Prestações da casa vão continuar a subir – BCE volta a subir juros em 25 pontos base

Escrito por Pedro Andersson

27.07.23

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6 min de leitura

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EURIBOR | Prestações da casa vão continuar a subir até ao fim do ano

Não vos trago boas notícias. O BCE acaba de anunciar um aumento das taxas de juro em mais 0,25% (os economistas dizem “25 pontos base”). Ou seja, a Euribor vai continuar a subir nos próximos meses ou, no mínimo, não vão baixar. É a taxa dos depósitos do Banco Central Europeu mais elevada de sempre.

No comunicado divulgado após a reunião de política monetária, o BCE refere que “a inflação continua a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo”.

E já anunciaram que em Setembro ou aumentam mais outra vez ou fica na mesma. Descer é que nem pensar. Enquanto a inflação não baixar para os 2% (está nos 5%) as prestações da casa com taxa variável vão continuar altíssimas para os valores a que estávamos habituados.

“A evolução desde a última reunião apoia a expectativa de que a inflação descerá mais no resto do ano, mas permanecerá acima do objetivo por um período prolongado. Apesar de algumas medidas revelarem sinais de abrandamento, a inflação subjacente continua a ser, em geral, elevada”, explica o BCE.

Um dos problemas é a falta de acordo nos cereais por causa da guerra na Ucrânia: é que se os preços dos cereais aumentarem (já está a acontecer) os preços dos bem alimentares vão subir outra vez o que fará a inflação subir outra vez também. E não saímos disto.

Para quem não percebe nada disto, recordo – outra vez – que a ideia de fazer subir a Euribor através dos aumentos dos juros do BCE é mesmo empobrecer as pessoas. Ao aumentar as prestações do crédito à habitação, as famílias ficam com menos dinheiro para gastar e os comerciantes serão obrigados a baixar os preços para vender alguma coisa. É terrível explicar isto desta forma mas é mesmo assim que esta parte da economia funciona.

Os especialistas explicarão a seguir que isto é mesmo necessário porque, caso contrário, a inflação continua a aumentar e as pessoas que estão a ganhar o mesmo, ficarão sem dinheiro da mesma maneira para comprar os bens essenciais. Como vê, é um círculo vicioso horrível.

Resta a cada um de nós aproveitar todos os apoios a que tem direito, a arregaçar as mangas e ir à luta com os bancos para tentar conter os aumentos das prestações do crédito à habitação. Vá ao seu banco, aos outros bancos, amortize o máximo que puder, encontre outras fontes de rendimento, consilide créditos, venda bens que não precisa, corte tudo o que não for essencial e peça ajuda se não souber o que fazer. Isto não vai passar nos próximos 10 a 12 meses. Se tem rendimentos baixos, prepare-se para dias difíceis.

Até onde vai subir a EURIBOR?

Vou fazer-lhe um breve resumo do que dizem as várias fontes do mercado sobre o que esperam que aconteça no futuro próximo. Com esta informação deve precaver-se para o que aí vem, sem entrar em pânico, e ao mesmo tempo deve ir reagindo da melhor forma que pode e sabe para tentar manter a sua vida financeira equilibrada.

Como a Euribor a 12 meses está atualmente a 4%, e os aumentos do BCE podem ser de 0,25 por duas vezes (uma foi hoje), deve esperar com algum grau de certeza que a Euribor suba provavelmente até perto dos 4,5% até ao fim do ano.

Se tiver um spread de 1%, isso quer dizer que durante vários meses poderá vir a pagar 5,5% de juro ao banco, mais o seguro de vida. É uma brutalidade que representa um aumento de algumas centenas de euros mensais em relação ao que pagava há um ano.

Se tiver a Euribor a 12 meses e tiver o “azar” de ter a renovação no pico da Euribor em Dezembro ou Janeiro, isso pode representar um gasto suplementar com o crédito à habitação de vários milhares de euros no ano que vem (2024). Ponha dinheiro de lado.

Vários analistas apontam para Janeiro de 2024 como o pico da Euribor. Será que ultrapassará os 4,5%? Não sabemos. Depois, a partir de Janeiro, as várias taxas Euribor deverão começar a descer, dizem os especialistas. Baixarão dos 4%, mas em 2024 e 2025 deverão continuar a rondar os 3,5% e manterão a tendência de descida até chegar talvez aos 2,75 em 2026 e devem continuar nesse patamar (com altos e baixos) até 2030.

Claro que isto são previsões. Tudo pode mudar. Mas é importante fixarmos estes valores como farol.

Por exemplo, se lhe propuserem uma taxa fixa de 4% até ao fim do contrato, claramente parece ser um valor exagerado face às previsões. Estará descansado, mas vai pagar um custo altíssimo por essa estabilidade. Compensará? Só você sabe.

Uma taxa mista a 2 anos, entre os 3 e os 4%, poderá ser uma decisão sensata, se conseguir suportá-la. No meu caso vou tentar manter o rumo, suportando esta subida altíssima, uma vez que poupei muito também quando a Euribor esteve negativa. E como tenho um spread de 0,3, prefiro amortizar o máximo que posso este ano e nos próximos, em vez de fixar uma taxa. É uma opção minha, não é um conselho. No momento em que escrevo, estou a pagar uma taxa de juro de 3,672%, já com o spread. Para mim ainda é suportável. Em 2008, cheguei a pagar 5,5%.

O importante é aguentar este ano de 2023 no “olho do furacão”. Ainda é cedo para garantir que depois vai baixar, mas é o que apontam as previsões.

Não se esqueça de que se ficar mesmo aflito, vender a sua casa pode ser uma opção melhor do que entregá-la ao banco. Eu sei que parece uma solução óbvia, mas continuam a chegar-me relatos de pessoas que simplesmente deixam de pagar as prestações sem tentar sequer negociar com o banco e sem tentar vender a casa e ainda ganhar algum dinheiro. Eu sei que não é normal, mas acontece, por falta de literacia financeira.
Há pessoas que simplesmente bloqueiam quando têm problemas financeiros e não conseguem nem pensar, nem agir. É uma triste realidade, que temos de tentar mudar aos poucos. Pondere transferir o crédito para outro banco e tente encontrar outras soluções. Não fique parado. Este é o ano em que deve arregaçar as mangas e agir para baixar o seu crédito à habitação.

O que posso fazer?

Há algumas medidas que pode tomar:

  • Renegociar o spread no seu banco se for superior a 1.2
  • Transferir o crédito à habitação para outro banco mais barato
  • Mudar para taxa fixa ou mista
  • Amortizar o máximo que puder o seu crédito à habitação
  • Usar o seu PPR para pagar a prestação ou para amortizar o crédito
  • Pedir ao seu banco a bonificação dos juros pelo Estado
  • Consolidar os seus créditos
  • Renegoceie o seguro de vida
  • Acione o PARI junto do seu banco
  • Peça ajuda à DECO ou outra instituição da rede RACE

 


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2 Comentários

  1. Pedro Ribeiro

    Podemos saber em algum sitio qual é o spread mais baixo praticado neste momento? E já agora podemos saber se os spreads vão baixar ainda mais? Essa informação pode ser útil para saber qual o melhor momento para negociar o spread com o banco, porque depois de negociado perdemos a janela de oportunidade para baixar ainda mais( claro que podemos sempre mudar de banco).

    Responder
    • Pedro Andersson

      Ola. Todas as semanam mudam. Tem de fazer o seu trabalho de casa indo ao maior número de bancos possível e contactando intermediários de credito. E avance com convicção.

      Responder

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