos os custos;
- Custos de transferência.
Se lhe disserem que não podem fornecer esta informação, recorde que, por lei, são obrigados a entregá-la em 10 dias úteis sempre que o PPR é transferido para outra instituição. Se dão esses dados a um concorrente, têm obrigação moral e legal de os dar ao cliente.
Se o que receber for uma surpresa desagradável, pode sempre transferir o seu PPR para outra entidade — e isso não tem custos fiscais.
O seu PPR é para ganhar dinheiro, não é para perder
Benefícios fiscais no IRS ajudam, mas não compensam um PPR que não rende. Há milhares de portugueses a perder dinheiro sem saber. Confirme quanto está a render o seu, compare com outros no mercado e tome uma decisão informada.
O que deve reter:
- O benefício fiscal é bom, mas é pequeno quando comparado com uma má rentabilidade.
- Muitos PPR com capital garantido estão a dar prejuízo real.
- Os bancos e seguradoras ganham muitas vezes mais em comissões do que o cliente ganha no PPR.
- A solução é pedir dados objetivos (com a minuta), comparar e transferir se for preciso.















