Se quiser investir é melhor um PPR ou um ETF? (Mês #4 – Outubro 2021)

Escrito por Pedro Andersson

28.10.21

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7 min de leitura

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PPR vs. ETF: Qual é melhor para investir a longo prazo? (Mês #4)

Confesso que não estava à espera de uma diferença tão grande entre os dois tipos de investimento em tão pouco tempo. Ainda não passou meio ano, mas os ETF estão – nesta foto no tempo – a ganhar por muitos. Claro que a diferença tem de se calcular mais à frente, só após 8 anos, por causa da diferença no valor dos impostos que ambos terão de pagar (8% dos PPR vs 28% dos ETF). Já estou a preparar esse gráfico.

Devo alertar, antes de mais, que estou a comparar 3 produtos específicos. Logo, não se trata “dos PPR” porque estou a comparar apenas um com uma fortíssima carga de ações (praticamente 100″%), com dois ETF de corretoras específicas que podem tem ligeiras diferenças de comissões de gestão e políticas de formação do índice em relação aos mesmos ETF de outras corretoras.  Seja como for, creio que ficará – como eu – com uma ideia bem real da comparação em tempo real dos dois tipos de produtos financeiros.

Vamos a contas. 

Se não faz ideia do que é um ETF, ouça este episódio do meu podcast: O que é um ETF?

O que é um ETF e porquê comparar com um PPR?

ETF, também conhecido como tracker, significa Exchange Traded Fund (fundos de índices cotados). É um produto que segue um índice, mercadoria, obrigação ou composição de produtos. É, no fundo, uma cesta de títulos que são cotados em bolsa, mas que não tem de comprar nem vender individualmente. Em vez de comprar legumes um a um, compra um cabaz por um preço médio. No caso dos legumes é para fazer uma sopa, no caso dos ETF é para os guardar e esperar que valorizem com o tempo (como se fossem peças de coleção ou um vinho que fica mais valioso com o tempo). 

Quanto aos PPR, creio que já todos ouvimos falar deles pelos benefícios fiscais ou porque fomos “obrigados” pelo banco para nos baixar o spread do crédito à habitação. Há os seguros PPR (que não rendem quase nada e que têm capital garantido) e os fundos PPR (que rendem muito mais, mas não têm capital garantido). Os fundos PPR refletem o que se passa nas bolsas nas ações, índices e obrigações que compõem cada PPR. Paga uma comissão de gestão a quem gere esses PPR, que vão alterando a composição do fundo PPR ao longo do tempo. A partir de 8 anos, o imposto sobre os lucros que tiver no momento do resgate é de apenas 8 por cento.

Os ETF são uma “média” do que acontece numa bolsa, bolsas, setores de atividade, países, regiões, etc. Ninguém gere nada e é o “espelho” do que acontecer nas bolsas. Subscrevem-se em corretoras ou bancos. Como ninguém compra e vende nada, as comissões desses índices são muito pequenas ou inexistentes.  No dia em que resgatar, paga sobre as mais valias 28%, como nos depósitos a prazo, e paga-os no IRS no ano seguinte (recebe menos ou paga mais).

Leia mais: Como escolhi os ETF e o PPR

Uns acham que os PPR mesmo que ganhem menos ao longo do tempo, compensam no final porque pagam muito menos imposto.

Outros acham que historicamente compensam mais os ETF porque como ninguém anda a comprar e a vender são cometidos menos erros de gestão e como as comissões são baixíssimas, no final o que crescem a mais compensa a fiscalidade mais vantajosa dos PPR.

O meu “teste do algodão”

O desafio que propus a mim próprio foi tentar descobrir a resposta com casos reais (que são os meus). Ou seja, se você escolher um PPR diferente dos meus ou escolher ETF diferentes dos meus, os seus resultados também serão obviamente diferentes. Mas pelo menos fica com uma ideia.

Escolhi um PPR com uma enorme percentagem de ações (95%) e os dois ETF mais conhecidos mundialmente. Os 3 foram subscritos no mesmo dia para que a análise seja o mais exata possível.

Os dados seguintes referem-se a 28 de outubro de 2021.

Repito que os ETF e o PPR foram subscritos em simultâneo com poucas horas de diferença na última semana de julho de 2021.

Como podem ver acima, passado 4 meses, o meu ETF SP500 está a crescer 7% (no mês anterior estava a crescer 2%) e o ETF “Mundo” (All-world) está a crescer 6% (mês passado 2%). 

Já se perguntou porque insiste em deixar a maior parte das suas poupanças (fora o seu Fundo de emergência) na conta à ordem ou numa conta a prazo a render NADA? Sim, não tem capital garantido, mas pondere arriscar um pouco, sabendo que vai oscilar ao longo do tempo. Neste dois casos, para perder a totalidade do dinheiro investido TODAS as 500 maiores empresas dos EUA teriam de ir à falência, ou todas as maiores empresas do mundo inteiro. Claro que o que investir vai subir e descer e pode em alguns momentos e durante certo tempo ter lá um saldo (muito) menor do que o valor que investiu. Nessas circunstâncias, é esperar com paciência que recupere. Não tem mais nenhum “truque”.

Para quem pergunta, subscrevo os meus ETF na plataforma digital Degiro. Digo-o por uma questão de transparência (não ganho nada com isto).

E o PPR?

O PPR “Save & Grow” da Casa de Investimentos é composto por 95% de ações das maiores e mais “seguras” empresas dos Estados Unidos, principalmente.

Seguem a estratégia do “investimento em valor”, ou seja só investem em empresas que são estáveis e com “garantia” de crescimento e que reforçam no PPR quando estão a bom preço. Na página deles encontra bem descrita toda esta estratégia que têm seguido ao longo dos anos. Finalmente, depois de 4 meses no vermelho, estão a regressar ao zero (ou seja, aos 1.000 euros que subscrevi). Estão até com um pequeníssimo lucro de 14 euros, mas o gráfico está sempre pelo menos um dia atrasado porque o valor que assumem é o do dia em que foi dada a ordem de subscrição e não do dia seguinte já com o valor do que ganhou.

Passados 4 meses, há uma diferença de pelo menos 6% entre o rendimento dos meus dois ETF e o meu PPR Save and Grow.

Naturalmente, é muito cedo para estar a fazer comparações, mas quero que acompanhe esta “corrida”. São estratégias completamente diferentes. O PPR escolhe especificamente as ações que compra e que vende a cada momento, e os ETF não fazem nada a não ser replicar a média dos EUA e do mundo. Logo, o Save & Grow vai ter muitos momentos de quedas superiores aos ETF e crescimentos superiores também. Aguardemos.

Comecei a fazer um gráfico Excel com a evolução dos juros que cada um está a render e mais abaixo o valor correspondente ao valor bruto proporcional ao juro de cada um numa carteira de 1.000 euros.

Assim que o PPR estiver em valores positivos farei outro com a perspectiva a longo prazo com a respectiva tributação diferenciada. Isso sim, é que fará a diferença. Mas será sempre uma previsão relativa ao valor que teriam na conta após 8 anos. Não corresponderá à realidade atual. É só para perceber a diferença, caso já tivessem passados os tais 8 anos, entre os 8% ou 28% de imposto sobre as mais valias..

Para já, olhando para os números, passados 4 meses, os ETF estão a ganhar a este PPR (tenho outros que estão a crescer mais ou a perder menos). 

(NOTA: Se estiver à espera dos meus resultados daqui a 8 anos para decidir se começa a investir o seu dinheiro e em quê, ainda não aprendeu nada com este blogue. Pense pela sua cabeça. O segredo está em informar-se e depois agir. Saber e não fazer nada é equivalente a não saber.)

Por onde começar a investir sem capital garantido (e ter a possibilidade de ter rentabilidades maiores)?

  1. Fazer um bom Fundo PPR (veja rendimentos e comissões, e defina o seu perfil – defensivo, moderado ou agressivo)
  2. Subscrever ETF
  3. Subscrever Fundos de Investimento

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12 Comentários

  1. Vitor Ferreira

    Ainda falta o benefício fiscal. Eu vou colocar esse benefício fiscal a render como se fosse juro composto

    Responder
  2. Nuno Ferreira

    Caro Hugo,

    Qual é a vantagem/estratégia para a sobreposição de dois ETF´s Mundiais? Vanguard/Ishares.

    Cumprimentos

    Responder
  3. João Silva

    Boa tarde, Pedro. Antes de mais muito obrigado pelo seu trabalho pela literacia financeira dos portugueses. Queria colocar uma questão relativamente à escolha dos ETF’s. A mesma designação de ETF existe em bolsas diferentes (no exemplo em questão a Degiro tem vários iShares Core S&P 500 UCITS ETF). A escolha da bolsa é um critério importante? Como é que faz essa seleção? Obrigado.

    Responder
    • Pedro Andersson

      Olá deve escolher uma bolsa com muitos utilizadores para vender rapidamente se precisar. Alemanha, Londres, nova Iorque. Pequeninas não, têm pouca liquidez.

      Responder
      • Carlos Rodrigues

        Preferencialmente deve escolher também um ETF denominado em euros para evitar os custos com cambios e de acumulação (que reinveste o lucro) porque se for de distribuição cada vez que recebe dividentos leva com os 28% de juros.
        Se os juros forem automaticamente reinvestidos só paga impostos quando levantar (que pode ser ao fim de vários anos).
        Paga 28% na mesma mas entretantos (ao longo dos varios anos que tenha tido o capital investido) esses juros reinvestidos estiveram a ganhar juros compostos. Por fim na Degiro paga uma taxa de conexão anual a cada bolsa onde tiver produtos. Assim, se decidir comprar mais de um ETF compre preferencialmente todos da mesma bolsa (ou se forem muitos do mínimo de bolsas possível) para pagar o mínimo de taxas possível.

        Responder
        • João Silva

          Muito obrigado aos dois pelos esclarecimentos!

          Responder
    • Marcos

      Boa tarde,

      No caso da Degiro, eles têm uma lista de ETFs grátis e estão em várias bolsas.
      Basta olhar à ETF que se quer da lista sem olhar à bolsa 😉

      Responder
  4. João Rodrigues

    Olá Pedro,

    Gostaria de perceber como funciona a parte fiscal no caso das mais-valias de etf e dividendos de ações.
    Apenas temos de declarar no irs os montantes que transferimos para a nossa conta bancária ou todos os movimentos do ano (mesmo que tenham sido reinvestidos, sem sair da corretora)?
    Para além disso, no caso da DeGiro, os montantes declarados serão provenientes da Holanda?
    Obrigado.

    Responder
  5. Bernardo

    Olá e parabéns pelo trabalho.

    E tendo em conta a possibilidade de resgate de parte do PPR para pagamento de crédito a habitação? Será isso uma possível vantagem em relação ao ETF. E fará sentido ter ambos os tipos de investimento (p e.x um ETF do SP500, e um PPR com 50% em obrigações, de forma a diversificar o risco)?

    Responder
    • Pedro Andersson

      Olá Bernardo. Todas essas opções são boas. Depende dos seus objetivos e do seu perfil de risco. Quando o “problema” é escolher entre duas boas opções estamos no bom caminho :). Ao planear pagar a prestação do Crédito “ganha” o benefício fiscal. Em princípio no ETF poderá ganhar mais a longo prazo, mas o PPR tem uma fiscalidade melhor. Como vê, este tipo de dilemas é agradável. Eu optei por colocar um pouco em cada opção. Tenho vários PPR e vários ETF. E escolhi não colocar no IRS para poder levantar quando quiser. Mas isso sou eu. Não tem de fazer igual 🙂

      Responder
      • Luís Henriques

        Mas supostamente não temos que declarar no IRS estes investimentos?

        Responder

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