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PodTEXT | Posso ganhar mais dinheiro sem ter trabalho com as Finanças e Segurança Social?

O Mário já não consegue poupar mais e quer começar a ganhar mais dinheiro todos os meses. Está a pensar em iniciar um pequeno negócio ou fazer alguns trabalhos extra, mas está preocupado com o trabalho e despesas que vai ter junto das Finanças, Segurança Social e com contabilistas.

PodTEXT | Posso ganhar mais dinheiro sem ter trabalho com as Finanças e Segurança Social?

[Introdução – Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Anderson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante. Vamos à dúvida desta semana.

[Mário, ouvinte do podcast]

Olá, Pedro. O meu nome é Mário e gostaria de lhe colocar uma questão relativamente à forma de nos aumentarmos. Em vários episódios fala sobre nos aumentarmos a nós próprios, seja reduzindo despesas ou aumentando as nossas fontes de rendimento.

Uma vez que já tenho as minhas despesas no mínimo e que a minha única opção neste momento é aumentar as minhas fontes de rendimento, a minha dúvida é: se tiver um pequeno negócio, com pequenos trabalhos ou venda de produtos por exemplo, tenho obrigatoriamente de declarar isso e, como tal, depois no preenchimento do IRS terei de fazer uma data de pagamentos? Isto parece-me ser uma complicação e provavelmente envolveria ter de pagar um contabilista. P

ortanto, por um lado aumentaria as fontes de rendimento, por outro iria ter outras despesas associadas. E até atualmente já tenho muitas despesas e costumo receber um valor considerável do IRS quando chega a altura, portanto também me iria certamente reduzir este valor. Será que existe forma de ter uma atividade paralela que me traga ganhos financeiros e que não tenha grande constrangimento quando for a altura de fazer o IRS?

[Pedro Andersson]

Olá, Mário. Muito obrigado pela excelente pergunta, até porque me vai permitir falar sobre um assunto sobre o qual já não falo há bastante tempo e que pode fazer uma enorme diferença nas nossas finanças pessoais. E tem a ver com o facto de haver um momento em que não dá para poupar mais. Há um limite financeiro para a poupança, a não ser que deixemos de comer e isso é impensável.

Revejo-me também na sua situação, ou seja, só gasto dinheiro naquilo que quero. Portanto, quando chegamos a esse limite do campeonato, só podemos passar para a divisão seguinte. A ideia é fazer mais dinheiro e não fazer mais cortes, mas é aí que entra o tal medo – que já referi várias vezes –, que os portugueses têm de ganhar dinheiro. É algo cultural. Sempre nos ensinaram que devemos ter o nosso trabalhinho e ganhar o nosso dinheirinho, mas não sonhar mais alto que isso. Ter dois empregos é só em caso de necessidade, mas ter um segundo emprego para sustentar luxos ou ter dinheiro para investir é algo visto quase como um pecado capital.

E por isso há muitas pessoas que, perante essa situação, nem sequer pensam no assunto. E quando pensam, arranjam desculpas para justificar o facto de não o fazerem. E quais são algumas dessas desculpas? E atenção, não estou a encorajar ninguém a arranjar mais empregos e a ficar sem tempo para a vida além do trabalho, apenas falo desta situação para as pessoas que se queixam que já não podem cortar mais e que, mesmo assim, querem aumentar os seus rendimentos. Uma das soluções que já apontei várias vezes é mudar de emprego. Isto é, com as mesmas horas de trabalho semanal, arranjar um trabalho com um salário maior.

Mas agora falemos especificamente desta situação: como ganhar mais dinheiro sem ter trabalhos burocráticos com o Estado. A primeira coisa que quero dizer ao Mário e a todos vocês é que, jamais em tempo algum, me ouvirão dizer para fugirem aos impostos. Isso é impensável. Portanto, é impensável de qualquer maneira e ainda por cima, devido às minhas raízes nórdicas e aos meus valores, não faz parte da minha maneira de ser, ainda antes de falar sequer da questão da cidadania. Só para perceberem, o meu pai era sueco, nasceu na Finlândia, e nestes países fugir aos impostos é algo mesmo impensável.

Atenção, Mário, isto é uma conversa completamente paralela, não estou a dizer que a sua pergunta vai nesse sentido. Mas sei, e todos sabemos, que há pessoas que ganham dinheiro, quer na sua profissão, quer extra profissão, fazendo várias coisas e não passando recibo. Portanto, não passando recibos verdes evitam todos os problemas de pagar contabilistas e de pagar impostos, etc. É neste aspeto que estou a falar desta situação.

Na cultura nórdica, se falasse em fugir aos impostos, ficaria toda a gente de olhos esbugalhados e a pensar como é possível alguém não querer pagar impostos, se é através deles que temos estradas, polícia, bombeiros, todos os serviços que estão ao nosso dispor. Não estou a entrar aqui na discussão se os impostos em Portugal, ou noutro país qualquer, são bem gastos ou não. Não é por aí que vou nesta conversa.

Mas o normal é esta questão nem se pôr, ou seja, independentemente de dar trabalho ou não, se tivemos rendimentos temos de pagar o imposto respetivo. E sabendo que os impostos são sempre uma percentagem do nosso rendimento e que em nenhuma circunstância vamos pagar mais do que aquilo que ganhámos, porque o nosso lucro pode ser pouco, mas nunca vamos pagar mais do que ganhamos. Ou seja, teremos sempre uma mais-valia em pagar impostos.

Este é o primeiro ponto: haja trabalho ou não haja trabalho, é absolutamente incontornável pagar impostos. Depois, se dá mais ou menos trabalho, já vamos falar sobre isso. Portanto, força nisso, encontre algo que possa dar dinheiro e depois logo se vê. E porquê, sendo que em princípio não terá prejuízo, exceto em situações específicas como pessoas que recebem apoios do Estado – como abonos de família, por exemplo –, e que se apresentam um IRS em que subiu nem que seja às vezes um euro, de repente podem perder uma prestação social. Aí estamos a falar de um prejuízo.

No caso do Mário, entendo que não será esta a situação e que tem os seus rendimentos organizados e que seria um acréscimo de rendimentos. O que o trava é o receio do trabalho que isso vai dar. Primeiro ponto: ao iniciar uma atividade, obviamente terá de abrir essa atividade no Portal das Finanças e passa a ter rendimentos da categoria B. Atenção, não sou contabilista, há a possibilidade de poder cometer algumas imprecisões.

Vou explicar-vos como é que lido com esta situação, porque eu também passo recibos verdes. Ou seja, tenho o meu trabalho por conta de outrem, sou jornalista da SIC, mas passo recibos verdes, nomeadamente porque escrevo livros, faço formação e palestras e tenho de passar recibos nestas situações. Portanto, abri essa atividade e passo um recibo cada vez que tenho um rendimento. A primeira coisa que descomplica a situação, e em relação a pagar Segurança Social, uma vez que já pago Segurança Social no meu trabalho – descontam do meu salário bruto –, até ao limite de mais ou menos 1500 euros por mês em recibos verdes, ou seja, além do meu salário, não tenho de pagar Segurança Social por isso.

É ótimo se algum de vocês, além do trabalho do dia-a-dia, ainda consiga receber mais do que 1500 euros em recibos verdes todos os meses, força nisso, será bom sinal pagar Segurança Social sobre esse valor. Mas até esse valor, em média por mês, nem sequer é só num mês, não tem de pagar Segurança Social, está isento. Depois, até 13 500 euros por ano, passando recibos verdes, está isento de pagar IVA. Portanto, quando passa o recibo, até esse valor não tem de pagar IVA.

Obviamente tem de pagar IRS sobre o valor que recebeu, mas aí tem duas opções. A opção que defendo sempre, depois de eu próprio ter apanhado um grande susto com um dos meus IRS iniciais, é que faça retenção na fonte. Porque se não retiver na fonte quando passa o recibo verde, isto é, se receber na sua conta bancária o valor total do recibo que passou, quando depois entregar IRS no ano seguinte e acrescentar ao seu salário normal os rendimentos de categoria B, os seus salários totais do ano sobem e vai ter de pagar pela tabela correspondente a percentagem desse valor. Isto significa que, se for muito dinheiro, em vez de receber reembolso do IRS, vai ter de pagar porque já recebeu esse dinheiro na conta na totalidade.

Portanto, o que faço sempre que passo um recibo é reter logo na fonte 25% ou o que for e quando entrego o IRS, como já paguei, não vou ter de pagar nessa altura ou terei de pagar muito menos. No princípio, eu próprio não precisava de pagar a um contabilista para fazer isto porque era só colocar a soma dos recibos verdes, que o Portal das Finanças dá, é só ver o valor e fazer as contas. É isto.

Contudo, como há muitos anos a minha mulher passava recibos verdes, aliás, trabalhava só a recibos verdes, nessa altura foi necessário contratar um contabilista e entregávamos os dois em conjunto. Cada contabilista cobrará o valor que for, terá de ver por si, mas se tiver dois ou três mil euros de rendimento num ano, compensa pagar 30 ou 40 euros a um contabilista se não conseguir fazer isso sozinho. Mas eu acho que consegue.  

Portanto, não é por aí que deve ter medo de ter mais rendimentos. Qual é o trabalho que dá? Muito sinceramente acho que o trabalho que der compensa perfeitamente os maiores rendimentos que tem. E assim pode começar a investir, pode começar a ter melhor qualidade de vida e, por isso, que nunca seja essa parte burocrática que impeça o seu crescimento financeiro.

Se porventura, ao final do primeiro ano, chegar à conclusão que não valeu a pena, encare isso como um processo de aprendizagem para perceber o que tem de fazer de diferente no ano seguinte para, das duas uma, ou ter mais rendimentos que compensem as despesas que teve, ou como pode minimizar esse trabalho para ter menos despesas e ter mais lucro.

Vou incluir um exemplo que achei fantástico. Às vezes pensamos que ganhar dinheiro é muito difícil, que dá muito trabalho e que não temos tempo ou recursos, mas este é um caso real de um conhecido meu que tem o seu trabalho das 9h às 17h, um emprego absolutamente normal, mas decidiu pegar nas poupanças que tinha e decidiu comprar um insuflável. Este é o tipo de criatividade que pode mudar as nossas vidas.

Os pais têm crianças que fazem festas de aniversário e nessas festas por vezes há insufláveis. O que esta pessoa fez foi comprar um castelo insuflável, uma coisa grande e cujo custo não faço ideia, e aluga o castelo insuflável. Chega ao sítio, enche-se o insuflável, as crianças divertem-se, depois esvazia-se, enrola-se e pronto. Falei com ele esta semana e o que ele me disse foi que comprou o insuflável no verão de 2024 e neste momento, passados seis meses, já recuperou todo o dinheiro e já está a ter lucro.

Qual foi o investimento que ele teve de fazer? Comprar o insuflável e agora tem umas páginas nas redes sociais com os contactos e as pessoas ligam para alugar. É capaz de haver algum custo com seguros, eventualmente, não tenho a certeza. Mas é uma segunda fonte de rendimento sem trabalho psicológico, sem trabalho físico que seja duríssimo, é estar lá antes da festa começar e depois no fim, mas também é um trabalho mais ou menos sazonal.

Reparem como é fácil, quando temos criatividade e uma poupança que nos permita investir em formação ou equipamentos, ganharmos dinheiro. Dá trabalho? Dá. É preciso lidar com a parte burocrática dos impostos em algumas circunstâncias? Sim. Mas não vejo outra forma. A outra alternativa é ficar quietinho no sofá, com uma mantinha pelos joelhos, a ver televisão e olhar para o seu saldo bancário e sentir que não passa do mesmo.

Temos o poder, e em alguns casos o dever, de melhorar a nossa vida financeira de acordo com os nossos objetivos. Obrigado, Mário por ter levantado esta questão. Só para recuperar os pontos principais: não fugir aos impostos, pagá-los não é tão complicado quanto possa parecer e só se paga impostos e Segurança Social a partir de determinados valores que já são bastante relevantes, isto para quem trabalha por conta de outrem.

Além disso, há formas criativas e simples de ganhar dinheiro. Às vezes basta ter acesso à internet e às redes sociais para começar a vender coisas, por exemplo. Caso sejam coisas em segunda mão, nem se coloca a questão dos impostos, a não ser que falemos de valores em que já se pode considerar que aquela pessoa funciona quase como uma empresa. Portanto, se tem uma ideia, avance. Depois vai descobrir como lidar com ela, mas que não seja o medo a travá-lo.

Obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira. Não se esqueça de enviar as suas perguntas em áudio para o número de WhatsApp do Contas-poupança, que é o 92 775 37 37, de subscrever a newsletter e também de nos seguir nas redes sociais.

Muito obrigado e boas poupanças!

Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro

Neste episódio, explico porque não deve ter medo de ganhar mais dinheiro por causa dos impostos e despesas adicionais que poderá ter por causa disso. Como é que se começa? 

No final tem uma sugestão criativa de ganhar dinheiro de uma forma simples.

Para além de ouvir o episódio nas plataformas habituais

pode ouvir diretamente aqui:

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Além do episódio principal às segundas-feiras, às quartas-feiras respondo às vossas perguntas em áudio.  

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Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.

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