Peças usadas para o carro?
Foi das reportagens mais surpreendentes que já fiz e que aproveito para partilhar consigo novamente porque voltei recentemente a poupar bastante dinheiro com esta dica. Escreverei um artigo nos próximos dias sobre essa nova poupança de várias dezenas de euros com o carro. Só estou à espera do resultado final.
Ao longo dos anos, uma das coisas que mais satisfação profissional e pessoal me traz é perceber como as coisas funcionam nos bastidores dos negócios. E de como nos levam o dinheiro à frente dos nossos olhos e achamos que está tudo bem. Parece quase um truque de ilusionismo. Obviamente não estou a falar dos profissionais honestos que felizmente são a maioria. Mas saber certas coisas permite-nos ter os olhos mais abertos e estar atentos a oportunidades de poupança com os mesmos resultados práticos.
Deixe-me primeiro explicar como cheguei a esta reportagem. Mais uma vez, foi um caso pessoal.
Bati com o carro
Nada de grave. Só chapa batida. Mas o choque afetou a lateral do carro, partiu o farol e dobrou ligeiramente o capot. Levei o carro ao mecânico, que o levou ao bate-chapas. O orçamento era de 1.000 euros. Já estava a preparar-me para o que tem de ser, mas lembrei-me que um conhecido meu restaura nos tempos livres “carochas” antigos. Liguei-lhe e ele disse-me: “Esquece lá esse orçamento. Vamos a um Centro de Abate Automóvel e arranjamos essas peças todas em segunda mão”.
Para mim foi uma novidade. Já tinha ouvido falar dos sucateiros e “Ferros-velhos”, mas dos Centros de Abate nesta perspetiva não. Para mim, estes centros eram mesmo o fim de linha. Era para desmontar e destruir. Afinal não.
Fui lá com ele e procuramos carros iguais ao meu. Encontrámos vários. Ele levou a mala de ferramentas dele e a um tirou o pára-choques, a outro o farol, a outro o guarda-lamas, e a outro o capot. Uma peça de cada cor.
Quando vi o carro montado com as diferentes peças, parecia um carro da “Benetton” com cada parte de sua cor. Mas a vantagem é que eram todas peças originais. Melhores e perfeitas, em comparação com peças compradas na “concorrência” (as lojas que vendem peças novas mas de marca branca).
Foi só pintá-las da cor do meu carro e ficou como novo. Quanto custou? Menos de 400 euros. Poupei com esta dica 600 euros.
Pensei, tenho de partilhar isto no “Contas-poupança”. Quando regressei ao Centro foi com a equipa de reportagem.
É como ir às compras no supermercado
Encontrei lá Paulo Gonçalves, mecânico que todas as semanas passa por ali à procura de peças para os clientes. Usa um carrinho de compras, como nos hipermercados, para transportar as peças. Procura pára-choques, motores, elevadores, caixas de velocidades, portas… Tudo o que precisar nesse dia ou nessa semana.
O Centro de Abate Automóvel Bentos fica no Porto Alto, a poucos quilómetros de Lisboa. Mas é apenas um exemplo. Há dezenas de centros destes em todo o país. É só procurar no Google que encontra o mais perto de si. Quando precisar de uma peça ou parte de automóvel passe por lá a perguntar se tem, em bom estado. Pode ter sorte.
Menos 80%
Os descontos são na ordem dos 70 ou 80%. Para ter uma ideia do que pode poupar, um pára-choques novo pode custar 200 euros. Aqui fica em cerca de 70 euros. Uma porta nova custa cerca de 300 euros; aqui fica-lhe em 80 euros. Um vidro para o pára-brisas custa 180 euros; aqui compra um por 10 ou 15 euros.
Tem de trazer as suas próprias ferramentas. Encontra o carro, percebe se tem a peça que quer e o estado em que está, e se lhe interessar, desmonta-a, paga e leva-a. Assim simples. O que há é o que está à vista.
Jorge Bento é o responsável por este Centro. Explicou-me que só não vende o chassis. O resto é tudo para vender: do motor ao pisca-pisca. Ao fim-de-semana vêm famílias inteiras “passear” à procura de peças. Pais, filhos, avós e netos. E até senhoras sem medo de sujar as mãos.
As frentes de automóvel são as que se vendem melhor. A explicação é simples: as pessoas quando batem em alguém normalmente é a frente que estragam e como são culpadas, procuram mais barato porque são elas que pagam. Quando alguém bate por trás, normalmente são os outros os culpados, por isso como é o seguro dos outros que paga, metem sempre novo.
Há lojas mais organizadas
Para a reportagem, visitei também uma loja mais “organizada”. Há por todo o país, empresas que compram carros velhos ou acidentados em Portugal e no estrangeiro e que os desmontam para vender peças. É o caso da “ChiquitaCar”. Só trabalham com 5 marcas: Mercedes, Volkswagen, Audi, Seat e Skoda. Outras empresas trabalharão com outras marcas. Investigue o que há perto de si. A vantagem, neste caso, é que dão garantia. No Centro de Abate não.
Não desmonta nada. É só chegar ao balcão e perguntar se têm a peça que procura. Uma porta para um Mercedes custa 50 ou 70 €. Uns amortecedores ficam por 15 €. Pode comprar um capot por 30 a 60 € ou uns faróis por 10 ou 20 €.
Travões, pastilhas e pneus?
Até discos de travões e pastilhas usados pode comprar aqui. E pneus praticamente novos. Mas não é um risco de segurança? O responsável pela loja explicou-me que um carro acidentado por motivos que não tenham a ver com a segurança dos componentes pode ter perfeitamente os travões ou pneus novos ou praticamente novos. Porquê deitá-los fora se estão ótimos? O mesmo se aplica a todas as peças que vendem.
Ora tudo isto a propósito de quê? É que se não confiar absolutamente no seu mecânico sei que que há casos em que está a pagar novo pelo arranjo do seu carro e as peças podem ter sido compradas nestes locais. Tem de confirmar, olhando bem e pedindo as faturas dos materiais, que está a pagar mesmo o que pediu (novo, se pediu novo).
Ou se o orçamento que lhe deram é demasiado para a sua bolsa, pergunte se pode trazer o material (se o encontrar) e quanto leva pela mão-de-obra. Pode compensar.
E melhor ainda, se conseguir comprar as peças que usa e substituí-las você mesmo, então a poupança ainda é maior. Eu sou um péssimo exemplo, mas há situações em que é só desaparafusar e aparafusar. Não tenha medo só porque nunca fez. Há sempre uma primeira vez.
Se achar que não quer arriscar em peças que afetam a segurança do carro, acho que faz muito bem. É apenas mais uma alternativa que é importante conhecer. Um dia pode fazer-lhe jeito.
Tem aqui a reportagem que fiz em 2014:









