[Introdução – Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais e, como sabe, aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Faço de conta que vai sentado ou sentada aqui ao meu lado, no lugar do pendura, e juntos vamos encontrando maneiras de gerirmos melhor o nosso dinheiro, com mais inteligência, para termos mais dinheiro ao fim de cada mês ou ao fim de cada ano.
Este episódio vem na sequência de um episódio do Vamos a Contas, de quarta-feira, que foi o episódio mais ouvido de sempre num dia. Chegou quase às 80 mil audições só no dia em que foi publicado e, entretanto, continua a ser ouvido por muitos de vocês.
Também percebi que muitos dos que ouviram esse episódio foi, talvez, a primeira vez que ouviram um episódio do podcast, portanto, se calhar por lhes faltar um bocadinho o contexto, fizeram uma observação que vou tentar responder neste episódio. Deixem-me recordar que no episódio de quarta-feira, o título era “A Irina tem quatro mil euros para investir. Onde é que ela deve pôr esse dinheiro a render mais?” Portanto, se pesquisar por este título vai encontrar esse episódio.
Eu, na minha ingenuidade, ou pelo menos na minha intenção de transmitir mais uma vez uma mensagem de realismo em relação às nossas finanças pessoais, depois de falar de várias coisas, a minha principal conclusão, ou pelo menos era isso que queria transmitir era – isto no caso da Irina, mas podia ser outra pessoa –, que se só tem quatro mil euros e não tem fundo de emergência, não pode pensar em investir esse dinheiro.
Pronto, esta era a conclusão que queria que todos fixassem. Antes de alguém ter pelo menos cinco mil euros de fundo de emergência, para emergências tal como o nome indica, não pode investir em produtos sem capital garantido. Deve pôr esse dinheiro de lado.
E agora vou responder então àquilo que muitos de vocês disseram que não respondi, que é então onde investe o dinheiro. Mas reparem, eu não respondi a isso porque a resposta, dada a situação, era que não devia investir, visto não ter fundo de emergência.
Mas agora, chegando à segunda parte da resposta que então ficou por dar, para quem já tem fundo de emergência, afinal onde deve investir esse dinheiro? Com cinco mil euros, ou abaixo disso, tem de estar sempre colocado em produtos com capital garantido.
Tem de estar à ordem, o que é um desperdício porque está a perder dinheiro para a inflação, pode estar em contas remuneradas como, por exemplo, o Bankinter tem uma conta em que se domiciliar lá o ordenado e fizer determinadas compras com cartão de crédito, x vezes por mês ou por trimestre –agora não sei de cor as regras e também mudam ao longo do tempo, portanto, vai ter de investigar –, rende 5% ao ano no primeiro ano e 2% no segundo ano. Tem também uma conta online à ordem do Bankinter que rende 2% ao ano e é uma conta gratuita, não tem comissões.
Tem os certificados de aforro que, no momento em que estou a gravar, ainda rendem o máximo de 2,5%, mas assim que a média da Euribor a três meses descer abaixo 2,5%, os certificados de aforro também vão baixar esse rendimento. No entanto, depois do primeiro ano acrescenta 0,25% de prémio de permanência, portanto, diria que até a média da Euribor a três meses estar abaixo dos 2,5%, passado um ano, estará a render na mesma os tais dois e meio.
E assim que passam mais anos, esse prémio vai aumentando, portanto, acabará também por não ser um produto mau. E tem capital garantido pelo próprio Estado, só não pode mexer, esta é a desvantagem, nos primeiros três meses. Três meses e um dia já pode tirar o dinheiro em caso de emergência para utilizar naquilo que muito bem entender.
Além dos certificados de aforro, tem depósitos a prazo, a três e a seis meses, que ainda rendem 3%, mas tem de andar a saltitar sempre, de três em três meses ou de seis em seis, à procura de outro que seja melhor.
Depois, depósitos a um ano tem em bancos normais, tem de abrir lá conta e saber se não paga comissões de manutenção, que rendem 2,25%. Ainda tem a Trade Republic, que é uma corretora alemã, um banco alemão, em que o dinheiro que lá tiver e que não esteja investido, que esteja de certa forma à ordem, está a render o mesmo que os juros do BCE. Atualmente, 2,75%, é bom.
Tem também o My Savings, que está a render, se não me falha também a memória, 2,25%. Também não é mau, não sendo excelente. Portanto, como está a ver, tem aqui várias alternativas. Mas a mensagem que quero transmitir é que dinheiro à ordem é que não, nunca!
Dito isto, vamos então agora supor que resposta é que daria à Irina. Deixem-me fazer um aparte: não sei porquê, mas acho que o número “quatro mil euros” atingiu um nervo financeiro qualquer em milhares de vocês.
Portanto, estou a interpretar isto desta forma: uma grande parte do público do Contas-Poupança, que é muito genérico, tem quatro mil euros disponíveis e quer investi-los, mas tem medo de o fazer. Caso contrário, não precisavam de perguntar onde colocavam o dinheiro. Portanto, se calhar são muitas pessoas que têm este valor disponível e parado, por medo, por preguiça ou por ignorância.
Então vou dar-vos várias alternativas, de uma forma muito genérica, para depois vocês investigarem melhor, sendo que para cada uma das ferramentas que agora vou mencionar, tem episódios lá mais para trás a falar sobre eles em detalhe.
Muito bem, vamos lá então falar-lhe das alternativas que conheço, que experimento e que testo. Vou começar daquilo que é a minha avaliação do mais simples para o mais complexo ou do mais simples “menos perigoso” e até ao mais “volátil”, em que só deve lá pôr dinheiro se estiver na disposição de perder o dinheiro que puser nessa ferramenta.
Vamos começar pelos fundos PPR, portanto, estamos a falar de produtos sem capital garantido em que vai ver o seu dinheiro a subir e a descer e isso não tem nada de mal. Ou seja, descer faz parte do movimento dos mercados. Porque se nunca descesse, também nunca subia. Se perceber isto e isto não lhe meter medo, continue a ouvir este episódio porque há dezenas de milhares de vocês que já mandaram mensagens a dizer que finalmente conseguiram coragem para começar a investir.
Eu não ganho nada com vocês seguirem estas dicas, mas partilho-as porque sei que eu conseguir ganhar dinheiro com estas dicas, e também conhecimento, e quero partilhar isso com vocês. Não vos quero vender nada, não vos quero convencer de nada, quero partilhar informação, quero partilhar literacia financeira.
Mas então, fundos de investimento que são PPR, por isso é que se chamam fundos PPR, há péssimos e há muito bons. Vai ter de olhar e pesquisar pela lista dos dez mais rentáveis em Portugal. Há listas disso. Eu próprio tenho uma lista no site do Contas-poupança dos PPRs mais rentáveis e tem de ver a lista dos mais rentáveis no último ano, nos últimos três anos, nos últimos cinco anos e nos últimos dez anos.
E fazendo esta análise, que lhe vai demorar dez, 15 minutos a fazer, pode mudar a sua vida financeira e vai começar a preparar a sua reforma, porque vai perceber que, com altos e baixos, os rendimentos que pode ter com um fundo PPR podem ser gigantescos em comparação com os depósitos a prazo e os certificados de aforro, e nem falo no dinheiro acumulado na conta à ordem.
Estamos a falar de PPR que rendem, em média, cinco, seis, sete, oito, nove, dez por cento ao ano, com benefícios fiscais à entrada e benefícios fiscais à saída. Isto é extraordinário. Portanto, é um assunto para investigar. Vai ao site do Contas-poupança e pesquisa “balanço PPR” e tem lá. Faço isto há vários anos, todos os meses, quanto é que estou a ganhar ou a perder com esses meus PPR mais rentáveis.
O meu objetivo pessoal é ter os dez fundos PPR mais rentáveis em Portugal e já tenho quase todos. Tenho, neste momento em que vos falo, 13 fundos PPR. E ao olhar para os gráficos conseguirá perceber perfeitamente o comportamento deles, quais são as percentagens de ações que têm e de obrigações, ou de outros produtos menos arriscados.
Isso vai ajudá-lo a escolher aquilo que é melhor para si. Não é o que é melhor para mim, Pedro Andersson, é o que é melhor para si, para a sua família e para os seus filhos. Cada um tem um perfil diferente.
Depois tem os ETF. O ETF mais conhecido do planeta é o S&P 500. Se o subscrever, e se a história humana continuar como até agora nos últimos 100 anos, não se sentirá enganado nem defraudado. Tem crescido cerca de 10% ao ano, em média. Não é todos os anos. Há anos em que desce 10%, há anos em que cresce 20%. Mas em média tem crescido cerca de 10% ao ano. É brutal.
Quer dizer que pode multiplicar várias vezes as suas poupanças nas próximas décadas, em vez de só somar pecinhas de lego umas por cima das outras, que é aquilo que os portugueses fazem ao acumular as suas poupanças em depósitos a prazo e demora 70 anos para duplicar esse investimento. Ou seja, é ridículo.
Como é que se subscreve um ETF S&P 500, ou outro qualquer, porque há milhares. Então, abre conta numa corretora ou num banco de investimento, como o Activo Bank, o Bango Big ou o Banco Best, são os mais conhecidos, mas há mais, e subscreve um ETF S&P 500, mas aí as comissões ainda são relativamente altas, apesar de muito mais baixas do que nos bancos clássicos, os grandalhões, não é?
Portanto, vai ter de abrir, sugiro eu, uma conta numa corretora low cost, numa que cobra comissões baixas, como a Trade Republic, DeGiro, XTB, Freedom 24, Trading 212, portanto, por aqui também já tem muito por onde investigar. Transfere para lá dinheiro, depois de abrir a conta, claro, e depois subscreve o valor que entender, mensalmente ou de uma vez, desse ETF S&P 500.
Isto para começar, estou sempre a falar para começar com os tais quatro mil euros. Depois, no final, vou dar uma dica que é fundamental.
Depois também tem fundos de investimento propriamente ditos, que são geridos por gestores, e as comissões aí são mais altas. Aí a maior parte dos bancos têm. Eu tenho fundos de investimento também, por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos.
Portanto, fala com o seu gestor de conta no banco onde tiver conta, depois, se quiser brincar um bocadinho – não aconselho até ter muito mais experiência –, pode comprar ações individualmente de uma empresa que conheça ou que acha que conhece, mas é sempre um risco, porque se essa empresa tiver um problema e for à falência, perde de facto todo o dinheiro que lá pôs.
No caso dos ETF e dos fundos de investimento, aquilo são cestas de ações, às vezes com dezenas, às vezes com centenas de ações. O S&P 500 tem 500 empresas lá dentro, portanto, para perder dinheiro, tinham de ir todas as 500 maiores empresas dos Estados Unidos à falência. Não é provável que isso aconteça.
Além disso, também pode investir em plataformas P2P, de crowdfunding. Basta ir à internet e abrir conta. Há duas que são portuguesas, a Raize e a GoParity, e transfere dinheiro para lá e depois eles emprestam a pequenos empresários, pequenas e médias empresas, ou microempresas, e depois recebe juros mensalmente. Isto porque essas pessoas, em vez de pedirem dinheiro emprestado ao banco, pedem dinheiro emprestado a esta plataforma e todos os meses quem empresta pode receber um euro, dois euros, três euros, cinco euros, 20 euros, mais juros, como se fosse um banco.
Também é uma coisa completamente disruptiva e acessível a qualquer pessoa atualmente através do telemóvel ou do computador. Que juros é que pode conseguir? De 4% a 6% ao ano, sem capital garantido. Quer isto dizer que se a empresa for à falência, perde o dinheiro que emprestou a essa empresa. Portanto, mais uma vez, o segredo é diversificar para se houver um problema com uma, as outras 20 acabam por compensar.
Deixem-me só voltar um bocadinho atrás para falar dos fundos de investimento, para vos dizer que tenho fundos de investimento que, neste momento, estão a crescer 40%, 50%, 60%, 70%, mas que já subscrevi ou já comprei há talvez três anos, três anos e meio, mas com estes crescimentos brutais.
Mais uma vez, não vos posso garantir que isto aconteça no futuro. Arrisquei e estou a ganhar. Podia estar a dizer-vos agora que estava a perder, mas esperar para recuperar. Nunca se resgata um investimento quando ele está em queda. Pelo contrário, vai pôr é mais. Pronto, outro conceito básico.
Agora, deixo o mais arriscado e perigoso para o final, que são as criptomoedas. Eu tenho criptomoedas e decidi investir para perceber como funciona. Posso dizer-vos que já ganhei muito dinheiro com criptomoedas, mas também já perdi muito dinheiro. Só experimentei, claro, com dinheiro que podia perder.
Neste momento, estou a ganhar, mas muito pouco. Já estive a ganhar bastante. Em um ano, cerca de 60%. Entretanto, aquilo teve uma queda brutal. Neste momento só estou a ganhar 7% ou 8%, mas isto para perceberem o grau de volatilidade que isto tem.
E se as corretoras que uso desaparecerem não tenho ninguém a quem reclamar. Se perder a password das minhas criptomoedas também não tenho ninguém a quem reclamar.
Vocês ouviram aquela história do indivíduo que quer comprar uma lixeira porque deitou por engano fora o disco rígido onde tinha as criptomoedas e tinha lá não sei quantas Bitcoins, vários milhões de dólares em Bitcoins, e agora quer comprar a lixeira para ver se encontra o disco. Com chuva, frio e calor, duvido que encontre em boas condições, mas se calhar vale a pena arriscar enquanto as criptomoedas valem bastante dinheiro. Está atualmente a rondar os 90 ou 100 mil euros.
Eu espero vender quando chegar aos 150 mil, há quem fale em 200 mil, mas assim que estiver a ganhar 60% ou 70%, muito provavelmente vou vender. E porquê? Porque foi o objetivo que estabeleci para mim, mas cada um faz os seus objetivos. Isto pode até ser um pé-de-meia, mas pode correr muito bem ou então muito mal. Ninguém vos pode garantir nada.
Espero desta vez ter respondido à pergunta, espero que também tenha ficado clara a diferença entre capital garantido e capital não garantido. E, mais uma vez, só vai investir esse dinheiro depois de ter pelo menos cinco mil euros de fundo de emergência e em produtos com capital garantido. Antes disso, nem pensar. Isto é o meu conselho, mas cada pessoa pensa pela sua própria cabeça.
Antes de terminar, quero dar uma dica final que é – e isto é a minha opinião, vale o que vale –, deve diversificar investimentos. Isto é, se tem quatro mil euros para investir, não ponha o dinheiro todo no mesmo sítio. Aproveite a oportunidade e utilize várias ferramentas.
Pode pôr mil euros num fundo PPR, mais mil euros em ETF S&P 500, mais um bocadinho em plataformas de crowdfunding e até um bocadinho em criptomoedas se quiser arriscar, mas a ideia é diversificar.
Como é que se traduz isto na prática? Colocando o dinheiro que tem em várias ferramentas para primeiro perceber como é que cada uma delas funciona e com quais se sente mais confortável. Depois de perceber quais são as rentabilidades e como funcionam, pode ir trocando e balanceando conforme for melhor para si. Se fizer isto, há uma forte probabilidade de correr bem.
Pode correr mal? Pode, por isso é que nunca deve investir dinheiro que lhe faça falta, nunca deve resgatar em queda e deve diversificar os seus investimentos. E depois vai reforçando aqueles com que se sente mais confortável ou que acha que serão mais rentáveis a longo prazo. Tudo isto é a muito longo prazo, não é para ganhar dinheiro em seis meses. Essa é outra ideia fundamental das finanças pessoais.
Meus amigos, muito obrigado por me terem ouvido em mais uma boleia financeira. Não se esqueçam de subscrever a newsletter do Contas-Poupança para receberem no e-mail, todas as terças-feiras, várias dicas importantes.
Boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
Também pode ouvir o episódio nas plataformas:
Especialmente para quem ficou com esta dúvida sobre onde investir os tais 4 mil euros, decidi responder neste episódio onde é que eu investiria este valor, se os tivesse e não precisasse dele para Fundo de emergência.
São dicas muito importantes para começar a ganhar dinheiro com o seu dinheiro.
Boas poupanças!
**********************
ENVIE A SUA PERGUNTA EM ÁUDIO PELO WHATSAPP 927753737
Ao deixar a sua pergunta está a autorizar que ela seja utilizada publicamente. O objetivo é que a resposta seja útil não apenas para si, mas para todos os outros que nos escutam.
O que é um podcast?
Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.