
O momento em que tudo desaparece
Imagine que vai ao multibanco ou consulta o saldo no telemóvel e percebe que o dinheiro da conta simplesmente desapareceu. Pouco depois, recorda-se daquela mensagem que recebeu por WhatsApp, de um SMS supostamente do banco ou até de um telefonema de alguém que parecia credível. Quando dá por isso, já é tarde demais: caiu numa burla. Tem aqui a reportagem em vídeo.
Burlas familiares: “Olá pai, olá mãe”
A fraude conhecida por “Olá pai, olá mãe” continua a fazer vítimas em Portugal. O esquema é simples: alguém envia uma mensagem a fingir ser um familiar em apuros, a pedir dinheiro urgente para resolver um problema.
A regra é simples — nunca envie dinheiro sem confirmar pessoalmente. Ligue primeiro para o número habitual da pessoa. Se for uma burla, vai perceber de imediato.
Phishing: o clique que pode custar tudo
Uma das formas mais comuns de fraude chama-se phishing.
Recebe um e-mail, SMS ou mensagem nas redes sociais de uma entidade que aparenta ser o seu banco, a Autoridade Tributária, a EDP ou até os CTT, a pedir que confirme dados, senhas ou códigos.
As mensagens são falsas, mas estão cada vez mais bem feitas e até aparecem junto das comunicações verdadeiras no telemóvel. Nunca clique em links nem introduza dados pessoais. Se tiver dúvidas, ligue diretamente para o banco através do número oficial.
Spoofing: o engano perfeito
Outro esquema em crescimento é o spoofing, quando os burlões conseguem fazer parecer que estão a ligar de um número verdadeiro — o mesmo que aparece na lista de contactos do banco ou de uma empresa.
É uma das formas mais perigosas de burla porque até pessoas com experiência e conhecimentos técnicos são enganadas.
O objetivo pode ser o roubo direto de dinheiro ou a recolha de dados para futuras fraudes.
Falsos investimentos e falsas ofertas de emprego
Há também as burlas de investimento — anúncios e mensagens que prometem lucros rápidos e garantidos, muitas vezes em criptomoedas, plataformas de trading ou ações de grandes empresas.
Começam com valores pequenos, como 250 euros, mas rapidamente convencem as vítimas a investir milhares.
O mesmo acontece com falsas ofertas de emprego, que pedem “adiantamentos” para formação ou equipamentos antes de o contrato ser formalizado. Se algo parecer demasiado bom para ser verdade, normalmente é. O habitual é querem os seus dados pessoais para fazerem contratos, ou compras em seu nome ou usá-lo como "testa-de-ferro" para ações criminosas.
Roubo de identidade: quando falam em nome dos outros
Há ainda o roubo de identidade, quando alguém se faz passar por funcionários de bancos, Finanças, Segurança Social, Polícia Judiciária ou até dos recursos humanos da própria empresa onde trabalha.
A pessoa acredita estar a falar com alguém legítimo e acaba por fornecer dados pessoais ou bancários.
As instituições oficiais nunca pedem códigos de acesso, palavras-passe ou transferências por telefone ou e-mail.
As campanhas de alerta e o papel das telecomunicações
A Associação Portuguesa de Bancos (APB) lançou recentemente a campanha “Arnaldo”, para sensibilizar os cidadãos para este problema.
O presidente da APB, Vítor Bento, resume a situação: “Os burlões já perceberam que é mais fácil convencer o cliente a abrir o cofre do que arrombá-lo”.
Apesar das campanhas, o número de fraudes continua a crescer. Segundo dados da Polícia Judiciária, em 2024 foram registadas mais de 22 mil participações por crimes de burla informática e fraude em comunicações, um aumento de quase 40% face a 2022.
As autoridades defendem também que as empresas de telecomunicações devem reforçar os mecanismos de bloqueio de números falsos e de filtragem de SMS fraudulentos, para reduzir a exposição dos consumidores.
O que fazer se for vítima
Se, apesar de todos os cuidados, cair numa burla:
- Contacte imediatamente o banco e peça o bloqueio das contas e cartões.
- Apresente queixa na Polícia Judiciária (ou através da PSP/GNR).
- Guarde todos os registos — mensagens, e-mails, números e comprovativos de transferência.
- Informe a provedoria do cliente bancário, se sentir que o banco não lhe dá o apoio devido.
A recuperação do dinheiro nem sempre é possível, mas quanto mais rápido agir, maiores são as probabilidades de travar os movimentos.
Em resumo
- Nenhum banco, Finanças ou instituição pública pede códigos por e-mail, SMS ou telefone.
- Nunca clique em links estranhos, mesmo que pareçam legítimos.
- Confirme sempre através dos canais oficiais.
- Desconfie de lucros fáceis e promessas rápidas.
- Se algo parecer suspeito, pare e pense — é melhor perder um minuto do que todas as suas poupanças.
5 regras de ouro para não cair em burlas
- Desconfie de tudo o que é urgente.
Os burlões jogam com o pânico e o tempo. Se alguém lhe disser “tem de agir já”, é sinal de alerta. - Nunca clique em links ou anexos não confirmados.
Mesmo que pareça vir do banco, das Finanças ou dos CTT, vá sempre ao site oficial digitando o endereço manualmente. - Confirme sempre por outro canal.
Recebeu uma chamada ou mensagem estranha? Ligue de volta para o número oficial da instituição. Nunca use o número que aparece na mensagem. - Nunca partilhe códigos ou palavras-passe.
Nem com familiares, amigos ou funcionários do banco. Os bancos nunca pedem códigos por telefone, e-mail ou SMS. - Tenha atenção a investimentos e promessas milagrosas.
Ganhos garantidos e rápidos não existem. Se o retorno parecer impossível, é porque provavelmente é uma burla.
A segurança financeira depende, em grande parte, da atenção e da desconfiança de cada um. As burlas estão a tornar-se mais credíveis, mas o princípio é sempre o mesmo: enganar o cidadão para que entregue as suas próprias chaves. É apenas o "conto do vigário" com uma roupagem digital.
Mais do que nunca, é essencial pensar antes de clicar, confirmar antes de agir e desconfiar antes de transferir. Não caia nas burlas. Seja mais esperto do que eles.
















