O meu primeiro Fundo de Investimento
Estou a iniciar uma nova aventura. Como já vos disse sou profundamente conservador quando falamos de investimentos. Afinal de contas, custa tanto poupar algum dinheiro… Vou agora arriscar perdê-lo? Voluntariamente? Devo arriscar em Fundos de Investimento? O que são? E como funcionam?
Nestes 8 anos de Contas-poupança sempre dei dicas sobre como poupar ou gerir melhor o nosso dinheiro mas sempre, sempre, no pressuposto de manter o dinheiro em produtos de capital garantido.
Mas as pessoas insistem em perguntar onde é que o dinheiro delas rende mais e acabo sempre por sugerir os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento. Rendem uma média de 1,39% ao fim de 7 anos, com mais um bónus conforme o crescimento do PIB de Portugal.
Os depósitos a prazo estão a render perto de zero. Fui ver quanto está a render o meu depósito a prazo e fico envergonhado por vos dizer que está a render neste momento 0,40 %, brutos. Ou seja, 5 mil euros rendem 20 euros certos em juros e após o imposto de 28% limpos, metem na minha conta 14,40 €. Mais do que isso levam alguns bancos só na anuidade do Multibanco.
E opções?
Resolvi, portanto, investigar as alternativas que possam render mais ou pelo menos um pouco mais. Procurei produtos de investimento que rendam 4 ou 5% ao ano.
Dos especialistas que entrevistei, todos me sugeriram começar pelos Fundos de Investimento. Pode rever AQUI a reportagem do Contas-poupança. Há mais tipos de Fundos. Imobiliários, por exemplo. Lá irei mais à frente.
No artigo que publiquei nesse dia, prometi que iria testar estes produtos. Digo recorrentemente que o sucesso das reportagens do Contas-poupança é testarmos o que sugerimos ou mostramos. Se resulta, fazemos reportagem, se não resulta não fazemos. Neste caso só deu para testar depois. Mas a convicção geral de quem investe em Fundos de Investimento é que a médio/longo prazo de facto são um produto rentável.
A ver vamos. Aviso que estou a arriscar o meu próprio dinheiro (não da SIC) e vou partilhar convosco regularmente (a ideia é mensalmente, mas sempre que registar “episódios” de perda ou de ganho direi) a minha aventura.
Escrevi propositadamente “aventura” porque é isso mesmo. Quem investe em Fundos de Investimento tem de perceber antes de tudo que é dinheiro que não pode precisar para o seu dia-a-dia. É dinheiro que tem de estar disposto a perder. E é para ficar parado (a render ou não) durante 5 anos ou mais. Em muitos casos é até à idade da reforma. Só assim vale a pena.
Primeiro o Fundo de Emergência
E só deve fazer isto DEPOIS de já ter o seu Fundo de Emergência. Isto é, 6 a 12 meses do seu salário para enfrentar qualquer situação imprevista que surja: Doença, acidente ou desemprego. Ter este fundo no banco – mesmo que a render zero ou quase – deve ser a sua prioridade. Nunca invista esse dinheiro! É mesmo para ficar quieto e disponível a qualquer momento.
Outra nota muito importante. Vou relatar com detalhe a minha experiência mas NÃO É DE TODO um conselho para que façam o que eu fizer. No meu caso é dinheiro que estou na disposição de arriscar (porque é um valor simbólico) e eventualmente até perder. Mas quero aprender e vou errar, bater com a cabeça na parede, vou ter dúvidas, vou perguntar e vou corrigir (se der) e se me fartar ou perceber que isto dos Fundos (ações e obrigações) não é para mim desistirei sem nenhum problema.
É apenas o meu processo e a minha experiência. Não é um conselho nem um modelo. É um retrato de quem não percebe nada do mercado bolsista que vai aprendendo (espero) e que vai partilhar convosco o que acontecer. De bom e de mau.
Um investimento simbólico para testar
Como disse o meu investimento real terá um valor simbólico para começar a perceber como funciona. Mas para as contas fazerem sentido e terem alguma leitura vou assumir sempre o valor de 1.000 euros, que é o valor que os documentos de cada fundo também assumem para explicar a evolução do fundo ao longo dos anos.
O começo
Nunca na minha vida, e tenho 44 anos, investi na bolsa e em ações. Tenho muito medo da arbitrariedade e da instabilidade do mundo bolsista. Não gosto de me ir deitar e ter medo de não ter o dinheiro lá no dia seguinte. Como é que me convenceram?
Em primeiro lugar, eu não estou a comprar ações diretamente. Nem saberia escolhê-las. E são caras. E tenho de pagar comissões só para as comprar e depois para as manter e depois para as vender. Tenho horror a comissões.
Subscrever um Fundo de Investimento (pelo que percebi), é entregar o dinheiro que entender a um gestor (uma empresa especializada) que pega no meu dinheiro e no de centenas de outras pessoas e investe esse dinheiro em ações, obrigações e outros produtos financeiros para com esse dinheiro tentar ganhar o mais possível. Mas com regras bem definidas. Eu é que decido – entre milhares de Fundos – qual é o risco que estou disposto a assumir. Vai de 1 a 7. Claro que quanto mais arriscar mais posso ganhar, mas também posso perder.
Essas empresas gestoras de Fundos, cobram uma comissão pelo seu trabalho que está incluído no lucro que o fundo tiver. Por exemplo, se eles cobrarem uma comissão de 1,5% isso quer dizer que eu só terei lucro se o conjunto de ações e obrigações que eles escolherem subir pelo menos 1,6%. Se o fundo estiver a perder 5%, o valor da comissão deles já está incluído nesse valor. Ou seja, o fundo na realidade só perdeu 3,5%. Portanto, eles ganham sempre. Mas, como é óbvio, é do interesse deles que o fundo ganhe o mais possível porque como é uma percentagem querem ganhar também o mais possível. E depois há o prestígio da entidade gestora. Se os Fundos dela só dão prejuízo os clientes passam todos para a concorrência. E fecham a loja.
Desde que percebamos isto (creio que percebi) é mais fácil aceitar o risco.
Como foi o meu processo de escolha?
Praticamente todos os bancos oferecem aos clientes a possibilidade de subscreverem Fundos de Investimento. O seu banco de sempre terá Fundos que pode adquirir. É por Unidades de Participação. Cada Fundo tem as suas regras e o seu valor. Uma UP (Unidade de Participação) pode ser de 5 euros ou de 250 euros ou de 1.000 ou até 10.000 euros). Também pode, em alguns fundos, comprar 200 euros e as UP assumem esse valor. Fica por exemplo com 43,5 unidades de participação. Noutros casos tem de ser o valor unitário.
Aproveito já para deixar um alerta. Logo no primeiro momento ia fazendo uma asneira das grandes. O processo pode ser no balcão do banco ou totalmente online. No homebanking do seu banco pode subscrever Fundos a qualquer hora do dia ou da noite. Num dos bancos onde subscrevi um Fundo escrevi o valor que pretendia subscrever no campo do valor das unidades do fundo que queria. Aquilo dava erro e eu não percebia… Até que com a ajuda do call center percebi que estava a querer comprar 50 euros de um fundo em que cada UP custava um balúrdio. Dava erro porque a minha conta não tinha dinheiro suficiente para fazer aquela subscrição. Correspondia a milhares de euros. Ainda bem que deu erro porque é uma trabalheira voltar atrás e anular uma ordem de compra. Fica o aviso.
Primeiro. Onde?
Como já disse, todos os bancos têm Fundos. Mas optei por subscrever os meus fundos em 2 bancos exclusivamente online e com comissões Zero. Porquê? Porque apesar de ter contas em 5 bancos, não pago comissões de manutenção de conta em nenhum. No dia em que me cobrarem comissões para ter lá o dinheiro fecho essas contas. Simples. Por isso não quero ter lá Fundos que me obrigariam a continuar lá. Ainda me davam prejuízo.
Assim procurei logo de início bancos que têm comissões Zero. Escolhi dois porque percebi pela conversa que tive com os vários Call Centers que há estratégias diferentes.
Prepare-se para o inquérito
Em primeiro lugar, vai ter de responder a um longo inquérito sobre os seus conhecimentos financeiros. E sobre o seu perfil de risco. Para que possam orientá-lo melhor. As diretivas do Banco de Portugal atualmente são implacáveis, e ainda bem. Num dos produtos que escolhi, tive de preencher um formulário que dizia que aquele produto não era aconselhável para mim e tive de clicar na cruzinha que dizia que eu assumia a responsabilidade de subscrever aquele fundo. Fi-lo em consciência.
É cada vez mais difícil alguém ser enganado e subscrever estes tipo de produtos pensando que são contas a prazo. Tem quilos de papel para ler sobre cada fundo.
Pedi para conversar, em ambos os bancos, com alguém que me pudesse aconselhar sobre por onde devia começar. Nos dois bancos que escolhi foram extremamente amáveis e não me trataram como ignorante. Explicaram-me tudo tim tim por tim tim. Não tiveram pressas e fiz todas as perguntas que quis. Estive quase uma hora ao telefone com cada um deles.
Fui o mais claro que pude: “Não percebo nada disto. Preciso de ajuda para saber por que tipo de Fundo devo começar para depois não me assustar e ficar decepcionado…”
Aconselharam-me Fundos Mistos (com ações e com Obrigações). As Obrigações são produtos dos vários Estados e grandes empresas que rendem menos mas são mais estáveis e seguras. Depois o que muda é a quantidade de ações que se juntam às Obrigações e o tipo de ações.
Num banco, aconselharam-me subscrever apenas um Fundo. Explicaram-me que ele próprio já tinha tanta variedade de produtos dentro dele que já era representativo do mercado e que ao longo dos últimos 10 anos tem tido sempre um rendimento estável e constante. Não devo esperar ficar rico, mas quase de certeza que renderá por ano mais do que os Certificados do Tesouro, se esperar 5 anos ou mais.
Fazer uma carteira de Fundos
No outro banco, a estratégia que me aconselharam foi diferente. Para o valor que tinha disponível, sugeriram comprar 4 fundos: 25% de cada um. 25% de um fundo que arrisca mais e que, portanto, pode render mais que os outros. E depois, 25% num fundo mais constante e com pouca volatibilidade (sem grandes altos e baixos), outro mais centrado em ações na Europa e outro que é mais global e que até arisca um bocadinho em acções nos Estados Unidos e na Ásia. Fico com uma chamada “Carteira de investimento”. Mandaram-me por PDF uma lista dos Fundos que estão a recomendar este mês (tipo menu de restaurante) e foi dentre esses que escolhi os 4 que subscrevi.
Percebi que para cada Fundo há uma classificação de estrelas de uma agência que se chama “Morning Star” que ajuda a perceber se os tipos são bons ou não e, muito importante, perceber que rendibilidade cada fundo teve nos últimos 5 ou 10 anos. E quando teve resultados negativos, é importante comparar com fundos semelhantes, porque se os resultados foram menos negativos que os concorrentes é aí que se pode ver se eles são mesmo bons ou não.
Por exemplo, pode parecer estranho, mas subscrevi um fundo que desde o princípio do ano está a dar prejuízo… A expectativa é que recupere rapidamente, porque nos anos anteriores resultou bem.
1 num, 4 noutro
Assim, em resumo, escolhi 1 Fundo num banco e uma carteira de 4 Fundos noutro banco. Irei, ao longo do tempo, comparar o desempenho das duas situações.
Logo no primeiro dia, quer um quer outro renderam mais do que o meu depósito a prazo num ano. Isto é o mais extraordinário para mim. Como o valor do Fundo é diário, se as bolsas crasharem posso perder 10, 15 ou 20% mas basta esperar que recuperem para recuperar o meu dinheiro (não posso vender em perda, quer dizer, não devo). Mas também daqui a 1 mês com uma loucura qualquer na Bolsa pode subir 15% e se quiser vender nesse dia terei garantido nesse dia esse lucro que jamais teria com o depósito a prazo. É esse o “fascínio” da coisa.
Devo estar atento ao evoluir da situação. Se atingir o meu objetivo com esta poupança daqui a 6 meses ou 1 ano, não tenho de estar à espera dos 5 ou 10 anos. Por outro lado, para atingir o valor que pretendo (se houver crises nas bolsas pelo meio) posso ter de esperar 7, 10 ou 12 anos. Nunca se sabe. Rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras.
DIA 1 de negociação
Valor investido (proporcional ao valor real): 1.000 €
Fundo de Investimento 1
(misto): + 0,83%
Valor ao fim do dia: 1.011,84 €
Fundo de Investimento 2
Carteira: 1.000 €
Fundo 1 (misto): + 0,52%
Fundo 2 (misto global): + 0,56%
Fundo 3 (misto): + 0,36%
Fundo 4 (misto agressivo): + 0,45%
Valor ao fim do dia: 1.000,79 €
Vou dando notícias. Hoje foi o primeiro dia da minha poupança “fora de pé”…
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